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N.º 124, Tishri-Heshvan 5705 (Set-Out 1944)







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              HA-LAPID                3
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quatro cantos da terra e restabelece-nos no
nosso país.

"Então entoaremos os cânticos de louvor
a ti, Deus Grande e Soberano, que abaixas
os orgulhosos, que elevas os humildes, que
quebras os grilhões dos escravos, libertas
os oprimidos e exalças o teu povo."

É proferida então por todo o Kahal de
pé em silêncio a oração de Amidah.

Vai proceder-se à leitura da Lei. O ra-
bino, descendo da Thebah acompanhado
pelos Shamashim (serventes) alguns fiéis,
caminha lenta e magestosamente sobre a
passadeira que conduz ao Ehal (arca).
O Hazan sobe os degraus de mármore e
dali diz a tôda a assistência:

-Moshé deu-nos a Lei, que constitui
uma bela herança para a comunidade de
Yakob.

"É a árvore da vida para os que a ela
se amparam."

"Feliz aquêle que repousa à sua sombra,
porque ela os guia por agradáveis caminhos
e apraziveis veredas."

"A paz está com os que amam a Lei e
Esses jamais cairão.

Pronunciadas estas palavras os shamashim
fazem deslizar para os lados as tábuas de
mármore onde estão esculpidos os dez
mandamentos e afastam as cortinas deixando
patente o interior do Ehal onde se vêem
enfileirados os rolos manuscritos do Pen-
tateuco.

Um dos assistentes, previamente desi-
gnado, tira um Sepher Thorah (livro da
lei) e dirige-se para a Thebah onde o
manuscrito é despojado das sêdas que o
cobrem.

Ali outro hebreu desenrola-o um pouco
e eleva-o acima da cabeça para o mostrar
a tôda a assistência. O rabino designando
o Sefer com um ponteiro de prata exclama
com voz forte:

-Eis a Lei que Moshe deu ao seu povo
de Israel.

Todo o Kahal se curva perante o livro,
estendendo horizontalmente os braços se-
gundo o uso oriental.

Faz-se a leitura da Lei. que é escutada
em silêncio profundo.

Nada mais agradável, nada mais con-
fortável para o judeu precito que a leitura
da Thorah, em que êle vê o hebreu nómada
sôbre o dorso do seu útil e dócil camelo,
atravessando extensos e ardentes desertos



onde a plenos haustos respira a liber-
dade.

A Thorah é a árvore da vida, dissera o
Hazan, e assim é. Sem ela a raça hebreia
de há muito que teria desaparecido da face
da terra, como tantas outras, igualmente
investidas pelo ódio romano.

O ariete latino pôde arrazar o templo
e os muros da Cidade Santa mas não pôde
fazer desaparecer o Thorah e portanto a
vitalidade hebraica. O orgulho romano
julgava que passando a fio de espada
milhares de hebreus e espalhando os res-
tantes pelas províncias do seu império, as
condições de vida dessas regiões fariam
desaparecer todos os caracteres dêsse povo.
Vaidade das vaidades. Destruido o Templo,
no coração de cada hebreu um novo se
formava, em cujo sacrossanto Ehal a Lei de
Moshe se encerrou. De tal forma ela
moldou a alma hebraica, que embora dis-
persa por povos e raças mui diversas, não
pode ser influênciada pela sua etnología, e,
quer os judeus habitem Nova-Iorque ou
Moscovo, quer Tânger ou Stambul, a todos
une a mesma saudade, a todos une a mesma
aspiração:-A saüdade da Pátria perdida,
a aspiração de a poder recoperar um dia.

                IV

             Habdalah

Quando na noite de Alhad entrei na
Sinagoga, iá se haviam proferido as orações
de Shemah e de Amidah, e Semtob, o jovem
Shamash. andava de lugar em lugar entre-
gando a cada um dos assistentes um pequeno
ramo de murta.

Feita a distribuição sôbre uma coluna
de madeira envernizada existente ao lado
esquerdo da Thebah numa bandeja de prata,
Semtob deposita os ramos que lhe restam.
Nesta bandeja alem dos ramos, existe um
cálice de prata lavrada e um castiçal segu-
rando uma vela de cera.

Entretanto a voz do Hazan, repassada
de mágua e dor, evocava o feliz tempo do
Mashiah (Messias), "...cujo poder fará
florescer a Lei e cuja boca nos anunciará
boas novas; nos há-de livrar das trevas e a
luz nos dará".

Êste canto só é interrompido pelo Kahal


 
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