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N.º 129, Tishri-Heshvan 5706 (Set-Out 1945)







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               MEMORIAS

da Literatura Sagrada dos judeus portugueses desde os
primeiros tempos da Monarquia até fins do Século XV

              MEMÓRIA I

    POR ANTONIO RIBEIRO DOS SANTOS

      (CONTINUAÇÃO no N.° 127)

             CAPÍTULO V

    Dos Estudos da Língua Santa

Cultura da Língua Santa-Pelo que
toca em particular à Língua Santa, costu-
mavam os nossos fazer dela um grande
estudo, havendo-o por mui necessário para
a inteligência dos Livros Sagrados.

Parece, que herdaram isto dos Rabba-
nins seus Mestres, que se haviam dado
muito a esta casta de estudos, e os haviam
propagado com grande ardor nas Sinago-
gas de Espanha. (Disto fala Ricardo Simão
na Históría Critica do Testamento Velho
no cap. XXI, pág. 120).

Por certo, que muito os havia, fomen-
tado Davide Kimchi, filho de José Kimchi,
um dos maiores Gramáticos dos Judeus, a
quem depois seguiram muitos dos Cris-
tãos; o qual aproveitando-se das Reflexões
Gramaticais dum Arabe chamado Abud
Valid Abarum, compusera uma grande
obra da Gramática da Lingua Santa, com
o nome de Sepher Michiol, e um Dicioná-
rio intitulado Sepher Sçorascim. (Faz men-
ção destas obras Basnage na Hist. dos ju-
deus: Wolfio na Bibliot. Hebr. e outros
muitos).

Este estudo havido por necessário e
útil-Tão alta opinião se tinha feito em
nossa Espanha da necessidade e utilidade
dêstes estados, que se haviam por primei-
ros fundamentos de tôda a Literatura Sa-
grada. Assim que R. Aben Ezra no Perusc,



ou Comentário ao C. V. do Eccles, dizia,
como falando duma regra geralmente esta-
belecida: Nós os judeus devemos saber
perfeitamente a Arte Gramatical da Lingua
Santa, para não errarmos. O mesmo in-
culcava Kimchi, o qual no fim do Michlol
põe uns versos, que dizem assim em Lin-
guagem: O que aprende, e trabalha por
possuir a Lei, e não aprende o fundamento
da Gramática e como o lavrador, que vai
com os seus bois: mas não leva nas mãos
vara ou aguilhão, que os pique.

Uso que os nossos faziam de Hebreu -
Com efeito os nossos Judeus não cederam
aos espanhóis seus Mestres; cultivaram
cuidadosamente a Lingua Santa e tanto se
costumaram ao Hebreu Rabbínico, que até
nêle usavam de fazer Cartas. Escrituras e
instrumentos pelos Tabeliães de suas Comu-
nas. (Não só faziam isto os Judeus, que
eram das Comunas mas ainda os que não
eram delas: e a respeito déstes últimos, o
proibiu o Senhor Rei D. João I, pelo dano,
que disto se seguia ao povo, mandando,
que o judeu, que não fôsse das Comunas
dos Judeus não fizesse Carta ou instrumento
senão por Linguagem Ladinha Portuguesa:
vem a Lei no Código Afonsino Liv. III,
Título 93. De somo os Tabeliães dos Ju-
deus hão-de fazer as Escrituras).

                          (Continua)

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Visado pela Comissão de Censura


 
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