4 HA-LAPID ========================================== a 24 de Agosto de 1498 ao dar à luz o herdeiro do trono de Espanha e Portugal, que pouco lhe sobreviveu. O mérito e os titulos do Rabi D. Abraham Zacuto, e os grandes serviços por ele pres- tados como propulsor cientifico para a cria- ção do império colonial português, não o impediram de sofrer a sorte que afligia os seus irmãos em Portugal; vitima da real ingratidão, como êles foi atingido pela lei fanática de D. Manuel, e, se quis salvar os seus dias, foi obrigado a fingir que se con- vertia, esperando um momento favorável para ir para outra terra professar altamente a sua crença. No seu baptismo forçado o Rabi D. Abraham Ben-Samuel Zacuto recebeu o nome de Diogo Rodrigues Zacuto e o seu discípulo Mestre Joseph Vizinho o de Diogo Mendes. IV Aquêles que haviam sido feitos cristãos à força, logo que encontravam uma ocasião favorável, sob o pretexto de especulações comerciais passavam para o Levante; muitos iam buscar um asilo nos outros estados principalmente na Holanda e na Itália. Em 1502 o Rabi D. Abraham Zacuto, acompanhado por seu filho Samuel, conse- guiu fugir de Portugal, levando a vida errante e miserável de banido e não pôde escapar, senão com custo, à morte. Correu a viagem cheia de trabalhos, sendo por duas vezes feito prisioneiro, e conseguiu chegar a Tunis, onde encontrou tranquili- dade. Referindo-se a esta fuga, Gaspar Correia emprega as interessantes expressões, que transcrevo:-"... o dito judeu, chamado Çacuto, grande astrólogo, que depois fugiu de Portugal para Julfo como se passaram outros muitos, e lá morreu em sua errónia em o inimigo o cegou, tendo tanto saber das estrêlas ficar cego em tão claro dia como é nossa santa fé católica, e por esta causa passou neste ano de 1502 o pus aqui por sua memória, que isto escrevo neste ano de 1561. Deus seja para sempre lou- vado". Tendo encontrado tranqüilidade em Tu- nis o Rabi D. Abraham Zacuto começou a escrever uma história cronológica dos judeus desde a criação do mundo até ao fim do século XV, época na qual ela brilhou com o seu maior brilho, mas também onde ele foi objecto das mais terríveis catástrofes, Êste livro, intitulado Sefer Ha-Yoh'asin (Livro das Genealogias) é a cronologia mais exacta que tinha sido feita, fazendo constantes observações sôbre a literatura judaica; ela se recomenda além disso pela precisão do estilo hebreu. Nesta obra que Ribeiro dos Santos diz muito erudita e sábia. Zacuto dá conta da lei oral como transmitida de Moisés pelos anciãos, profetas e sábios até ao ano de 1500, e recorda os actos e monumentos dos reis de israel, assim como os de alguns dos soberanos das nações vizinhas. Consagra muito espaço ao cativeiro de Babilônia, aos acontecimentos que se deram durante o periodo do Segundo Templo, às caracte- rísticas dêste periodo, aos príncipes do cativeiro e aos reitores das academias de de Sura e Pumbadita. Apesar do autor não ser muito escrupuloso em discriminar fontes de informação e de ter caido em erros numerosos, afirma-se que é obra va- liosa para o estudo da história literária dos judeus. O historiador judeu Graetz diz: "Esta obra ressente-se, com efeito, da idade avan- çada e da situação precária do seu autor, a quem faltaram, de resto, documentos ne- cessários para escrever uma história séria. O Yoh'asin tem contudo um grande mérito, despertou entre os judeus o gôsto pelas investigações históricas". O Rabi Imanuel Aboab, no seu livro Nomologia, diz: "... trata o ex-professo Rabi Abraham Zacuto, no seu livro das Genealogias; e é obra digna de inteiro cré- dito, por quanto êle se achou presente a tudo, e assistia na Côrte de El-Rei D. Ma- nuel, com o título de seu astrólogo, na qual profissão foi excelentissimo, e havia lido Cátedra em Aragão". Rabi D. Abraham Zacuto terminou em Tunis o seu livro das Genealogias. Não tinham porém cessado os trabalhos da sua vida e poucos anos depois recomeçaram as suas atribulações. O Cardeal Cisneros, confessor da rainha de Espanha Isabel, a católica, arcebispo de Toledo e Inquisidor geral falou entusias- ticamente a El-Rei D. Fernando para o convencer a levar as armas espanholas à África afim de empreender a conquista de
N.º 130, Kislev-Tevet 5706 (Nov-Dez 1945)
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