HA-LAPID 3 =========================================== A ignorância é um pecado em Israel Israel viveu sempre, dominado pela preo- cupação da instrução religiosa: êle põe todo o orgulho, tôda a sua honra, no estudo da Lei e é nisso que reside o segrêdo da sua vitalidade. Na origem e até à destruição do pri- meiro Templo, o ensino fica puramente doméstico. São os pais que têm o encargo de instruir os seus filhos, de os iniciar na observância das prescrições morais e reli- giosas. Escolas propriamente ditas não exis- tiam; mas já sob Samuel, tinha-se fundado associações de profetas, onde, sob a direc- ção dum mestre, os jovens iniciam-se na Lei, na música, na poesia, na história nacio- nal, que possuimos da época. Os provérbios de Salamão, que pelas suas concisões, os seus bons sensos, as suas linguagens claras e simples, não faltam de produzir sôbre a criança uma salutar in- fluência. Centros de instrução começaram então a formar-se e o Talmud afirma que no rei- nado de Ezequias não havia um único iletrado em todo o reino de Judá. Mas é somente no regresso do cativeiro de Babilónia e sobretudo no periodo tal- múdico que a instrução primária se espa- lhara com uma organização e métodos que merecem ainda hoje a atenção do mundo escolar. Foi Esrah que, durante o cativeiro. fêz grandes esforços para manter entre os imi- grados a prática da lingua hebraica: êle enviou soferim em diversos centros para ensinar a Thorah. O ensino doméstico tinha, então. desaparecido, porque a maior parte dos judeus não sabiam sequer ler nem escrever e, desde o regresso de Babilônia, Esrah instituiu leituras públicas das princi- pais passagens dos livros de Moisés. Estas leituras eram feitas na segunda-feira, na quinta, dias de mercado onde a gente do campo vinha a Jerusalém e êste uso se manteve até aos nossos dias. Os sucessores de Esrah criaram nos centros importantes escolas onde os mestres rivalizaram em zêlo para atrair o maior número de alunos possivel e uma obra pedagógica da época, Ben-Sirah, contém interessantes máximas sôbre a educação. Sentindo que a fôrça duma nação re- pousa sôbre a educação popular, Simas Ben-Shetah, tornou o ensino religioso obri- gatório. Uma lei ordenou a criação de escolas primárias em cada distrito e, como a ameaça romana tornava-se mais opressora, os judeus tentaram salvar o que havia de mais precioso confiando a Lei sagrada na memória de seus filhos. Josué Ben-Oamlah tornou obrigatória a fundação de escolas para as crianças de cinco anos de idade, e, apesar de tôdas as desgraças politicas que se abateram sôbre os judeus, o ensino desenvolveu-se ràpida- mente. O ensino dava-se primeiramente num campo a céu aberto; encerram em seguida as crianças em recintos fechados, por vezes mesmo na Sinagoga, uso que se mantém em nossos dias em certas comunidades pobres. A escolha de mestres tinha uma grande importância, era preciso homens integrados sob todos os pontos de vista, de certa idade, nem irasciveis, nem orgulhosos, só- brios e desinteressados. "E' em modestos vasos de madeira e de barro, diz o Talmud, que o vinho, o leite e a água melhor se conservam". O mestre devia ser também paciente, doce, afável, capaz de expor com um modo claro tôdas as partes do seu ensinamento e, se a remu- neração material não correspondia a tôdas as exigências, o mestre gozava pelo menos da estima pública e da veneração dos seus alunos. A instrução religiosa era gratuita, não só para os pobres como para os ricos: era a comunidade que suportava as suas despesas, tirando isso das taxas impostas a tôda a população judaica. Os alunos eram divididos em várias classes segundo a sua idade e o grau da sua instrução. Nas classes infantis (alunos de 6 a 10 anos) ensinam-se a leitura e a escrita do hebreu e do aramaico. Os alunos mais adiantados copiavam sôbre rolos de pergaminho as passagens mais importantes do Pentateuco. Nas classes médias (alunos de 10 a 15 anos) ensinava-se a Lei oral; finalmente nas classes superiores (alunos de 15 a 18 anos) esta Lei oral era submetida à
N.º 122, Nissan-Yiar 5704 (Mar-Abr 1944)
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