HA-LAPID 3 ======================================== quatro cantos da terra e restabelece-nos no nosso país. "Então entoaremos os cânticos de louvor a ti, Deus Grande e Soberano, que abaixas os orgulhosos, que elevas os humildes, que quebras os grilhões dos escravos, libertas os oprimidos e exalças o teu povo." É proferida então por todo o Kahal de pé em silêncio a oração de Amidah. Vai proceder-se à leitura da Lei. O ra- bino, descendo da Thebah acompanhado pelos Shamashim (serventes) alguns fiéis, caminha lenta e magestosamente sobre a passadeira que conduz ao Ehal (arca). O Hazan sobe os degraus de mármore e dali diz a tôda a assistência: -Moshé deu-nos a Lei, que constitui uma bela herança para a comunidade de Yakob. "É a árvore da vida para os que a ela se amparam." "Feliz aquêle que repousa à sua sombra, porque ela os guia por agradáveis caminhos e apraziveis veredas." "A paz está com os que amam a Lei e Esses jamais cairão. Pronunciadas estas palavras os shamashim fazem deslizar para os lados as tábuas de mármore onde estão esculpidos os dez mandamentos e afastam as cortinas deixando patente o interior do Ehal onde se vêem enfileirados os rolos manuscritos do Pen- tateuco. Um dos assistentes, previamente desi- gnado, tira um Sepher Thorah (livro da lei) e dirige-se para a Thebah onde o manuscrito é despojado das sêdas que o cobrem. Ali outro hebreu desenrola-o um pouco e eleva-o acima da cabeça para o mostrar a tôda a assistência. O rabino designando o Sefer com um ponteiro de prata exclama com voz forte: -Eis a Lei que Moshe deu ao seu povo de Israel. Todo o Kahal se curva perante o livro, estendendo horizontalmente os braços se- gundo o uso oriental. Faz-se a leitura da Lei. que é escutada em silêncio profundo. Nada mais agradável, nada mais con- fortável para o judeu precito que a leitura da Thorah, em que êle vê o hebreu nómada sôbre o dorso do seu útil e dócil camelo, atravessando extensos e ardentes desertos onde a plenos haustos respira a liber- dade. A Thorah é a árvore da vida, dissera o Hazan, e assim é. Sem ela a raça hebreia de há muito que teria desaparecido da face da terra, como tantas outras, igualmente investidas pelo ódio romano. O ariete latino pôde arrazar o templo e os muros da Cidade Santa mas não pôde fazer desaparecer o Thorah e portanto a vitalidade hebraica. O orgulho romano julgava que passando a fio de espada milhares de hebreus e espalhando os res- tantes pelas províncias do seu império, as condições de vida dessas regiões fariam desaparecer todos os caracteres dêsse povo. Vaidade das vaidades. Destruido o Templo, no coração de cada hebreu um novo se formava, em cujo sacrossanto Ehal a Lei de Moshe se encerrou. De tal forma ela moldou a alma hebraica, que embora dis- persa por povos e raças mui diversas, não pode ser influênciada pela sua etnología, e, quer os judeus habitem Nova-Iorque ou Moscovo, quer Tânger ou Stambul, a todos une a mesma saudade, a todos une a mesma aspiração:-A saüdade da Pátria perdida, a aspiração de a poder recoperar um dia. IV Habdalah Quando na noite de Alhad entrei na Sinagoga, iá se haviam proferido as orações de Shemah e de Amidah, e Semtob, o jovem Shamash. andava de lugar em lugar entre- gando a cada um dos assistentes um pequeno ramo de murta. Feita a distribuição sôbre uma coluna de madeira envernizada existente ao lado esquerdo da Thebah numa bandeja de prata, Semtob deposita os ramos que lhe restam. Nesta bandeja alem dos ramos, existe um cálice de prata lavrada e um castiçal segu- rando uma vela de cera. Entretanto a voz do Hazan, repassada de mágua e dor, evocava o feliz tempo do Mashiah (Messias), "...cujo poder fará florescer a Lei e cuja boca nos anunciará boas novas; nos há-de livrar das trevas e a luz nos dará". Êste canto só é interrompido pelo Kahal
N.º 124, Tishri-Heshvan 5705 (Set-Out 1944)
> P03