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N.º 119, Tishri-Heshvan 5704 (Set-Out 1943)







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 4            HA-LAPID
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           O Gato devoto

            CONTO JUDAICO

           POR I. L. PERETZ

Havia numa casa três passaros canto-
res que todos três foram, um apos outro,
maltratados pelo gato.

Não era um gato vulgar, mas um gato
verdadeiramente devoto, tambem não era
sem motivo que ele usava a alva, a can-
dida vestimenta imaculada e tinha olhos
onde se reflectia todo o céu.

Era um gato piedoso, um gato que
fazia as suas abluções. Dez vezes por
dia ele se lavava, e comia muito vagaro-
samente, acaçapado a um canto. Durante
todo o dia, um pedacinho de qualquer
lacticínio encontrado aqui e acola lhe bas-
tava e só quando era chegada a noite era
que comia carne, da boa carne licita de
rato...

E pois ele não se apressava na come-
doria como os de baixa especie. Êle não
se apressáva, nem se empanturrava como
fazem os glutões, mas comia lentamente,
gozando com isso. Que viva ainda um
momento o rato, ainda um minuto; que
dance ainda um pouco, que trema e que
faça a sua suprema confissão; um gato
piedoso não se apressa.

Quando trouxeram o primeiro pássaro
para a casa, o gato sentiu imediatamente
por ele uma grande piedade; ele tinha o
coração contricto.

- E tão bonito, gemia ele, tão pequeno;
e dizer um pássaro tão gracíoso não gozará
das alegrias celestes. Isto não pode me-
recer o ceu! Isto diz o gato com convic-



ção. Primeiramente porque isto se lava
duma maneira bem laica, isto mergulha
todo o seu corpo numa terrina com água.

Depois, só o facto de ser pôsto numa
gaiola demonstra que é um bicho mau.
Apesar de ainda ser novo, meigo e bom,
este pássaro cantor mostra já mais incli-
nação para a violencia do que para a
submissão!

Agora que dizer deste canto, este canto
atrevido, este assobiar e esta maneira des-
respeitosa de olhar direito para o céu!
E estes esforços para partir a gaiola, para
voar para o mundo ímpio, para o ar livre;
e este olhar voltado para a janela aberta!...

Já alguem viu um gato encerrado numa
gaiola? Um gato piedoso ousou alguma
vez assobiar tão descaramento?

-Contudo e pena, suspira o terno
coração do gato devoto; não é um ser
vivo, uma alma preciosa, uma centelha lá
de cima!

Lágrimas molharam os olhos do pie-
doso gato:

-E toda a desgraça vem de que este
corpo lmpio é tão bonito, tão atraido para
os gozos terrestres e que o Espirito de
Tentação tem tanto poder sôbre ele.

Como um passarinho tão meigo pode-
ria resistir a este temível Espirito de Ten-
tação! E quanto mais isto vive, tanto mais
isto comete pecados e tanto maior será o
castigo...

Ah! exclamou ele.



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representativo, o Grande Sacerdote puri-
ficava-se por uma nova ablução, tirava os
seus vestidos de linho, cobria-se com as
suas vestes pontificais e voltava ao altar
para continuar o seu serviço. Esta puri-
ficação, estas vestes mudadas significava
que depois da destruição do pecado, o
perdão do Senhor faz do culpado um novo
homem. O povo, liberto das suas iniqui-



dades, obtinha a graça de Deus e torna-
va-se puro. Profundamente penetrado pela
majestade do espectáculo que se lhe ofere-
cia durante este dia solene, ele experimen-
tava infallvelmenre o sentimento de arre-
pendimento que o culto público de Kipur
tinha por fim de excitar nele e assim
reconciliar-se com o Eterno.

                             (continua)


 
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