6 HA-LAPID ========================================= A MORTE NÂO QUIS TROCAR Num humilde casebre, sem sol e alegria, no coração da Hara de Tunis. A' cabeceira da cama de seu filho. Re- beca, taciturna, meditava. Duas vezes, a morte veio-lhe arrebatar o querido fruto das suas entranhas. Ai! Que mal tinha ela feito? Porque pecado o Deus justo lhe reclamava êste horrivel resgate? Piedosa ela o era assim como seu marido, ambos viviam no respeito do Eterno e se afastavam do mal. Sem contudo se desesperar, ela nutriu a esperança duma próxima maternidade. E a criança veio. "Um filho"! exclamou a parteira agi- tando um pequeno ser todo côr-de-rosa que chilreava. Mas desta vez, a parteira não viu nos olhos dos pais éste orgulho judeu de ter um filho macho. Rebeca pedia com terror se tinha valido mais uma filha, pois que os seus filhos não escapavam. E Choa, seu marido, mascava o mesmo pensamento. Só a avó Ester tinha acolhido a criança por yu yu. No seu quarto, Rebeca tinha rasgado o papel cheio de sinais caballsticos, de peixes vermelhos, de versículos apropriados para afastar o mau olhado. No sangue ainda quente duma bezerra sacrificada, ela tinha molhado a sua mão, depois floriu as pare- des do seu quarto de impressões digitais. Ela tinha amamentado o seu filho com abundância; os mais vigilantes cuidados envolveram os seus primeiros anos e, como uma planta saciada de seiva, a criança de- senvolvia-se vigorosa e direita. No quinto ano o mesmo pressentimento os tragou, ela e seu marido. Ano fatal para os seus outros filhos, seria ela desta vez mais atendida? Deus compadecer-se-ia enfim da sua desgraça? O afoguiado das faces. o ardor vivo do olhar, o riso claro indicavam a saúde do pequeno Mochi. Mas no começo do Outono, Rebeca notou com aflição que seu filho emmagrecia. Para triunfar do mal sorrateiro, ela o -fartou de comida. Uma noite, um barulho igual, surdo como um choque dum mar- telo a acordou bruscamente: Mochi, no seu sono. tossia fracamente. A tosse! A tosse maldita! -Nenhuma dúvida: o mal horroroso habitava o peito do seu pequeno. Então ela aproximou-se dêle, ternamente o acon- chegou todo contra ela, oferecendo-lhe o calor tépido do seu seio. E desde então noite e dia sem descanso, a horrivel tosse pontuou a sua dor de mãe. Então ela mandou seu marido ir buscar o dou- tor. -Não o mesmo, tinha ela recomendado: ela queria crer que o médico que tinha tratado os seus outros filhos trazia a pouca sorte. Um outro veio, falou-lhes nos mesmo; têrmos velados. mas ai! tão claros para êles. tão claros! Durante um mês ela lutou, desespera- damente, sustentada pela sua fé no Eterno, que duas vezes desgraças sucessivas, idên- ticas, não tinha podido comover; ela lutava contra a sua rival macabra. E' porque ela estava a tornar-se má. Todo o dia ao pé de seu filho, ela assestava os seus olhos cheios de ódio sôbre aquêles que dela se aproximavam. Choa êle mesmo evitava o seu olhar duro onde se lia uma amarga censura. Hatati! (eu pequei), lhe gritava ela por momentos, mas tu não sabes senão rezar! no mal que nos arranca um atrás do outro a carne da nossa carne, tu não ofereces senão a arma frágil da oraçãp! Ela olhava a sua velha mãe Ester com mais severidade ainda; ela não lhe perdoava, dir-se-ía, de viver tanto tempo, de acumular anos sôbre anos, de ter enfim um poente tão duradouro quando, na aurora da sua vida, os seus pequenos, inexoràvelmente, eram ceifados. Para enternecer Deus clemente e para se fazer perdoar, ela jejuava. Ela privava-se de alimento na esperança mística que o que ela perdia das suas forças iriam para o seu filho. Ela deu dum jacto esta vida que ela gastava lentamente em transes e jejuns¡ Uma vizinha aconselhou-a de ir caiar o túmulo do Rabi Hai Bessis; o grande santo que em reconhecimento interviria em seu favor. Uma manhã dirigiu-se ao cemitério. arrancou as ervas que invadíam, e o tumulo
N.º 116, Nissan-Yiar 5703 (Mar-Abr 1943)
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