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N.º 116, Nissan-Yiar 5703 (Mar-Abr 1943)







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               HA-LAPID                 5
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daquele Principe depois de desposado com
a Infanta, para possuir a qual tantas dili-
gências fizera por alguns anos? Que causa 
poderia haver para afrontar, os senhores e
cavaleiros portugueses, e, o que mais é de
admirar em uma época na qual as tradições
de cavalaria não tinham acabado de todo,
para maltratar tão indignamente não só a
Infanta mas as damas do seu séquito? Um
motivo houve, por certo, para tão repentina
mudança de proceder; para o saber con-
certeza debalde interrogariamos as trevas
do passado; mas pode aventurar-se uma
conjectura; a notícia dos amores da Infanta
com um cavaleiro português teriam chegado
aos ouvidos do senhor de Vallaison (Cláu-
dio) que revelaria a seu amo depois das
núpcias, o terrivel segrêdo que levara de
Portugal, porventura o receio de que entre
os que na viagem a acompanharam existisse
o seu rival, e de que alguma das damas o
favorecesse, viesse a acender o ciúme do
Duque, e o obrigasse a partir logo para o
Piemonte, embargando tão àsperamente o
passo aos cavaleiros que iam após êle, com
intenções cortezes. A leitura atenta da me-
mória que transcrevemos parece dar grande
pêso à conjectura que fazemos."

Conde de Sabugosa nas Donas de
Tempos idos, diz:

"Não custa a crer também que a ino-
cente beleza da Infanta seduzisse o impres-
sionável autor da Menina e Moça, que
saía dos serões do Paço cogitando naqueles
versos, que dizem:

Se nasci por meu mal ver
e não por vê-lo acabado
melhor fora não nascer
que ver-me desesperado.

Amaram-se? Foi Beatriz a desditosa
Aonia? Os críticos teimam em asseverar
que tal não podia ser fundados em argu-
mentos tirados dos próprios versos do poeta,
da comparação de datas (prováveis pois as
não há seguras para a vida de Bernardim
Ribeiro), e de motivos de ordem moral,
que nem sempre convencem, porque é sabido
que em matéria de sentimento não são im-
pedimentos nem a desproporção de idades.
Bem a desigualdade de jerarquias, nem
muitas outras considerações sociais.
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 



Para a memória da Infanta D. Beatriz, e
para o respeito que ela nos inspira nada
importaria que se tivesse deixado enterne-
cer pela platónica fantasia amorosa de um
poeta bem aceito na Corte, visto que a
própria História nos dá noticia de como
ela foi sempre intangível na sua reputação,
dedicada ao desageitado marido, e como
em Itália afastara suavemente, mas com
firmeza, êsse poeta que lhe apareceu no
Piemonte levado pela fôrça da sua pai-
xão".

Em tão excelente companhia nenhuma
dúvida tenho em afirmar que convicto
estou da veracidade dos amores sentimen-
tais de Bernardim com a infanta D. Beatriz,
mas vou continuando a citar outros auto-
res, que nos indicam elementos de utilidade
para o almejado fim.

                          (Continua).

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Catulle Mendes

Abraham Catulle Mendes, literato fran-
cês, poeta e comediógrafo. nasceu em Bor-
déus em 1847, e faleceu em 1909.

Seu pai chamava-se Tibulle Mendes e
sua mãe Reine.

Seu pai e seus ascendentes, vindos de
Portugal, eram banqueiros em Bordéus há
mais de 100 anos.

Eram judeus portugueses intelectuais que
emigraram da sua terra natal para evitar
perseguições da Inquisição, e assim conser-
varam intactas a sua liberdade de pensar, a
sua cultura e a sua elegância de espirito.
Na sua residência bordeleza existe um qua-
dro a óleo sóbrio e expressivo mostrando,
no centro duma biblioteca onde brilham os
tons quentes e os ouros extintos das enca-
dernações antigas, um homem de belo
aspecto, de discreta distinção, a larga fronte
tocada de luz, os traços bem marcados, e
que tem na mão a obra dum autor latino.
Tendo traduzido Tibulo e Catulo, tive a
idéia de dar o nome do primeiro a seu
filho e ao seu neto o nome do segundo.

Em Maio de 1939 a cidade de Bordéus
comemorou solenemente a recordação de
Catulle Mendes. Entre outras homena-
gens uma placa foi colocada na casa onde
nasceu.


 
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