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N.º 130, Kislev-Tevet 5706 (Nov-Dez 1945)







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Oran e outras terras. D. Fernando objectou
que não tinha recursos financeiros para
isso. O Cardeal Cisneros respondeu-lhe
que conseguiria os meios para êsse fim, e
pessoalmente tratou de organizar essa ex-
pedição.

Em 1509 saiu a expedição de Cartagena
a 16 de Maio, ancorando a armada em
Mazal Kibir. O próprio inquisidor geral
acompanhou a expedição. Desembarcadas
as fôrças êle mesmo lhes arengou montado
numa mula, de espada à cinta, rodeado de
sacerdotes e frades, entre os quais ia um
frei Fernando, montado num cavalo branco
e levando a cruz arcebispal.

Iniciado o combate, escalaram os espa-
nhóis a serra, de onde atacaram os berbe-
rescos, aos quais perseguiram até às portas
da cidade de Oran, que, ao mesmo tempo,
era batida pela esquadra, da qual desen-
barcou gente, que unindo-se aos que tinham
ido por terra, acometeu a praça, que foi
tomada de assalto, dando a soldadesca
exemplo dum desenfreamento que, segundo
um historiador espanhol, lastima conhece-lo.

As armas espanholas continuaram sendo
brandidas em África; e conquistaram Bugia
e Tripoli, terminando por conseguirem a
submissão de Argel, Tlermecen e Tunis.

Ao terem conhecimento dos êxitos
alcançados pelos espanhóis no norte de
África, Zacuto e muitos outros judeus
resolveram deixar Tunis, porque êles conhe-
ciam por experiência a crueldade dos faná-
ticos espanhóis e não queriam expôr-se a
caírem nas suas mãos, Zacuto foi refu-
giar-se na Turquia, onde findou os seus
dias em 1515 na cidade de Damasco.

As obras que Rabi Abraham Zacuto
deixou não desmentem a sua reputação.

D. Manuel II, o último rei de Portugal,
num artigo intitulado Uma Vítima da Real
Ingratidão e com o subtítulo Zacuto, que
preparou o caminho para Portugal alcançar
o Zenith da sua glória foi expulso pelos
dois soberanos a quem serviu, artigo éste
escrito no seu exílio na Inglaterra, e publi-
cado na revista judaica de Nova Iorque,
American Hebreu, diz, sôbre as obras de
Zacuto:

"Foi durante a sua estada em Tunis
em 1504, que Zacuto escreveu uma história
cronológica dos judeus, desde a Criação
até 1500, intitulando-a Sefer ha-Juhasin e
na qual fêz realçar a literatura judaica."



"Em 1473 ainda em Salamanca, Zacuto
escreveu o "Biur Luhot" que publicado
em Leiria em 1496, numa tradução latina
por Joseph Vizinho, foi intitulado "Alma-
nach Perpetuum".

"Realmente o "grande astrólogo" com
a ajuda do seu discípulo Vizinho contribuiu
largamente para o progresso náutico de
Portugal, pois que a sua influência, devida
à sua sabedoria, não pode de maneira
alguma ser negada. A ciência de Zacuto
não foi sómente aproveitada pelos portu-
gueses, mas espanhóis, começando com
Colombo que possuía uma cópia do a Alma-
nach Perpetuum".

D. Manuel diz possuir um exemplar
desta obra absolutamente completo e num
estado de conservação perfeito e que tem
juntamente o texto em espanhol.

D. Manuel II termina assim o seu artigo:
"Zacuto tem o seu lugar entre os cosmó-
grafos e matemáticos que fizeram nascer
em Portugal a concepção de geografia e
aos quais se deve o desenvolvimento das
viagens de explorações. Foi para a reali-
zação desta missão que Zacuto e o seu
discípulo Vizinho tanto trabalharam e foi
para éste mesmo fim que o "Almanach Per-
petuum" foi traduzido do hebreu e publi-
cado em Leiria em 1496, ano anterior ao
que Vasco da Gama partira para a sua
viajem de descobrimentos.

"Este livro, por tantas razões precioso,
é para nós um monumento do passado
que indicou a Portugal o caminho a seguir
para alcançar o Zenith da sua glória."

O Sefer Ha-Yuh'asin (livro das genea-
logias) foi editado por Samuel Shalom em
Constantinopla em 1506 com várias omis-
sões e adições do editor.

Rabi Abraham Zacuto escreveu um
livro sôbre a alma, onde trata da sua imor-
talidade.

De Zacuto são também as obras:

-Sefzr Tekunat Zakhut, livro de astro-
nomia, que se perdeu em manuscrito.

-Arba'im La-Binah, tratado de Astro-
logia.

-Hosafot le Sefer ho-Arukh, dicionário
rabinico-arameano.

-Do Clima e sitio de Portugal.

Porto - Outono de 1945.


 
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