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N.º 129, Tishri-Heshvan 5706 (Set-Out 1945)







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 4             HA-LAPID
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de seu Reinado; no que assim conside-
rando e porque algum tanto era inclinado
às coisas de astronomia, mandou chamar
a Beja um judeu seu muito conhecido, que
era grande astrólogo, chamado Çacuto.
com o qual falou em seu segrêdo muito
lhe encarregando que trabalhasse de saber,
se lhe aconselhava que entendesse no des-
cobrimento da Índia, e se era coisa que
podia ser, porque o trabalho, que nisso
houvesse se não perdesse em vão, porque
se possível fôsse, êle para isso tinha muita
vontade nisso gastar todo o possivel, mas
que êle nada havia de fazer sem seu con-
selho, e por isso o chamara, que portanto
lhe muito encomendava que visse e olhasse
muito bem o que disto alcançava por seu
bom saber e para isso tomasse o espaço
que quisesse para lhe dar resposta. Do que
o judeu se muito encarregou, e se tornou
a Beja e fazendo suas diligências aprouve
a nosso Senhor lhe mostrar sua vontade, e
tendo tudo bem alcançado, se tornou a
El-Rei com muito prazer e lhe disse:

"Senhor, com muito cuidado que tomei
no que me Vossa Alteza tanto encarregou,
com o querer de Nosso Senhor, o que
achei e tenho sabido é, que a província da
India é mui longe desta nossa região,
alongada por longos mares e terras, tôdas
de gentes pretos os naturais; em que há
grandes riquezas, e mercadorias que cor-
rem por muitas partes do mundo, e tudo
de muito perigo, primeiro que possam vir
a esta nossa região, e que tenho bem
olhado, e por querer de Nosso Senhor
alcançado que Vossa Alteza a descobrirá e
grande parte da india subjugará em mui
breve tempo, porque, Senhor, Vosso pla-
neta é grande sob a divisa de Vossa Real
pessoa, a esfera em que se contém os céus
e terra, que tudo Deus quererá trazer a
vosso poder, e tudo acabará o que nunca
acabaria El-Rei que Deus tem, ainda que
todo seu Reino nisso gostara, porque esta
coisa Deus a tinha guardado para Vossa
Alteza. E acho que a India descobrirão
dois irmãos vossos naturais, mas quais êles
sejam eu o não alcanço. Mas pois de
Deus assim está ordenado ele o mostrará,
pelo que tenho a Vossa Alteza dito tôda a
verdade do que ponho minha cabeça a
penhor sob o aprazimento de Nosso Se-
nhor, em cujo poder tudo é."



O que tudo ouvido por El-Rei, deu ao
judeu grandes agradecimentos por tão boa;
novas que lhe dava, e muito defendeu que
tivesse grande segrêdo, pelo muito que
cumpria a seu estado.

D. Abraham Zacuto numa longa expo-
sição ao rei trata da teoria das tempesta-
des, da época mais favorável para a nave-
gação, das tábuas de declinação que tinha
composto, do Regulamento, do astrolábio
náutico que tinha fabricado.

Ouçamos o que nos informa sôbre êstes
assuntos Gaspar Correia e também sôbre o
ensino dos pilotos feito pelo Rabi Zacuto,
aos quais fornece cartas de marcar:

Como El-Rei pediu razão ao astrólogo
Çacuto destas naus não acharem con-
traste de tempos contrários e tor-
mentos, que as outras naus acharam
e o Çacuto lho declarou.

"El-Rei era muito inclinado à astrono-
mia, pelo que muitas vezes praticava com
o judeu Çacuto, porque em tudo achava
mui certo, e sendo assim chegadas estas
que lhe diziam não acharem nenhum tem-
poral contrário a seu caminho, achando as
outras tantas fortunas, sôbre o que El-Rei
praticava com os pilotos, que nenhuma
razão lhe sabiam dar a isso, sendo um dia 
o Judeu Çacuto presente e ouvindo tudo.
disse a El-Rei:

"Senhor, o mar que as vossas naus
correm é muito grande, em que em umas
partes há verão, e em outras inverno, e
todo em um caminho; e poderão ir duas
naus, uma após outra ambas por um cami-
nho, uma chegará a uma paragem quando
ali fôr inverno, e achará tormenta, e a
outra quando ali chegar será verão e não
achará tormenta que a outra ali achou: e
esta é a razão porque uns acharam tormenta,
e outros não. E porque os invernos e verãos
não são certos em um próprio lugar é por-
que o mar é mui largo e mui deserto,
apartado das terras, e cursam as tormentas
e bonanças por muitas partes incertas. Mas
quando os navegantes desta carreira tive-
rem mais experiência em seu caminhar,
que êles saibam tomar o verão que tem
neste golfão daqui ao Cabo da Boa Espe-
rança, assim à ida como à vinda, andarão
êles éste caminho em mui breve tempo e


 
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