8 HA-LAPID ======================================== MEMORIAS da Literatura Sagrada dos judeus portugueses desde os primeiros tempos da Monarquia até fins do Século XV MEMÓRIA I POR ANTONIO RIBEIRO DOS SANTOS (CONTINUAÇÃO no N.° 127) CAPÍTULO V Dos Estudos da Língua Santa Cultura da Língua Santa-Pelo que toca em particular à Língua Santa, costu- mavam os nossos fazer dela um grande estudo, havendo-o por mui necessário para a inteligência dos Livros Sagrados. Parece, que herdaram isto dos Rabba- nins seus Mestres, que se haviam dado muito a esta casta de estudos, e os haviam propagado com grande ardor nas Sinago- gas de Espanha. (Disto fala Ricardo Simão na Históría Critica do Testamento Velho no cap. XXI, pág. 120). Por certo, que muito os havia, fomen- tado Davide Kimchi, filho de José Kimchi, um dos maiores Gramáticos dos Judeus, a quem depois seguiram muitos dos Cris- tãos; o qual aproveitando-se das Reflexões Gramaticais dum Arabe chamado Abud Valid Abarum, compusera uma grande obra da Gramática da Lingua Santa, com o nome de Sepher Michiol, e um Dicioná- rio intitulado Sepher Sçorascim. (Faz men- ção destas obras Basnage na Hist. dos ju- deus: Wolfio na Bibliot. Hebr. e outros muitos). Este estudo havido por necessário e útil-Tão alta opinião se tinha feito em nossa Espanha da necessidade e utilidade dêstes estados, que se haviam por primei- ros fundamentos de tôda a Literatura Sa- grada. Assim que R. Aben Ezra no Perusc, ou Comentário ao C. V. do Eccles, dizia, como falando duma regra geralmente esta- belecida: Nós os judeus devemos saber perfeitamente a Arte Gramatical da Lingua Santa, para não errarmos. O mesmo in- culcava Kimchi, o qual no fim do Michlol põe uns versos, que dizem assim em Lin- guagem: O que aprende, e trabalha por possuir a Lei, e não aprende o fundamento da Gramática e como o lavrador, que vai com os seus bois: mas não leva nas mãos vara ou aguilhão, que os pique. Uso que os nossos faziam de Hebreu - Com efeito os nossos Judeus não cederam aos espanhóis seus Mestres; cultivaram cuidadosamente a Lingua Santa e tanto se costumaram ao Hebreu Rabbínico, que até nêle usavam de fazer Cartas. Escrituras e instrumentos pelos Tabeliães de suas Comu- nas. (Não só faziam isto os Judeus, que eram das Comunas mas ainda os que não eram delas: e a respeito déstes últimos, o proibiu o Senhor Rei D. João I, pelo dano, que disto se seguia ao povo, mandando, que o judeu, que não fôsse das Comunas dos Judeus não fizesse Carta ou instrumento senão por Linguagem Ladinha Portuguesa: vem a Lei no Código Afonsino Liv. III, Título 93. De somo os Tabeliães dos Ju- deus hão-de fazer as Escrituras). (Continua) ---------------------------------------- Visado pela Comissão de Censura
N.º 129, Tishri-Heshvan 5706 (Set-Out 1945)
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