HA-LAPID 3 ======================================= siva sobre o solo disputado, imaginamos que o homem do Evangelho e o homem do Koran, só podem encontrar-se com a espada em punho ou com a lança em riste... que o ódio destas duas raças, manso, inextinguível, cavou um abismo entre ambas. Trata-se de aniquilar os inimigos de Deus. Vencedor remiu seus pecados, vencido ganha a palma do már- tir..." "Tal é a ideia que resulta dos sucessos históricos à luz a que os antigos historia- dores as viram; ideia falsa (afirma-o Ale- xandre Herculano) em parte por incom- pleta, em parte por errada apreciação dos factos, em parte finalmente pela omissão voluntária ou ignorância destes". (História de Portugal, tomo III, livro VI, part. I. pág. 159 e seguintes). "Ideia falsa", ecoa no meu espírito, porque os judeus, perseguidos por faná- ticos almoadas procuram refúgio nos reinos cristãos e ao lado dos conquistadores se batem, lutam e vencem. Lembremos o mais célebre judeu dessa época: Jahia ben Jahia, tantas vezes injus- tamente esquecido ou intencionalmente apagado. Ibn-Kassi, mosarabe convertido ao isla- mismo chefia uma revolta e é para ele que Jahia ben Jahia conquista Mértola, onde Ibn- -Kassi instala a sua capital e onde governa, aliando-se com D. Afonso Henriques. Mais tarde Ibn-Kassi é vencido e preso. Jahia o herói de Mértola, refugia-se em Coimbra. capital de D. Afonso Henriques, que recebe com agrado e alegria esse bravo servidor do seu antigo aliado e fez dele o seu con- selheiro militar. O conquistador de Mer- tola, o mais forte castelo do Algarve, dis- cute com D. Afonso Henriques o plano de ataque a Santarém, o assalto mais arris- cado e temerário que era necessario para o engrandecimento do reino, a perigosís- sima escala desse ninho de águias. É Jahia que planeia a conquista de Santarém e acompanha o rei na sua ousada empresa. Tão bem se portou que D. Afonso Henri- ques o agraciou com o Senhorio de Unhos, Frielas e Aldeia dos Negros. Jahia, o pri- meiro rabi-mor de Portugal, acompanha sempre D. Afonso Henriques até que, em 1151. numa mal sucedida sortida contra Alcácer do Sal, cai, como soldado valente. mortalmente ferido em combate. Não preciso citar outros exemplos, basta o do primeiro rabi-mor para afirmar que estavam encorporados judeus no exército conquistador, que o sangue judeu selou a igualdade entre os lusitanos, quando um punhado de portugueses saltando de Coim- bra a Santarém, de Santarém a Lisboa, de Lisboa a Alcácer e de Alcácer a Silves, foi implantar no Algarve esse estandarte que brilhando em Sagres. havia de iluminar o oceano e iluminar o mundo. * Terminada a época da conquista do reino, ou intermeada com ela, encontramos a época de consolidapão: D. Sancho, o povoador. D. Diniz. o lavrador, D. Fer- nando. o da lei das sesmarias e das refor- mas agrárias. D. Sancho I nomeou Joseph ben Jahia. almoxarife-mor do reino; D. Sancho II admitiu israelitas em altos cargos da corte e altos cargos públicos designadamente na cidade de Lisboa: D. Afonso III reconhecia jurisdição do rabi-mor de Portugal como magistrado supremo sem recurso para os negócios judaicos e admitiu os judeus em altas situações dos negócios públicos e prin- cipalmente na corte e gerência do tesouro. No tempo do célebre D. Diniz, o lavrador, quando eram criadas as bases de recons- tituição económica que permitiram mais tarde os vôos largos das descobertas, era o rabi-mor D. Judah que geria os negócios da fazenda pública. D. Pedro confiou o cargo de almoxarife-mor do reino a D. Moi- sés Navarro, cargo que este exerceu ainda no tempo de D. Fernando e em que lhe sucedeu, mais tarde outro judeu, D. Mosseh Chavirol. Se na época da conquista o sangue judeu corria irmanado com o dos outros portugueses, na época da consolidação os judeus não deixaram de colaborar na cons- trução do edificio público que impôs e cimentou a existência da nação portuguesa. * Chegamos ao periodo áureo da criação da escola de Sagres e da epopeia marítima. O patrono dessa escola náutica é o Infante de Sagres que lhe dedica a sua actividade. mas o técnico contratado, o professor de
N.º 131, Shevat-Adar 5706 (Jan-Fev 1946)
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