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N.º 129, Tishri-Heshvan 5706 (Set-Out 1945)







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entrada dos seus correlígionários banidos.
Rabi Abraham Zacuto apresenta a El-Rei
D. João II o seu antigo mestre, que é por
êle bem acolhido bem como os seus com-
panheiros.

Rabi Imanuel Aboab, no seu livro No-
mologia, diz: "Foram bem recebidos por
El-Rei, e acordaram, que pudessem entrar
no reino, seiscentas casas de judeus, com
pagar lhe oito escudos de ouro cada um
(como escreve Osório, apesar do Usque
sómente dois escudos) e que ao cabo de
seis anos, lhes mandaria dar navios acomo-
dados, e por moderados preços, para pode-
rem sair de seus reinos para as partes de
Africa ou Levante, como mais quisessem.
A estas trinta famílias mandou o rei aco-
modar na cidade do Pôrto; e fêz que a
cidade desse a cada uma delas uma casa:
como deram mui cómodas, na rua que
chamam de S. Miguel (na parte que hoje
se chama rua de S. Bento da Vitória) e no
meio de tôdas elas estava a Sinagoga, que
me recordo haver visto ainda na minha
meninez sem estar derrocada. Tinham
estas casas um P. por armas. que mostrava
o nome da cidade. Pagavam de pensão,
cinqüenta reis ou maravedis cada uma à
cidade e ela lhes fazia empedrar a rua;
uma destas trinta casas era a de meu avô
o senhor Abraham Aboab a quem o Senhor
perdoe. Sucedeu então aquela crueldade
enormfssima, de mandar El-Rei Don João
levar muitos meninos dos hebreus às ilhas
que chamam dos Lagartos; por causa de
haverem passado a Portugal mais número
de gente, do que as seiscentas casas capi-
tuladas. A todos que foram demais, con-
denou El-Rei, e os tomou por seus escra-
vos, e, aos filhos inocentes mandou levar
às ditas ilhas dos Lagartos".

"Antes de ver este lastimoso espectá-
culo, e os outros que lhe sucederam nos
anos seguintes, passou a gozar a vida
eterna o bendito Rab; e entendo que está
sepultado na cidade do Pôrto. De todos
os seus discípulos, que foram muitos, e
mui excelentes, não acho que haja pas-
sado algum a Portugal, além de Rabi
Abraham Zacuto, astrónomo de El-Rei
D. Manuel: o qual conta a morte do seu
honrado mestre, e como êle darsou, ou
fêz sermão em seus funerais.

Segundo Graetz os judeus portugueses
não viam com bons olhos tal imigração,



por temerem disso funestas conseqüências,
Houve uma reünião de notáveis judeus
portugueses e nessa reünião o Rabi-mor
D. Joseph Ben-Yahiah Negro defendeu com
calor o estabelecimento em Portugal dos
judeus espanhóis. A maioria porém foi de
opinião que a fixação neste país dos judeus
espanhóis punha em perigo a situação dos
judeus portugueses, que já constituíam
uma parte muito importante da população
de Portugal.

Foi mais convencionado entre os dele-
gados dos judeus espanhóis e o rei que os
que fôssem operários metalúrgicos ou ar-
meiros pagavam metade da capítação e
podiam fixar-se no pais e que os emigrados
entrariam em Portugal pelos seguintes
pontos: Olivença, Castelo Rodrigo, Bra-
gança e Melgaço. A capitação seria paga,
à entrada na fronteira, a empregados régios
que lhes dariam certificados dêsse paga-
mento, e que lhes serviriam de salvo-
-condutos.

Tendo sido aceites as condições estabe-
lecidas no contrato entre o Rabi Isac
Aboab e D. João II entraram em Portugal
cêrca de cem mil judeus espanhóis que se
dirigiram para as cidades que lhes foram
indicadas para residência.

Em Janeiro de 1493 findou os seus dias
na cidade do Pôrto Rabi Isac Aboab, tendo
vindo dirigir o funeral, no qual fêz um
sermão, o Rabi Abraham Zacuto.

Nesse ano de 1493 resolveu El-Rei exi-
gir que êles saíssem no fim de seis meses
e cumpriu o que tinha estabelecido.

Forneceu navios a preços moderados
recomendando aos capitães que os condu-
zissem aos portos que designassem e que
os tratassem bem, mas tal não fizeram
êsses capitães que logo que se acharam no
alto mar os sugeitaram a tôda a espécie de
más violências para lhes extorquir grandes
quantias.

Sabendo destes maus tratos muitos nao
quiseram embarcar por mêdo, e outros
porque não tinham meios para pagar o
transporte ficaram no reino. O rei foi im-
placável para com êles; os retardatárlos
foram uns dados, outros vendidos como
escravos aos nobres.

O rei fêz arrancar aos pais reduzidos à
escravidão os filhos dos 3 aos 1O anos para
os enviar para a ilha de S. Tomé (ilha dos
Lagartos) e educa-los no cristianismo. Em


 
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