HA-LAPID 7 ==================================== conservado por as angústias das mães, tomou-se branco como uma mortalha. Mas o mal prosseguia na sua obra devorante. Uma outra lhe aconselhou de vender o seu filho; ela só se resignou a isso com pena; uma noite que a tosse extenuava o seu pequeno. ela correu à pressa bater à porta do habir Jossef (gato-piugado), o qual, mediante 12 piastras, consentiu em comprar a criança. E, desde então, tôdas as sextas-feiras, Jossef, levava à Rebeca o produto do seu peditório porque Mochi devia estar para o futuro ao encargo das boas almas piedosas. Mas o mal piorava sempre. Disseram-lhe que era uma praga rogada pelos invejosos. Para o conjurar, ela man- dou vir a melhor Kheffafa (benzedeira) da cidade. A exorcista tinha pôsto na sua mão direita um punhado de sal e recitou palavras misteriosas rodando a sua mão sobre a cabeça do doente, sete vezes para a direita e sete vezes para a esquerda. Depois Mochi tinha cuspido sôbre o sal; um delgado fiosinho sanguinolente nadava na saliva. Ai! Porque não tinha atendido à sua inquietação ? Ai! Cada dia mais sôbre a débil cria- tura, a morte infame aplicava as suas ventosas. Entretanto, tinha passado o cabo do inverno e, no coração doloroso da mãe, a Primavera ia fazer florir uma esperança efémera, como êle. Uma noite, com efeito. Rebeca notou gemidos que saiam do quarto onde sua mãe dormia. Dum salto, ela foi ao pé dela. -Mãe, que tens? -Minha filha, eu sufoco. Ai! É aqui, parece-me que me puseram um saco de chumbo! E a velha torcia-se sôbre a sua cama baixa. Uma alegria maldosa estremeceu no coração de Rebeca. Milagre! Sua mãe tinha o mesmo mal de seu filho! Muito baixo, ela agradecia a Deus compassivo que aceitava tomar a avó em lugar do Pequeno. Sem dúvida, pensou ela, como- vida das minhas ínfelicidades, ela ofereceu-se Em sacrifício, nas suas preces. E o Eterno, que rejeitou os meus votos, atendeu os seus. Rebeca pegou nas suas mãos a mão descarnada e levou aos seus lábios. -Mãel Mãe! murmurava ela, cheia de alegria e de dor, cobrindo-a com os seus beijos e com as suas lágrimas. No dia seguinte, a tosse tinha acalmado bruscamente; a esperança inundou o seu coração. Mas eis que, fatigada, Ester exi- gia que a tratassem, que a socorressem, e Rebeca consternada, repartia-se entre seu filho e sua mãe. Uma multidão de idéias confusas acometia o seu espirito. A mesma vizinha, que lhe havia aconse- lhado de vender o seu filho, segredou-lhe uma noite ao ouvido: -Oh! minha irmã, deves recear que Ester se cure antes de Mochi. O provér- bio diz: "Se o velho se levanta antes, êle devorará o pequeno". E desde que ouviu isto, Rebeca, que nisso pensava com abalo viu crescer a sua angústia. Dilema pungente! Alternativa cruel! Sua mãe ou seu filho! Ai! como ela se oferecer-se-ia com entusiasmo em seu lugar! Mas a morte, instalada à cabeceira da cama dos doentes, reclamava um dos dois, com extrêma avidez. Rebeca via a sua mãe lutar àsperamente contra o abraço gelado, em quanto que o seu pequeno se abandonava sem defesa. Ela tratava descuidadamente a sua mãe, não por vontade determinada, nem por desejo inconfessavel, mas porque, primeira- mente, ela devia salvar o seu filho. Entretanto, Choa, por caridade. substi- tuia a sua mulher ao pé da doente. Éle estava todo o dia sentado numa esteira e e rezava. Logo que a ouvia queixar-se, levantava-se, dava-lhe o remédio, arranjava a coberta sôbre o seu corpo emmagrecido. -Que Deus te abençoe. meu filho! -Que Deus afaste de nós o mal! repe- tia êle baixinho. E a velha, uma tarde de Verão, levan- tou-se com fome. Rebeca viu-a aparecer bruscamente no seu quarto! Á sua vista. ela estremeceu, e deu um grito rouco. O quê? Deus arrepender-se-ia? Sua mãe lastimaria. de repente, o seu sacrifício? No último momento, o terror ter-lhe-ía feito recuar? Essa noite. Mochi tossiu mais do que o costume: o lenço com o qual ela lhe enxu- gava os lábios tingiu-se de vermelho. Doida de dor. Rebeca deixou o quarto, abriu a porta da rua e, de joelhos sobre a soleira
N.º 116, Nissan-Yiar 5703 (Mar-Abr 1943)
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