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N.º 130, Kislev-Tevet 5706 (Nov-Dez 1945)







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             HA-LAPID               3
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Produziram-se então cenas lancinantes
em tôdas as povoações habitadas por ju-
deus. Os pais abraçaram desesperada-
mente os seus filhos, que, por seu lado,
se agarravam a êles com tódas as suas
forças; separavam-nos à pancada.

Muitos para não deixarem arrebatar os
seus filhos, estrangulavam-nos nos últimos
abraços ou precipitavam-nos nos poços ou
rios, e matavam-se em seguida.

"Vi com os meus próprios olhos, conta
o bispo Coutinho, criancas arrastadas pelos
cabelos até às pias baptismais, e os pais
acompanharem-nos, com a cabeça coberta
de luto, soltando gritos lancinantes e pro-
testando até ao pé dos altares contra éste
baptismo forçado. Vi ainda muitas outras
crueldades". Os contemporâneos conser-
varam sobretudo a recordação dolorosa do
horrivel género de morte escolhido, para
êle e seus filhos por um judeu culto e
muito considerado. Isac Ben-Cahin, para
escaparem aos seus convertidores. Muitos
cristãos compadeceram-se dêstes infelizes e
sem pensar no perigo a que se expunham,
ocultaram crianças judaicas nas suas casas
para as salvarem.

D. Manuel e sua espôsa foram surdos a
todas as súplicas e gemidos. Após o bap-
tismo, os filhos dos judeus recebiam um
nome cristão e eram em seguida espalhados
por diversas terras, onde eram educados na
fé cristã. Por ordem secreta ou por ex-
cesso de zêlo: os agentes reais apodera-
vam-se de jovens israelitas até aos vinte
anos para os levarem ao baptismo.

Nestas circunstâncias alguns israelitas
aceitaram a conversão para se não afasta-
rem dos seus filhos. Mas o rei guiado,
mais pelo interêsse do que pela fé; não se
contentou com estas conversões, êle queria
que, convicta ou não, tôda a população
judaica de Portugal se fizesse cristã e
ficasse no Pais. Para entravar a sua emi-
gração, revogou a autorização que lhes
tinha dado de embarcarem em 3 portos e só
lhes permitiu o de Lisboa. Todos os emi-
grantes se deviam pois reünir em Lisboa.

Reuniram-se em Lisboa 20.000 para
emigrar e sob vários pretextos não lhes
permitiu o embarque e assim fêz expirar o
prazo da saída. Tornando-se assim senhor
da sua sorte fé-los alojar como rebanhos
no paço dos Estaus.

Fez-lhes saber que lhes deixava escolher



entre a conversão voluntária com a pres-
pectiva de receberem honras e riquezas, ou
serem baptizados à fôrça. Como quási
todos queriam ficar judeus, privou-os de
alimentação durante 3 dias. Como nada
conseguisse com a fome e sede, mandou-os
arrastar até às igrejas puxando-os com
cordas e também pelas barbas ou cabelos.
Muitos preferiram a morte ao baptismo;
houve alguns que se mataram na própria
igreja. Um pai cobriu os seus filhos com o
Taleth, degolou-os e em seguida matou-se.

A conversão ao cristianismo assim im-
posta pela violência aos judeus não foi
para êles mais que uma máscara que os
obrigaram a usar.

Entre os milhares de judeus portugue-
ses que se tinham resignado ao sacrifício
da sua fé, a maior parte não esperava senão
uma ocasião favorável para emigrar para
um país onde pudessem livremente regres-
sar ao judaismo. Como disse Samuel
Usque, as águas do baptismo não tinham
modificado nem as suas crenças, nem os
seus sentimentos.

Houve alguns judeus heróicos, como
Rabi Simão Maimi, Dayan (juiz Ouvidor)
de Lisboa, sua mulher, seus genros, e
outros mais, que se obstinaram a ficar
abertamente fiéis à sua religião, apesar das
horríveis torturas a que foram submetidos.
Metidos num calabouço, foram empareda-
dos até ao pescôço e ficaram nesta posição
durante três dias. Como persistissem nas
suas crenças, fizeram cair a alvenaria
que os envolvia: três dos supliciados, e
entre êles o Rabi Maimi, tinham sucum-
bido. Apesar de ser severamente proibido
enterrar as vitimas destas torturas, que só
os carrascos tinham direito a fazê-lo, dois
maranos arriscaram a sua vida para sepul-
tar o piedoso Rabi no cemitério judeu,
onde um certo número de maranos vieram
ocultamente celebrar em sua honra uma
cerimónia fúnebre.

Os companheiros de prisão do Rabi
Simão Maimi e os seus genros ficaram
ainda muito tempo encarcerados. Tirados
da prisão, foram enviados para Arzila
(Marrocos) sendo ali obrigados a trabalhar
nos dias de sábado em obras de fortifica-
ção, e, finalmente sofreram o martírio.

D. Isabel, rainha de Portugal, que tinha
sido a instigadora de todas as medidas
iníquas tomadas contra os judeus, morreu


 
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