N.° 124 PORTO - Luas de Setembro e Outubro - 5705 (1944 e. v.) ANO XIX ============================================================================================================= Tudo se ilumina _______ ___ _______ |=|____ _______ ...alumia-vos para aquele que |____ ||_ || ___ ||____ ||_____ | e aponta-vos o busca a luz. | | |_| \_\ | | / / _ | | caminho. | | _____| | / / | | | | BEN-ROSH |_| |_______| /_/ |_| |_| BEN-ROSH (HA-LAPID) O FACHO ------------------------------------------------------------------------------------------------------------- DIRECT. E EDITOR: -A. C. DE BARROS BASTO (BEN-ROSH) || COMPOSTO E IMPRESSO NA IMPRENSA MODERNA, L.DA Redacção na Sinagoga Kadoorie Mekor Haim || Rua da Fábrica, 80 Rua Guerra Junqueiro, 340 - Porto || ------------------- P O R T O ------------------- ------------------------------------------------------------------------------------------------------------- SHABBATH I Arbit Caia a tarde. Defronte, a Sinagoga sombreada pela sua gigantesca palmeira reflectia nas janelas o clarão do sol poente que a parecia incendiar. Contemplando êste quadro o pensamento transportava-me para um país longínquo, onde também a palmeira dá sombra e onde há igualmente um céu azul e tão santo como o peninsular. A voz de Yakob despertou-me do meu sonho: -Abraham, são horas de Arbit. Levantei-me. As mulheres haviam já acendído as lâm- padas em honra do Shabbath. Saímos, atravessamos a praça e entramos na Sinagoga. A profusão de luzes fazia contrastar singularmente as negras sobrecasacas com os trajos orientais de alguns e com as túnicas azuis dos rabinos e do coro. Senteí-me. O Hazan com voz gutural entoava o Lekah Dody a que o Kahal se associava. -Santuário Rial, cidade santa. Ó ]eru- salém! Sai dos teus escombros. Demasiado habitastes no vale de lágrimas... Basta de tormentos! Basta de angústia! Basta de vergonha, os pobres encontrarão enfim um refúgio e a cidade levantar-se-á das suas ruínas! Em seguida o Kahal psalmodia o canto do Shabbath (sábado). Quando o final dêste se perdeu de todo elevou-se a voz do ra- bino: - Escuta, povo de Israel, o Senhor, nosso Deus, é o único Senhor. E num leve cicío termina o Shemah. O coro infantil faz ouvir então o seu doce gorjeio: -Faz, ó Nosso Pai, que nos deitemos em paz e nos levantemos cheios de vida. -Estende sôbre nós o pavilhão da paz e favorece-nos com as tuas felizes inspirações. -Socorre-nos por amor do teu nome e protege-nos. Perdida a última nota dêste canto, os filhos de Israel levantam-se, voltam-se para o lado da Cidade Santa e inclinando-se elevam, em espirito e verdade, louvores ao Deus de Abraham, de Isac e Yakob. Agora magestoso e inebriante, envolven- do-nos numa atmosfera de sonho, sobe gradualmente o Ygdal, profissão de fé do povo perseguido e amaldíçoado através os povos e através as idades. Terminara a oração de Arbit. A Sinagoga esvazia-se lentamente. No átrio trocam-se apêrtos de mão segundo o uso oriental e mútuamente desejam o Shab- bath Shalom (um sábado em paz). A noite vai lentamente envolvendo Lisboa no seu manto de trevas.
N.º 124, Tishri-Heshvan 5705 (Set-Out 1944)
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