8 HA-LAPID ========================================= da porta, perante o céu mudo, ela invocou uma última vez o Deus dos Justos. -Oh meu Deus, evita-me o luto! Por- que é que a tua severidade se encarniça sôbre mim? Os meus lábios nunca profe- riram blasfémias e as minhas mãos nunca espalharam a iniqüiedade. A tôda a hora do dia, eu abençou-o o teu santo Nome... E levantava os braços para tomar os céus em testemunha da sua angústia. -Quando os olhos gastos não puderam mais encher-se do com o esplendor do dia, é justo, oh meu Deus, que tu despaches a morte. Mas o meu filho ainda não conhe- ceu nenhuma felicidade. O meu pequeno partirá sem ter experimentado as alegrias dos tefilines, nem as de esposo, nem de perpetuar o seu nome. Ai! Os olhos que mal se abriram, que- res tu fecha-los para sempre? Se tu, con- tudo me deixares eu educa-lo-ei na tua crença, no teu amor. para a tua glória? Se eu mereço a tua ira, pune-me mesmo na minha carne, poupa, poupa o meu filho. Oh meu Deus! porque me concedes a ale- gria de ser mãe se tu me despedaças de- pois? ... Fere com a esterilidade as minhas entranhas malditas antes que de me dar esta dobrada ferida Ela chorou lágrimas mais numerosas que as estréias que a escutavam tremelu- sentes. Ao romper do dia, Ester levantou-se completamente curada. E à noite do mesmo dia, depois de ter esvasiado o seu peito o pequeno Mochi foi reünir-se aos dois anjos que lá nas alturas o esperavam ... Como todas as judias que, neste mês de Ab, deixam as suas jóias. Rebeca se viu despoiada do seu único enfeite. Junto da sua espôsa enlouquecida que o acusava de ter morto o seu filho e que repete a estranha frase: "A velha devorou o pequeno!". Choa, a quem uma tosse também minada surdamente, recitou as 1a- mentações de Job: Os dias de aflição atingiram-me... Quando eu esperava o bem, o mal veio para mim, quando eu esperava a claridade, as trevas vieram... O homem nascido da mulher é duma vida curta; éle sai como uma flor e que depois é cortada... (De L' Univers Israelita). Ryvel. ---------------------------------------- Os judeus nas Ordenações Afonsinas (CONTINUAÇÃO DO NÚMERO 114) TÍTULO XXVI Do Judeu, ou Mouro, que anda em hábito de Cristão, nomeando-se por Cristão Porque houvemos por informação, que alguns Mouros e Judeus se vestem em hábi- tos de Cristãos, nomeando-se por Cristãos. e conversando com êles nom sendo conhe- cidos por aquêles, que verdadeiramente são: e isto fazem por haverem azo de pecarem com algumas Cristãs, e fazerem mais ligei- ramente alguns outros malficios na Crístan- dade; e porque isto é grande mal, e coisa de mau exemplo: Pomos por Lei e manda- mos, que se algum Mouro, ou Judeu fôr achado na Cristandade em hábito de Cristão, nomeando-se por Cristão, e conversando com Cristãos, e por tal havido entre êles, que tal como éste logo por êle mesmo feito sem outra sentença seja nosso cativo, e possamos dêle fazer mercê a quem nos aprouver, assi como de coisa nossa. E se por ventura fôr achado, que no tempo que assi usava como Cristão, cometeu algum maleficio, por que mereça pena de justiça: Mandamos que se faça com éle a justiça. segundo for o maleflcio que houver come- tido; cá nom é nossa tenção, que por assi ser nosso servo. se deixe de fazer em êle justiça, se fez coisa porque a mereça.
N.º 116, Nissan-Yiar 5703 (Mar-Abr 1943)
> P08