HA-LAPID 5 ========================================== Oran e outras terras. D. Fernando objectou que não tinha recursos financeiros para isso. O Cardeal Cisneros respondeu-lhe que conseguiria os meios para êsse fim, e pessoalmente tratou de organizar essa ex- pedição. Em 1509 saiu a expedição de Cartagena a 16 de Maio, ancorando a armada em Mazal Kibir. O próprio inquisidor geral acompanhou a expedição. Desembarcadas as fôrças êle mesmo lhes arengou montado numa mula, de espada à cinta, rodeado de sacerdotes e frades, entre os quais ia um frei Fernando, montado num cavalo branco e levando a cruz arcebispal. Iniciado o combate, escalaram os espa- nhóis a serra, de onde atacaram os berbe- rescos, aos quais perseguiram até às portas da cidade de Oran, que, ao mesmo tempo, era batida pela esquadra, da qual desen- barcou gente, que unindo-se aos que tinham ido por terra, acometeu a praça, que foi tomada de assalto, dando a soldadesca exemplo dum desenfreamento que, segundo um historiador espanhol, lastima conhece-lo. As armas espanholas continuaram sendo brandidas em África; e conquistaram Bugia e Tripoli, terminando por conseguirem a submissão de Argel, Tlermecen e Tunis. Ao terem conhecimento dos êxitos alcançados pelos espanhóis no norte de África, Zacuto e muitos outros judeus resolveram deixar Tunis, porque êles conhe- ciam por experiência a crueldade dos faná- ticos espanhóis e não queriam expôr-se a caírem nas suas mãos, Zacuto foi refu- giar-se na Turquia, onde findou os seus dias em 1515 na cidade de Damasco. As obras que Rabi Abraham Zacuto deixou não desmentem a sua reputação. D. Manuel II, o último rei de Portugal, num artigo intitulado Uma Vítima da Real Ingratidão e com o subtítulo Zacuto, que preparou o caminho para Portugal alcançar o Zenith da sua glória foi expulso pelos dois soberanos a quem serviu, artigo éste escrito no seu exílio na Inglaterra, e publi- cado na revista judaica de Nova Iorque, American Hebreu, diz, sôbre as obras de Zacuto: "Foi durante a sua estada em Tunis em 1504, que Zacuto escreveu uma história cronológica dos judeus, desde a Criação até 1500, intitulando-a Sefer ha-Juhasin e na qual fêz realçar a literatura judaica." "Em 1473 ainda em Salamanca, Zacuto escreveu o "Biur Luhot" que publicado em Leiria em 1496, numa tradução latina por Joseph Vizinho, foi intitulado "Alma- nach Perpetuum". "Realmente o "grande astrólogo" com a ajuda do seu discípulo Vizinho contribuiu largamente para o progresso náutico de Portugal, pois que a sua influência, devida à sua sabedoria, não pode de maneira alguma ser negada. A ciência de Zacuto não foi sómente aproveitada pelos portu- gueses, mas espanhóis, começando com Colombo que possuía uma cópia do a Alma- nach Perpetuum". D. Manuel diz possuir um exemplar desta obra absolutamente completo e num estado de conservação perfeito e que tem juntamente o texto em espanhol. D. Manuel II termina assim o seu artigo: "Zacuto tem o seu lugar entre os cosmó- grafos e matemáticos que fizeram nascer em Portugal a concepção de geografia e aos quais se deve o desenvolvimento das viagens de explorações. Foi para a reali- zação desta missão que Zacuto e o seu discípulo Vizinho tanto trabalharam e foi para éste mesmo fim que o "Almanach Per- petuum" foi traduzido do hebreu e publi- cado em Leiria em 1496, ano anterior ao que Vasco da Gama partira para a sua viajem de descobrimentos. "Este livro, por tantas razões precioso, é para nós um monumento do passado que indicou a Portugal o caminho a seguir para alcançar o Zenith da sua glória." O Sefer Ha-Yuh'asin (livro das genea- logias) foi editado por Samuel Shalom em Constantinopla em 1506 com várias omis- sões e adições do editor. Rabi Abraham Zacuto escreveu um livro sôbre a alma, onde trata da sua imor- talidade. De Zacuto são também as obras: -Sefzr Tekunat Zakhut, livro de astro- nomia, que se perdeu em manuscrito. -Arba'im La-Binah, tratado de Astro- logia. -Hosafot le Sefer ho-Arukh, dicionário rabinico-arameano. -Do Clima e sitio de Portugal. Porto - Outono de 1945.
N.º 130, Kislev-Tevet 5706 (Nov-Dez 1945)
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