2 HA-LAPlD ========================================= A NEOMÉNIA (Lua Nova) DE NISSAN "Este mês será para vós o primeiro dos meses" (Exôdo, XII, 2). Assim começa o capítulo especial que a Sinagoga prescreve para ler depois da sec- ção do dia, no sábado que precede o primeiro de Nissan. A instrução dada por Moisés aos hebreus em vista à primeira Páscoa. Pesah Miçraim, serve, cada ano de introdução a êste mês privilegiado entre todos que nos trazem os eflúvios bemvindos da primavera. Desde muito tempo a religião de Israel solenizou os começos de mês. Era festa para os nossos antepassados quando, os olhos levantados para as extensões celestes, êles enxergavam, no momento esperado, a claridade nascente do primeiro crescente de lua brilhante de novo no firmamento. Êste indicio de ordem e de harmonia, êste sinal aparecendo periodicamente entre o exército das constelações, espectáculo que comove sempre a sensibilidade dos seres inclinados à contemplação, guiavam as almas para o respeito da Omnipotência criadora, à pie- dade e à humildade: "Quando eu contem- plo os céus, obra da tua mão, a lua e as estréias, que tu formaste... que é pois o homem, que tu pensas nêle, o filho de Adão, que tu proteges? (Psalmo VIII). Mas um sentimento de gratidão predo- minava, pela convicção de que o facho nocturno, cujo clarão fiel não se extingue senão para se reacender, desempenha o seu papel regulador e benéfico na vida religiosa. E é porque nós vemos mencionada na Escritura, ao lado do sábado e das festas. os regosijos da Neoménia, e é porque o profeta anuncia, numa visão de alegria, a época em que, de Neoménia em Neoménia, de sábado em sábado, toda a criatura virá prostrar-se perante o Senhor. Nos nossos dias ainda, fiéis a uma tradi- ção constante, nós saudamos a aproximação do mês que vai nascer, com palavras de bom' agoiro._onde se exprimem a despeito de experiências muitas vezes dolorosas, de provas ou de decepções, os nossos votos e as nossas esperanças sempre renascidas, e no dia da Neoménia os hinos sinagogais dando graças a Aquêle que faz reinar a ordem e a beleza nos espaços siderais. Mas de todas as neoménias, a mais ale- gremente acolhida, é a de Nissan, o mas em que os raios mais ardentes do sol vêm reanimar a natureza entorpecida, atestar a vitalidade triunfante da criação, a regulari- dade do seu curso, a permanência das suas leis. É neste mês que se deixa melhor aperceber o hino de gratidão que entoa o psalmista, intérprete não só do seu povo, mas de todo o género humano e de tôda a criação. Nesta estação de desenvolvimento rápido, de eclosão irresistível, uma espécie de exal- tação universal parece espalhar-se em todos os seres, e vêm tornar leve o próprio fardo daqueles que o sofrimento oprime, sugere mais confiança na vida e naquele que dis- põe soberanamente, em regra, e detém o seu curso segundo um plano que fica para nós misterioso. Mas cada mês, cada étape mais para o fim designado a cada um, pode para almas sérias e para as consciências desejosas de progresso, tornar-se uma ocasião de renas- cimento e de aperfeiçoamento. As fórmulas litúrgicas da bênção do mês no oficio de sábado que precede Rosh H'odesh (Cabeço do mês) pede que os dias próximos sejam sómente favorecidos do beneficio duma exis- tência pacífica e próspera, isenta de humi- lhação, plena de força e dignidade, mas marcada também por um avanço no caminho do respeito pela Lei e pelo temor de Deus. Nissan e particularmente apto a sugerir tais sentimentos. Mês da germinação das espigas nutritivas da floração nova sobre o solo reverdejante, convida a tornar os luga- res limpos não só na consciência como na morada, para um esforço corajoso das fôrças e da faculdade da alma, para uma nova fase de actividade, produtora de bem- -estar e salutar para as outras como para si próprio, se a Lei é obedecida a disciplina salvaguardada, se os olhares ficam valente- mente voltados para os cumes da vida espi- ritual e moral. J. Weil. (de l'Univers Israelite).
N.º 122, Nissan-Yiar 5704 (Mar-Abr 1944)
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