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Ha-Lapid הלפיד


N.º 122, Nissan-Yiar 5704 (Mar-Abr 1944)







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              HA-LAPID                7
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assim que cantava o nosso mestre, de bem-
aventurada memória."

A lição foi interrompida pela chegada
dum rapazola alto de cabelo esguedelhado
e que tinha por cinto uma corda: um moço
de recados. Êle entrou na sala do seminá-
rio, pousou na mesa ao lado do Reitor um
prato de sopa e um bocado de pão, dizendo
com voz grossa:

-"O Sr. Tevil manda de comer para
o Reitor." Depois voltou-se, acrescentando
já à porta:- "Depois voltarei buscar o
prato."

Posto bem longe da harmonia divina
pela voz grossa do homem, o Reitor levan-
tou-se lentamente e arrastando as suas gran-
des botas, foi lavar as mãos à fonte.

Contudo êle continuava a falar mas com
menos entusiasmo. Do seu lugar o disci-
pulo o seguia, de ouvido atento, os olhos
ardentes e mergulhados no sonho.

-Infelizmente, diz ainda Rabi Yekel
com uma voz triste, ainda não me foi con-
cedido conceber a que grau isto pertence,
nem a que portas celestes isso conduz. Vês
tu, acrescentou êle com um sorriso, as ma-
cerações e as mortificações necessárias para
chegar a isso, eu as conheço. E eu tas
revelarei talvez também hoje mesmo.

Os olhos do discípulo quási que saem
das órbitas; a sua bôca grande aberta,
espera as menores palavras do Mestre. Mas
o Reitor cala-se: êle lava as mãos, enxuga-as,
diz a sua pequena oração, e voltando à mesa,
recita com os seus lábios trémulos a benção
do pão. As suas mãos magras levantam o
prato. O vapor envolve num sôpro tépido
n seu rosto descarnado; pousa de novo o
prato. Pega na colher com a mão direita
e aquece a sua mão esquerda na beira do
Prato enquantomcabava um primeiro bocado
de pão.

Tendo assim aquecido o rosto e as mãos,
êle esfrega fortemente a fronte. estende os lá-
bios delgados e azulados e se põe a soprar.

Durante todo êste tempo o discípulo
nao o perdeu de vista. E enquanto que os
lábios trémulos do Mestre iam adiante da
Primeira colherada êle sentiu apertar-se-lhe
o coração. Escondeu a cara entre as mãos,
e todo o seu corpo se encarquilhou.

Alguns minutos depois, entrou um outro
homem com um outro prato e pão:

-Rabi Yosef manda o jantar do meio-
-dia para o discípulo.



Mas o discípulo não tirou o seu rosto
das suas mãos.

O Reitor pousou a sua colher e aproxi-
mou-se do discípulo. Considerou-o um
momento com orgulho cheio de amor,
depois, envolveu a mão no pano da sua
batina, e tocou-lhe no ombro.

-Trouxeram-te de comer, disse êle
despertando-o com voz afectuosa.

Então o discípulo afasta lenta e triste-
mente as mãos. O seu rosto é agora mais
pálido ainda, os seus olhos brilham ainda
mais ardentemente.

-Eu sei, Mestre. responde êle, mas não
quero comer hoje.

-O quarto jejum? pregunta o Reitor
espantado; e acrescenta num tom de cen-
sura: Sem mim?

É um outro jejum, responde o discípulo;
é um jejum de penitência.

-Que dizes? Tu um jejum de peni-
tência?

-Sim, Mestre!... um jejum de peni-
tência... Há pouco, enquanto vós vos
punhas à mesa, eu pequei contra o man-
damento "Não cubiçarás".

              *
           *     *

Nessa noite, muito tarde, o discípulo
despertou o Reitor.

Êles dormiam ambos sôbre bancos do
seminário, um defronte do outro.

-Mestre, Mestre! chamava êle com uma
voz fraca.

-Que há? preguntou o Reitor com um
sobressalto de mêdo.

-Eu acabo de passar no grau superior.

-Que dizes tu? preguntou o Reitor
ainda cheio de sono.

-Havia um canto em mim! O Reitor
ergueu-se do banco.

-Como foi isso? Como?

-Mestre, nem mesmo eu o sei, respon-
deu o discípulo com uma voz ainda mais
fraca. Eu não podia dormir. Então eu
puz-me a aprofundar a vossa explicação...
Eu queria a todo o preço conhecer a me-
lodia. Eu tenho um desgosto imenso de
não poder conhecê-la. Eu comecei a cho-
rar... Tudo em mim chorava, todos os
meus membros choravam perante o Senhor!
Ao mesmo tempo eu me entregava aos
exercícios espirituais que vós me tendes


 
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