N.° 116 PORTO - Luas de Março e Abril - 5703 (1943 e. v.) ANO XVII ============================================================================================================= Tudo se ilumina _______ ___ _______ |=|____ _______ ...alumia-vos para aquele que |____ ||_ || ___ ||____ ||_____ | e aponta-vos o busca a luz. | | |_| \_\ | | / / _ | | caminho. | | _____| | / / | | | | BEN-ROSH |_| |_______| /_/ |_| |_| BEN-ROSH (HA-LAPID) O FACHO ------------------------------------------------------------------------------------------------------------- DIRECT. E EDITOR: -A. C. DE BARROS BASTO (BEN-ROSH) || COMPOSTO E IMPRESSO NA IMPRENSA MODERNA, L.DA Redacção na Sinagoga Kadoorie Mekor Haim || Rua da Fábrica, 80 Rua Guerra Junqueiro, 340 - Porto || ------------------- P O R T O ------------------- ------------------------------------------------------------------------------------------------------------- A misteriosa personalidade de Bernardim Ribeiro (O TROVADOR DO AMOR E DA SAUDADE) POR A. C. DE BARROS BASTO CAPÍTULO 1 Os primeiros passos duma investigação Nos primeiros anos da nossa mocidade, nesse tempo em que em nosso peito a flor do amor abria as suas pétalas, as obras de Bernardim Ribeiro deleitaram a nossa alma, e nela deixaram uma impressão tão profunda e indelével, que, quando já as cans ornam a nossa fronte, se a memória nos fala dêsse trovador do amor e da saüdade, ainda o nosso coração evoca a sua sentimental per- sonalidade com uma não menos terna e sentida saudade. Foi pois com aprazimento que li o estudo sobre Bernardim, feito pelo Dr. José Tei- xeira Rêgo e publicado no Diário de Notí- cias, (Lisboa, 7 de Novembro de 1925) e reproduzido na sua obra "Estudos e Con- trovérsias", (Pôrto. 1931). Não só pelo ali exposto, como também por conversas que tive com o autor, destaquei três pontos principais na sua tese: 1.a-Bernardim Ribeiro era um judeu, ou melhor um cristão-novo. 2.a-Era da familia de Abrabanel. 3.a-Era Judah Abrabanel, o célebre Leão Hebreu, autor dos "Diálogos de Amor". A sua primeira afirmação estava para mim perfeitamente provada; a terceira regei- tei-a imediatamente porque Judah Abrabanel fora sempre judeu e nunca um converso ao cristianismo, nunca podia como judeu fre- quentar o paço de D. Manuel depois do decreto da expulsão e também porque nesse tempo estava em Itália; quanto à segunda afirmação era preciso procurar um Abraba- nel que tivesse sido cristão-novo. Andando com isto no pensamento, subitamente uma idéia me surgiu e que me mostrou que Tei- xeira Rêgo seguira uma boa pista. Havia um Abrabanel que fora cristão-novo e êsse era nada mais e nada menos que o filho de Judah Abrabanel (Leão Hebreu) que fóra mandado para Portugal, por seu próprio pai, com um ano de idade acompanhado por uma ama nos últimos dias de Julho ou primeiros de Agosto de 1492, por oca- sião da expulsão dos judeus de Espanha. D. João II teve conhecimento da vinda desta criança para o seu reino e deu ordem para se apoderarem dela, e que feito foi. D. Ma- nuel depois mandou baptizar éste rapazito que se chamava Isaac, como seu avô, e deu-lhe um nome de baptismo e um ape- lido diferentes dos que tinha. Tudo isto nos é relatado pelo próprio Judah Abraha- nel no seu poemeto hebraico "Lamentação sôbre o Destino".
N.º 116, Nissan-Yiar 5703 (Mar-Abr 1943)
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