2 HA-LAPID ========================================== entrada dos seus correlígionários banidos. Rabi Abraham Zacuto apresenta a El-Rei D. João II o seu antigo mestre, que é por êle bem acolhido bem como os seus com- panheiros. Rabi Imanuel Aboab, no seu livro No- mologia, diz: "Foram bem recebidos por El-Rei, e acordaram, que pudessem entrar no reino, seiscentas casas de judeus, com pagar lhe oito escudos de ouro cada um (como escreve Osório, apesar do Usque sómente dois escudos) e que ao cabo de seis anos, lhes mandaria dar navios acomo- dados, e por moderados preços, para pode- rem sair de seus reinos para as partes de Africa ou Levante, como mais quisessem. A estas trinta famílias mandou o rei aco- modar na cidade do Pôrto; e fêz que a cidade desse a cada uma delas uma casa: como deram mui cómodas, na rua que chamam de S. Miguel (na parte que hoje se chama rua de S. Bento da Vitória) e no meio de tôdas elas estava a Sinagoga, que me recordo haver visto ainda na minha meninez sem estar derrocada. Tinham estas casas um P. por armas. que mostrava o nome da cidade. Pagavam de pensão, cinqüenta reis ou maravedis cada uma à cidade e ela lhes fazia empedrar a rua; uma destas trinta casas era a de meu avô o senhor Abraham Aboab a quem o Senhor perdoe. Sucedeu então aquela crueldade enormfssima, de mandar El-Rei Don João levar muitos meninos dos hebreus às ilhas que chamam dos Lagartos; por causa de haverem passado a Portugal mais número de gente, do que as seiscentas casas capi- tuladas. A todos que foram demais, con- denou El-Rei, e os tomou por seus escra- vos, e, aos filhos inocentes mandou levar às ditas ilhas dos Lagartos". "Antes de ver este lastimoso espectá- culo, e os outros que lhe sucederam nos anos seguintes, passou a gozar a vida eterna o bendito Rab; e entendo que está sepultado na cidade do Pôrto. De todos os seus discípulos, que foram muitos, e mui excelentes, não acho que haja pas- sado algum a Portugal, além de Rabi Abraham Zacuto, astrónomo de El-Rei D. Manuel: o qual conta a morte do seu honrado mestre, e como êle darsou, ou fêz sermão em seus funerais. Segundo Graetz os judeus portugueses não viam com bons olhos tal imigração, por temerem disso funestas conseqüências, Houve uma reünião de notáveis judeus portugueses e nessa reünião o Rabi-mor D. Joseph Ben-Yahiah Negro defendeu com calor o estabelecimento em Portugal dos judeus espanhóis. A maioria porém foi de opinião que a fixação neste país dos judeus espanhóis punha em perigo a situação dos judeus portugueses, que já constituíam uma parte muito importante da população de Portugal. Foi mais convencionado entre os dele- gados dos judeus espanhóis e o rei que os que fôssem operários metalúrgicos ou ar- meiros pagavam metade da capítação e podiam fixar-se no pais e que os emigrados entrariam em Portugal pelos seguintes pontos: Olivença, Castelo Rodrigo, Bra- gança e Melgaço. A capitação seria paga, à entrada na fronteira, a empregados régios que lhes dariam certificados dêsse paga- mento, e que lhes serviriam de salvo- -condutos. Tendo sido aceites as condições estabe- lecidas no contrato entre o Rabi Isac Aboab e D. João II entraram em Portugal cêrca de cem mil judeus espanhóis que se dirigiram para as cidades que lhes foram indicadas para residência. Em Janeiro de 1493 findou os seus dias na cidade do Pôrto Rabi Isac Aboab, tendo vindo dirigir o funeral, no qual fêz um sermão, o Rabi Abraham Zacuto. Nesse ano de 1493 resolveu El-Rei exi- gir que êles saíssem no fim de seis meses e cumpriu o que tinha estabelecido. Forneceu navios a preços moderados recomendando aos capitães que os condu- zissem aos portos que designassem e que os tratassem bem, mas tal não fizeram êsses capitães que logo que se acharam no alto mar os sugeitaram a tôda a espécie de más violências para lhes extorquir grandes quantias. Sabendo destes maus tratos muitos nao quiseram embarcar por mêdo, e outros porque não tinham meios para pagar o transporte ficaram no reino. O rei foi im- placável para com êles; os retardatárlos foram uns dados, outros vendidos como escravos aos nobres. O rei fêz arrancar aos pais reduzidos à escravidão os filhos dos 3 aos 1O anos para os enviar para a ilha de S. Tomé (ilha dos Lagartos) e educa-los no cristianismo. Em
N.º 129, Tishri-Heshvan 5706 (Set-Out 1945)
> P02