4 HA-LAPID ======================================== de seu Reinado; no que assim conside- rando e porque algum tanto era inclinado às coisas de astronomia, mandou chamar a Beja um judeu seu muito conhecido, que era grande astrólogo, chamado Çacuto. com o qual falou em seu segrêdo muito lhe encarregando que trabalhasse de saber, se lhe aconselhava que entendesse no des- cobrimento da Índia, e se era coisa que podia ser, porque o trabalho, que nisso houvesse se não perdesse em vão, porque se possível fôsse, êle para isso tinha muita vontade nisso gastar todo o possivel, mas que êle nada havia de fazer sem seu con- selho, e por isso o chamara, que portanto lhe muito encomendava que visse e olhasse muito bem o que disto alcançava por seu bom saber e para isso tomasse o espaço que quisesse para lhe dar resposta. Do que o judeu se muito encarregou, e se tornou a Beja e fazendo suas diligências aprouve a nosso Senhor lhe mostrar sua vontade, e tendo tudo bem alcançado, se tornou a El-Rei com muito prazer e lhe disse: "Senhor, com muito cuidado que tomei no que me Vossa Alteza tanto encarregou, com o querer de Nosso Senhor, o que achei e tenho sabido é, que a província da India é mui longe desta nossa região, alongada por longos mares e terras, tôdas de gentes pretos os naturais; em que há grandes riquezas, e mercadorias que cor- rem por muitas partes do mundo, e tudo de muito perigo, primeiro que possam vir a esta nossa região, e que tenho bem olhado, e por querer de Nosso Senhor alcançado que Vossa Alteza a descobrirá e grande parte da india subjugará em mui breve tempo, porque, Senhor, Vosso pla- neta é grande sob a divisa de Vossa Real pessoa, a esfera em que se contém os céus e terra, que tudo Deus quererá trazer a vosso poder, e tudo acabará o que nunca acabaria El-Rei que Deus tem, ainda que todo seu Reino nisso gostara, porque esta coisa Deus a tinha guardado para Vossa Alteza. E acho que a India descobrirão dois irmãos vossos naturais, mas quais êles sejam eu o não alcanço. Mas pois de Deus assim está ordenado ele o mostrará, pelo que tenho a Vossa Alteza dito tôda a verdade do que ponho minha cabeça a penhor sob o aprazimento de Nosso Se- nhor, em cujo poder tudo é." O que tudo ouvido por El-Rei, deu ao judeu grandes agradecimentos por tão boa; novas que lhe dava, e muito defendeu que tivesse grande segrêdo, pelo muito que cumpria a seu estado. D. Abraham Zacuto numa longa expo- sição ao rei trata da teoria das tempesta- des, da época mais favorável para a nave- gação, das tábuas de declinação que tinha composto, do Regulamento, do astrolábio náutico que tinha fabricado. Ouçamos o que nos informa sôbre êstes assuntos Gaspar Correia e também sôbre o ensino dos pilotos feito pelo Rabi Zacuto, aos quais fornece cartas de marcar: Como El-Rei pediu razão ao astrólogo Çacuto destas naus não acharem con- traste de tempos contrários e tor- mentos, que as outras naus acharam e o Çacuto lho declarou. "El-Rei era muito inclinado à astrono- mia, pelo que muitas vezes praticava com o judeu Çacuto, porque em tudo achava mui certo, e sendo assim chegadas estas que lhe diziam não acharem nenhum tem- poral contrário a seu caminho, achando as outras tantas fortunas, sôbre o que El-Rei praticava com os pilotos, que nenhuma razão lhe sabiam dar a isso, sendo um dia o Judeu Çacuto presente e ouvindo tudo. disse a El-Rei: "Senhor, o mar que as vossas naus correm é muito grande, em que em umas partes há verão, e em outras inverno, e todo em um caminho; e poderão ir duas naus, uma após outra ambas por um cami- nho, uma chegará a uma paragem quando ali fôr inverno, e achará tormenta, e a outra quando ali chegar será verão e não achará tormenta que a outra ali achou: e esta é a razão porque uns acharam tormenta, e outros não. E porque os invernos e verãos não são certos em um próprio lugar é por- que o mar é mui largo e mui deserto, apartado das terras, e cursam as tormentas e bonanças por muitas partes incertas. Mas quando os navegantes desta carreira tive- rem mais experiência em seu caminhar, que êles saibam tomar o verão que tem neste golfão daqui ao Cabo da Boa Espe- rança, assim à ida como à vinda, andarão êles éste caminho em mui breve tempo e
N.º 129, Tishri-Heshvan 5706 (Set-Out 1945)
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