HA-LAPID ========================================== II Desde que nós tenhamos compreen- dido a razao de ser de Kipur e as condi- ções nas quais ele deve ser observado, nos tomaremos sentido facilmente nas ceri- mónias ordenadas outrora aos israelitas em Jerusalem. Nós vimos que Kipur tem por fim fazer penetrar em nós uma verdadeira contrição, um arrependimento sincero. Tudo para isso concorria nos ritos religiosos dos antigos hebreus. Kipur, chamado pela lei um sábado solene, era cercado por uma pompa austera e grave. Não eram santos regozijos, como nas três festas de Páscoa, de pentecostes e das Cabanas, mas cerimónias ao mesmo tempo severas e majestosas. Um repouso absoluto era ordenado; não era permitido sequer rompe-lo para preparar a nossa alimentação. Nós de- víamos entregarmo-nos ao jejum, como se quisessemos de certa maneira quebrar com a terra e com as nossas necessidades, para melhor se elevar pensamentos em ordem superior. Com o fim de tornar mais im- ponente o oficio religioso celebrado no templo, era ordenado ao Grande Sacerdote de funcionar pessoalmente. Todo o ser- viço do santuário era até, segundo a tra- dição, preenchido por ele durante todo o dia, de Kipur. Após uma primeira ablu- ção, o Grande Sacerdote vestido com uma simples túnica de linho branco, oferecia -em sacrifício um bezerro para expiar as suas faltas pessoais e as da sua familia. Purificado ele próprio por esta cerimónia simbólica, ele podia fazer-se órgão do povo e pedir ao Senhor um perdão solene para todas as assembleias. Ele penetrava então uma primeira vez no Santo dos santos, ali fazia queimar incenso perante a arca da aliança, e dali saía pouco depois para cumprir os ritos expiatórios em favor de Israel. Dois bodeš lhe eram apresentados em nome do povo; tirando as sortes ele designava o que devia ser sacrificado ao Senhor, ele o imolava, e apresentava-se uma segunda vez perante a arca de aliança. Quando o Grande Sacerdote tinha dei- xado o Santo dos santos traziam-lhe o bode que ficara vivo; a sorte tinha-o desi- gnado para Hazazel; o pontífice punha as suas duas mãos šobre a cabeça este ani- mal e pronunciava muito alto a confissão geral dos pecados do povo; o bode acha- va-se carregado deles de certa maneira, e devia levá-los consigo para o deserto, onde ele ia ser conduzido. Durante esta confissão o Grande Sacerdote pedia ao Senhor o perdão dos culpados; e a toda a assembleia, da qual ele era o augusto interprete, se prostrava com a face contra a terra, ouvindo o nome inefàvel da Divin- dade. Era depois desta oração que o bode destinado a Hazazel era conduzido ao deserto. Que significa esta misteriosa cerimó- nia? O que e este rito ordenado pela lei de nossos pais? O culto antigo dos He- breus se servia, para fazer impressão sôbre os espiritos dos homens, de cerimónias expressivas que bastava ve-las para lhes compreender o sentido e o alcance. Tudo era simbólico e representação. O Grande Sacerdote, intermediário entre o Senhor e o povo, trazia sobre a sua tiara o nome de Deus e sôbre o seu peito o das doze tribos. O pão ázimo, amassado e cozido a pressa, lembrava as misérias do Egito e a precipitação da partida. A festa das Cabanas era a recordação da longa per- manencia no deserto debaixo das cabanas de folhagens. Se se encontrava no campo uma pessoa assassinada e que o matador era desconhecido, o chefe do povo ofere- cia publicamente um sacrifício e lavava as suas mãos sôbre a vitima para declinar toda a parte a impunidade do crime. Um leproso se apresentava no santuário apos a sua cura, ele trazia duas pombas uma era colocada sôbre o altar, outra posta em liberdade, voava, representando a impureza do leproso que desaparecia. A cerimónia do bode emissário enviado a Hazazel era tambem um simbolo. Ela tinha para todo o povo o mesmo sentido que a oferenda das duas pombas para o leproso. Quando o bode destinado ao Senhor tinha sido imolado, o outro era votado à destruição (Hazazel). A impu- reza, simbolizada pela pomba, voou e não existe mais. O pecado, representado pelo bode emissário, deve ser expressamente destruido. Tambem o bode não era dei- xado em liberdade, mas conduzido ao deserto e lá precipitado, segundo a tradi- ção, num abismo, onde ele perecia ime- diatamente. Depois do cumprimento deste rito todo
N.º 119, Tishri-Heshvan 5704 (Set-Out 1943)
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