HA-LAPID 3 ========================================= vão as mães choravam e suplicavam ao rei que não lhes tirassem os filhos. O rei ficou insensível. Uma mãe a quem tinham tirado sete filhos lançou-se aos pés do rei. quando êle saia da igreia pedindo para lhe dar pelo menos o mais novo; segundo a expressão dum cronista, o rei disse para os que o acompanhavam que ela gemia e se lamentava como uma cadela a quem tira- ram os filhos. Algumas mães para se não separarem dos filhos lançaram-se em poços e ao rio. A maior parte destas crianças morreram em S. Tomé vitimas do clima e de animais malfazejos. No ano de 5254 da Era hebraica (que princpia na lua nova de Setembro de 1493 e finda com a lua nascida em Agôsto de 1944 da Era vulgar) El-Rei D. João II pretendeu que o seu conselheiro e Rabi- -mor de Portugal D. Joseph Ben-Yahiah Negro, com 68 anos de idade, se conver- tesse ao catolicismo, dizendo-lhe:-Desejo que tu, bem como tôda a tua familia se se convertam à minha fé, por que tu és um chefe respeitável entre os israelitas e assim serias um exemplo para todo o teu povo... D. Joseph respondeu negativamente e saiu da presença do rei. Depois El-Rei mandou-lhe dizer que cumprisse o seu desejo e se assim fizesse lhe daria o senhorio de Bragança e seus rendimentos e em caso contrário o manda- ria matar. E quando o ancião ouviu estas palavras ficou muito triste, orou a Deus e levando consigo os seus três filhos Rabi David, Meir e Salomão fugiu de Portugal. El-Rei mandou-o perseguir por terra e por mar e não o puderam alcançar. Um temporal fêz com que o navio onde ia, arribasse ao reino de Castela, ali D. Joseph e seus filhos foram prêsos e destinados a serem queimados vivos, porque havia quási três anos que os judeus haviam sido expul- sos de Castela e o decreto dizia que todo o judeu que fôsse encontrado depois do Prazo referido devia ser condenado à morte. Veio em seu socorro D. Alvaro, descen- dente do Duque de Bragança e que tam- bem tinha fugido de D. João II. Graças à Intervenção dêste nobre português, que disse boas e elogiosas palavras sôbre êles, deixaram-nos fugir duma cidade não mura- lhada. Estiveram cinco meses no mar até que conseguiram desembarcar em Pisa (cidade da Toscana-Itália). Furioso D. João II vingou-se maltra- tando alguns parentes dos fugitivos. Depois dêstes acontecimentos D. João II escolheu para Rabi-mor de Portugal o astrônomo real Rabi Abraham Zacuto. No dia 25 de Outubro de 1495 faleceu em Alvor (Algarve) El-Rei D. João II, sendo voz pública que êle tinha sido enve- nenado. Assistiu aos seus últimos mo- mentos o médico real Mestre Joseph Vizi- nho, discípulo de D. Abraham Zacuto. II Morto D. João II subiu ao trono seu cunhado D. Manuel. Duque de Beja, o qual contava então vinte e seis anos de idade. O seu primeiro acto a respeito dos judeus foi conceder carta de alforria aos que eram escravos, por determinação de D. João II, dando-lhes permissão de saírem para onde e quando quisessem, sem dêles, nem das Comunidades judaicas querer aceitar um grande serviço de dinheiro que lhe era oferecido em paga da generosa resolução do novo rei. Julga-se-que éste primeiro acto do monarca fosse inspirado pelo Rabi-mor D. Abraham Zacuto, astró- nomo real, a quem D. Manuel dedicava afeição muito especial. D. Manuel antes, de determinar a exe- cução da viagem à India dos nossos nave- gadores consulta Zacuto sôbre as probabi- lidades dela. Uma testemunha contemporânea de Zacuto, embora mais novo, Gaspar Correia, no seu trabalho, diz›nos: Como por falecimento de El-Rei D. João, El-Re¡ D. Manuel que sucedeu no reino tomou entendimento no des- cobrimento da Índia. E metido o sentido nesse cuidado, e como prudentíssimo homem de grande conselho, quis primeiro tomar boa infor- mação do que era e podia fazer primeiro que começasse um tão grande feito, não querendo arriscar em vão suas despesas e vidas de seus vassalos, determinando pri- meiro haver verdadeira informação não querendo começar coisa que não acabasse e mormente esta tão grande em comêço
N.º 129, Tishri-Heshvan 5706 (Set-Out 1945)
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