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N.º 119, Tishri-Heshvan 5704 (Set-Out 1943)







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               HA-LAPID
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                  II

Desde que nós tenhamos compreen-
dido a razao de ser de Kipur e as condi-
ções nas quais ele deve ser observado,
nos tomaremos sentido facilmente nas ceri-
mónias ordenadas outrora aos israelitas em
Jerusalem. Nós vimos que Kipur tem por
fim fazer penetrar em nós uma verdadeira
contrição, um arrependimento sincero. Tudo
para isso concorria nos ritos religiosos dos
antigos hebreus. Kipur, chamado pela lei
um sábado solene, era cercado por uma
pompa austera e grave.

Não eram santos regozijos, como nas
três festas de Páscoa, de pentecostes e das
Cabanas, mas cerimónias ao mesmo tempo
severas e majestosas.

Um repouso absoluto era ordenado;
não era permitido sequer rompe-lo para
preparar a nossa alimentação. Nós de-
víamos entregarmo-nos ao jejum, como se
quisessemos de certa maneira quebrar com
a terra e com as nossas necessidades, para
melhor se elevar pensamentos em ordem
superior. Com o fim de tornar mais im-
ponente o oficio religioso celebrado no
templo, era ordenado ao Grande Sacerdote
de funcionar pessoalmente. Todo o ser-
viço do santuário era até, segundo a tra-
dição, preenchido por ele durante todo o
dia, de Kipur. Após uma primeira ablu-
ção, o Grande Sacerdote vestido com uma
simples túnica de linho branco, oferecia
-em sacrifício um bezerro para expiar as
suas faltas pessoais e as da sua familia.
Purificado ele próprio por esta cerimónia
simbólica, ele podia fazer-se órgão do povo
e pedir ao Senhor um perdão solene para
todas as assembleias. Ele penetrava então
uma primeira vez no Santo dos santos, ali
fazia queimar incenso perante a arca da
aliança, e dali saía pouco depois para
cumprir os ritos expiatórios em favor de
Israel. Dois bodeš lhe eram apresentados
em nome do povo; tirando as sortes ele
designava o que devia ser sacrificado ao
Senhor, ele o imolava, e apresentava-se
uma segunda vez perante a arca de aliança.
Quando o Grande Sacerdote tinha dei-
xado o Santo dos santos traziam-lhe o
bode que ficara vivo; a sorte tinha-o desi-
gnado para Hazazel; o pontífice punha as
suas duas mãos šobre a cabeça este ani-
mal e pronunciava muito alto a confissão



geral dos pecados do povo; o bode acha-
va-se carregado deles de certa maneira, e
devia levá-los consigo para o deserto,
onde ele ia ser conduzido. Durante esta
confissão o Grande Sacerdote pedia ao
Senhor o perdão dos culpados; e a toda a
assembleia, da qual ele era o augusto
interprete, se prostrava com a face contra
a terra, ouvindo o nome inefàvel da Divin-
dade. Era depois desta oração que o
bode destinado a Hazazel era conduzido
ao deserto.

Que significa esta misteriosa cerimó-
nia? O que e este rito ordenado pela lei
de nossos pais? O culto antigo dos He-
breus se servia, para fazer impressão sôbre
os espiritos dos homens, de cerimónias
expressivas que bastava ve-las para lhes
compreender o sentido e o alcance. Tudo
era simbólico e representação. O Grande
Sacerdote, intermediário entre o Senhor e
o povo, trazia sobre a sua tiara o nome de
Deus e sôbre o seu peito o das doze
tribos. O pão ázimo, amassado e cozido
a pressa, lembrava as misérias do Egito
e a precipitação da partida. A festa das
Cabanas era a recordação da longa per-
manencia no deserto debaixo das cabanas
de folhagens. Se se encontrava no campo
uma pessoa assassinada e que o matador
era desconhecido, o chefe do povo ofere-
cia publicamente um sacrifício e lavava as
suas mãos sôbre a vitima para declinar
toda a parte a impunidade do crime. Um
leproso se apresentava no santuário apos
a sua cura, ele trazia duas pombas uma
era colocada sôbre o altar, outra posta em
liberdade, voava, representando a impureza
do leproso que desaparecia.

A cerimónia do bode emissário enviado
a Hazazel era tambem um simbolo. Ela
tinha para todo o povo o mesmo sentido
que a oferenda das duas pombas para o
leproso. Quando o bode destinado ao
Senhor tinha sido imolado, o outro era
votado à destruição (Hazazel). A impu-
reza, simbolizada pela pomba, voou e não
existe mais. O pecado, representado pelo
bode emissário, deve ser expressamente
destruido. Tambem o bode não era dei-
xado em liberdade, mas conduzido ao
deserto e lá precipitado, segundo a tradi-
ção, num abismo, onde ele perecia ime-
diatamente.

Depois do cumprimento deste rito todo


 
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