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Ha-Lapid הלפיד


N.º 121, Shevat-Adar 5704 (Jan-Fev 1944)







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              HA-LAPID              5
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     A oitava secção do inferno

           CONTO JUDAICO

         POR I. L. PERETZ

Fatigado, quebrado, estendi-me sobre o
meu divã; procuro lembrar-me do que se
passou... Assisti a uma reunião... Falei
ali. As minhas palavras eram fogo e cha-
mas... Rápidas, as flechas voavam da mi-
nha boca e, com uma espada nua e afiada,
eu parecia ameaçar a multidão.

Eu falo e escuto o que digo: escuto e
estou encantado.

Pois não sou eu um herói? Não sou
eu que parto para a guerra por tudo o que
e belo e bom? Eu só o defensor da liber-
dade e todas as boas, doces e divinas coisas
que certamente estão longe de nós ainda,
mas das quais nos aproximamos cada vez
mais... Arranco a mascara à mentira e
prego-a no pelourinho: eu rasgo o belo
véu com que ela enfeita e eis-la nua, cheia
de chagas e de vergonha...

De repente calo-me. A formidável po-
tência enfraqueceu em mim, o fogo extin-
guiu-se e a minha língua tornou-se como
de chumbo.

Que tenho eu? Falando eu, levantei os
olhos e vi-me num espelho. Os meus
olhos tinham um mau clarão; um fogo bri-
lhava debaixo das minhas pestanas, um fogo
impuro. Não eram já os meus olhos!

Uma vez eu vi uns semelhantes...
Mas Onde?...

Ah! Sim. recordo-me... Era no quar-
tel: chibatavam um soldado. Os seus cama-
radas, que o castigavam, tinham olhos
assim. E êstes pareciam dizer: - "hoje
somos nós que te chibatamos, amanhã serás
tu que terás a chibata. Pois bem, apanha
uma para amanhã!

Sim, eu o vi bem no espelho, eu não
me assemelharei a um herói do futuro, mas
antes a um simples criminoso que se encar-
niça sôbre a sua vítima.

Então eu calo-me.-E os meus audi-
tores?

Êles respiram livremente. Era como se
uma pesada pedra acabasse de cair dos seus



peitos oprimidos! Eles sentiram-se satis-
feitos, como os animais nos campos depois
da tempestade; como também as crianças
na obscuridade, quando lhes trazem luz;
como o coxo encostado a um muro sem
poder mexer-se, ao qual de repente lhe dão
um bengala e uma muleta!

Pois, são os mal estares sentimentais e
os olhares ternos que recomeçam. Um
rapaz aproxima-se galantemente duma rapa-
riga, e tomando-lhe o braço:--Você dá
licença agora?" diz êle.

Ele faz um sinal com a linda cabeça e
com um doce sorriso, ela diz: -"Sím,
agora..."

Eu fugi da sala!

Fatigado, quebrado, estendi-me sôbre o
divã. A lua corre no céu; de tempos a
tempos ela olha para mim furtivamente
através da janela.

Alguns dizem que o luar é um remédio
contra os pensamentos que nos roem o
espirito, contra as angústias que nos que-
brantam o coração.

Mas eu, ri-me dela, da sua claridade, de
todas as angústias do coração, e até de
todas as reüniões do mundo inteiro.

Mas como eu não estava agora numa
reünião e que eu não podia esconder à face
da lua, eu tomei o partido de olhos para o
teto. Mas, que é isto? Dois olhos saíem
da parede e olham-me fixamente.

A lua feiticeira! É êle que graceja
assim comigo.

Contudo a quem pertencem êstes olhos?
São os olhos dos soldados que chibatavam
os seus camaradas e os dessas raparigas,
que. quando eu passava na sala se juntavam
à minha volta.

-"Repousa tu um pouco, tu o herói!
não queres tu uma gota de mel, algum
doce? Vem, repousa um momento!"

Os seus olhos não me olham com ira.
Contudo êles nada têm de benevolentes,
nada. Êles estão enquadrados num rosto


 
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