HA-LAPID 7 ======================================== assim que cantava o nosso mestre, de bem- aventurada memória." A lição foi interrompida pela chegada dum rapazola alto de cabelo esguedelhado e que tinha por cinto uma corda: um moço de recados. Êle entrou na sala do seminá- rio, pousou na mesa ao lado do Reitor um prato de sopa e um bocado de pão, dizendo com voz grossa: -"O Sr. Tevil manda de comer para o Reitor." Depois voltou-se, acrescentando já à porta:- "Depois voltarei buscar o prato." Posto bem longe da harmonia divina pela voz grossa do homem, o Reitor levan- tou-se lentamente e arrastando as suas gran- des botas, foi lavar as mãos à fonte. Contudo êle continuava a falar mas com menos entusiasmo. Do seu lugar o disci- pulo o seguia, de ouvido atento, os olhos ardentes e mergulhados no sonho. -Infelizmente, diz ainda Rabi Yekel com uma voz triste, ainda não me foi con- cedido conceber a que grau isto pertence, nem a que portas celestes isso conduz. Vês tu, acrescentou êle com um sorriso, as ma- cerações e as mortificações necessárias para chegar a isso, eu as conheço. E eu tas revelarei talvez também hoje mesmo. Os olhos do discípulo quási que saem das órbitas; a sua bôca grande aberta, espera as menores palavras do Mestre. Mas o Reitor cala-se: êle lava as mãos, enxuga-as, diz a sua pequena oração, e voltando à mesa, recita com os seus lábios trémulos a benção do pão. As suas mãos magras levantam o prato. O vapor envolve num sôpro tépido n seu rosto descarnado; pousa de novo o prato. Pega na colher com a mão direita e aquece a sua mão esquerda na beira do Prato enquantomcabava um primeiro bocado de pão. Tendo assim aquecido o rosto e as mãos, êle esfrega fortemente a fronte. estende os lá- bios delgados e azulados e se põe a soprar. Durante todo êste tempo o discípulo nao o perdeu de vista. E enquanto que os lábios trémulos do Mestre iam adiante da Primeira colherada êle sentiu apertar-se-lhe o coração. Escondeu a cara entre as mãos, e todo o seu corpo se encarquilhou. Alguns minutos depois, entrou um outro homem com um outro prato e pão: -Rabi Yosef manda o jantar do meio- -dia para o discípulo. Mas o discípulo não tirou o seu rosto das suas mãos. O Reitor pousou a sua colher e aproxi- mou-se do discípulo. Considerou-o um momento com orgulho cheio de amor, depois, envolveu a mão no pano da sua batina, e tocou-lhe no ombro. -Trouxeram-te de comer, disse êle despertando-o com voz afectuosa. Então o discípulo afasta lenta e triste- mente as mãos. O seu rosto é agora mais pálido ainda, os seus olhos brilham ainda mais ardentemente. -Eu sei, Mestre. responde êle, mas não quero comer hoje. -O quarto jejum? pregunta o Reitor espantado; e acrescenta num tom de cen- sura: Sem mim? É um outro jejum, responde o discípulo; é um jejum de penitência. -Que dizes? Tu um jejum de peni- tência? -Sim, Mestre!... um jejum de peni- tência... Há pouco, enquanto vós vos punhas à mesa, eu pequei contra o man- damento "Não cubiçarás". * * * Nessa noite, muito tarde, o discípulo despertou o Reitor. Êles dormiam ambos sôbre bancos do seminário, um defronte do outro. -Mestre, Mestre! chamava êle com uma voz fraca. -Que há? preguntou o Reitor com um sobressalto de mêdo. -Eu acabo de passar no grau superior. -Que dizes tu? preguntou o Reitor ainda cheio de sono. -Havia um canto em mim! O Reitor ergueu-se do banco. -Como foi isso? Como? -Mestre, nem mesmo eu o sei, respon- deu o discípulo com uma voz ainda mais fraca. Eu não podia dormir. Então eu puz-me a aprofundar a vossa explicação... Eu queria a todo o preço conhecer a me- lodia. Eu tenho um desgosto imenso de não poder conhecê-la. Eu comecei a cho- rar... Tudo em mim chorava, todos os meus membros choravam perante o Senhor! Ao mesmo tempo eu me entregava aos exercícios espirituais que vós me tendes
N.º 122, Nissan-Yiar 5704 (Mar-Abr 1944)
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