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Ha-Lapid הלפיד


N.º 121, Shevat-Adar 5704 (Jan-Fev 1944)







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              HA-LAPID                7
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Escuta~me pois:

Pega-se num homem apressado, por
exemplo, como tu e põem-no completa- 
ente nu junto duma montanha de neve.
Ele fica assim um momento, mas daí a
pouco um pensamento lhe surge: -Se eu
fizesse derreter a neve, para fazer água?
E uma vez que êle tem esta idéia na cabeça.
ela se torna imediatamente desejo, paixão,
o homem quer já transformar a neve em
água, e quando êle o quer, não há regras
que o impeçam? E se êle o deve fazer, o
fará. Vá, não é êle um herói glorioso?

Então êle põe-se a aquecer a neve com
o seu corpo. Êle abraça-a, êle se encosta a
e1a e dá-lhe tôda a sua respiração; êle mer-
gulha nela corpo e alma dizendo consigo:
-Tálvez eu a farei derreter apesar de tudo,
talvez mesmo uma centena de anos...
Todo o calor do seu corpo, tôda a sua
alma, tôda a sua vida êle a da à neve, à
montanha de neve.

-Há, sem dúvida, diabos e diabas
que de varas na mão, o forçam a fazer
isso?

-De modo nenhum! Eu te disse já:
nada de chibatas na oitava secção! A von-
tade do homem, o seu instinto, eis o melhor
chicote!

E ei-lo que se põe a amar a neve como
a sua própria vida... A neve é a sua
alegria, é todo o fim, a sua esperança.
Êle bem sabe que a neve, tal como é, é des-
graçada, como ela seria feliz no dia em que
fosse derretida, que ela se tornasse água...
porque a água é a felicidade, a agua é a
alegria; tudo o que corre, o que funde...
Sim. sim!

-E depois?

-Tu vais ver.

-Pegam noutro homem e põem-no
num campo barrento e lamacento. Lá em
cima e sobre a sua cabeça está um céu
maravilhoso. A vista não enxerga a menor
nuvem. Também é êle muito unido, vazio.
Nada de sol, nada de lua, nem uma estréia,
nem a via láctea sequer. Mas. para dizer a
verdade, não é um céu, isto é uma espécie
de pano estendido através o céu.

Os seus pés enterraram-se no barro e
na lama. E neste sinistro deserto êle é o
único homem, o único ser vivo, o único
que sente, reflete e pensa!

De repente a solidão começa a pesar-lhe;
êle aflige-se de estar só, e vem-lhe o desejo 
de criar vida, de dar um sopro, uma alma
ao que se encontra à sua volta.

Lá em baixo, enquanto vivia, êle sofria
por milhares de homens, sua acção gigante
abraçava multidões, a sua alma era alma de
milhões! Éle sente, como o Senhor, êle
quer conduzir para o bem a Criação. E o
que o Criador fêz, êle o faz também.

Êle apanha pó, do barro e da lama, êle
as amassa por minuto tempo e faz dêles ...
o que quer êle fazer? São aves que êle
forma, aves com asas! O homem sem asas
é, a seus olhos, nulo... Pois êle faz uma
águia! É assim que êle criava aves, pri-
meiro pequenas, mas com asas. Antes de
tudo, é o corpo que êle molda, depois êle
lhes insufla a sua própria alma. E êle se
anima, as aves! Cheio de alegria, êle lhes
grita: "voai, voai, minhas aves, voai no
espaço!"

Ai! as aves não voam. Elas rastejam na
terra, na lama, buscando vermes para se
alimentarem... Mas êles não encontram e
e morrem de fome.

E se encontram algumas aves que se
elevam nos ares, e voam um pouco são um
macho e uma fêmea; êles brincam, e riem . . .
Êle, lhes grita: "Para o céu! Para o céu!"

Eles continuam a rir...

Raivando de cólera, êle apanha barro
que lhe atira e os abate; depois faz outras
aves.

O campo cobre-se de cadáveres. As
aves mortas amontoam-se... A' volta
dêle e a perder de vista cadáveres, nada
mais que cadáveres...

-O desgraçado!

-Prende um homem culpado de peca-
dos e lançam-no numa fossa com cães.

-E êles comem-no vivo?

-A Deus não agrada! Eles estão esfo-
meados, os cães, mas êles não o comem.
Então êle pôs-se a falar a estes animais
esfomeados. Porque é um profeta de cães!

Primeiramente êle lhes fala na lingua
dêles; depois quando éles começam a
compreendê-lo, êle então mete no seu dis-
curso algumas palavras humanas.

E êle fica assim horas a pregar-lhes, sem
os perder de vista.

A mudança opera-se duma maneira inces-
sante: as espécies se transformam. Eis que
de cães êle faz homens! Um dos cães já
se ergue sôbre duas patas; dois outros aca-
riciam-se com os peitos. Um outro ladra


 
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