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N.º 131, Shevat-Adar 5706 (Jan-Fev 1946)







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             HA-LAPID                3
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siva sobre o solo disputado, imaginamos
que o homem do Evangelho e o homem
do Koran, só podem encontrar-se com a
espada em punho ou com a lança em
riste... que o ódio destas duas raças,
manso, inextinguível, cavou um abismo
entre ambas. Trata-se de aniquilar os
inimigos de Deus. Vencedor remiu seus
pecados, vencido ganha a palma do már-
tir..."

"Tal é a ideia que resulta dos sucessos
históricos à luz a que os antigos historia-
dores as viram; ideia falsa (afirma-o Ale-
xandre Herculano) em parte por incom-
pleta, em parte por errada apreciação dos
factos, em parte finalmente pela omissão
voluntária ou ignorância destes". (História
de Portugal, tomo III, livro VI, part. I.
pág. 159 e seguintes).

"Ideia falsa", ecoa no meu espírito,
porque os judeus, perseguidos por faná-
ticos almoadas procuram refúgio nos reinos
cristãos e ao lado dos conquistadores se
batem, lutam e vencem.

Lembremos o mais célebre judeu dessa
época: Jahia ben Jahia, tantas vezes injus-
tamente esquecido ou intencionalmente
apagado.

Ibn-Kassi, mosarabe convertido ao isla-
mismo chefia uma revolta e é para ele que
Jahia ben Jahia conquista Mértola, onde Ibn-
-Kassi instala a sua capital e onde governa,
aliando-se com D. Afonso Henriques. Mais
tarde Ibn-Kassi é vencido e preso. Jahia
o herói de Mértola, refugia-se em Coimbra.
capital de D. Afonso Henriques, que recebe
com agrado e alegria esse bravo servidor
do seu antigo aliado e fez dele o seu con-
selheiro militar. O conquistador de Mer-
tola, o mais forte castelo do Algarve, dis-
cute com D. Afonso Henriques o plano de
ataque a Santarém, o assalto mais arris-
cado e temerário que era necessario para
o engrandecimento do reino, a perigosís-
sima escala desse ninho de águias. É Jahia
que planeia a conquista de Santarém e
acompanha o rei na sua ousada empresa.
Tão bem se portou que D. Afonso Henri-
ques o agraciou com o Senhorio de Unhos,
Frielas e Aldeia dos Negros. Jahia, o pri-
meiro rabi-mor de Portugal, acompanha
sempre D. Afonso Henriques até que, em
1151. numa mal sucedida sortida contra
Alcácer do Sal, cai, como soldado valente.
mortalmente ferido em combate.



Não preciso citar outros exemplos, basta
o do primeiro rabi-mor para afirmar que
estavam encorporados judeus no exército
conquistador, que o sangue judeu selou a
igualdade entre os lusitanos, quando um
punhado de portugueses saltando de Coim-
bra a Santarém, de Santarém a Lisboa, de
Lisboa a Alcácer e de Alcácer a Silves, foi
implantar no Algarve esse estandarte que
brilhando em Sagres. havia de iluminar o
oceano e iluminar o mundo.

                *

Terminada a época da conquista do
reino, ou intermeada com ela, encontramos
a época de consolidapão: D. Sancho, o
povoador. D. Diniz. o lavrador, D. Fer-
nando. o da lei das sesmarias e das refor-
mas agrárias.

D. Sancho I nomeou Joseph ben Jahia.
almoxarife-mor do reino; D. Sancho II
admitiu israelitas em altos cargos da corte
e altos cargos públicos designadamente na
cidade de Lisboa: D. Afonso III reconhecia
jurisdição do rabi-mor de Portugal como
magistrado supremo sem recurso para os
negócios judaicos e admitiu os judeus em
altas situações dos negócios públicos e prin-
cipalmente na corte e gerência do tesouro.
No tempo do célebre D. Diniz, o lavrador,
quando eram criadas as bases de recons-
tituição económica que permitiram mais
tarde os vôos largos das descobertas, era
o rabi-mor D. Judah que geria os negócios
da fazenda pública. D. Pedro confiou o
cargo de almoxarife-mor do reino a D. Moi-
sés Navarro, cargo que este exerceu ainda
no tempo de D. Fernando e em que lhe
sucedeu, mais tarde outro judeu, D. Mosseh
Chavirol.

Se na época da conquista o sangue
judeu corria irmanado com o dos outros
portugueses, na época da consolidação os
judeus não deixaram de colaborar na cons-
trução do edificio público que impôs e
cimentou a existência da nação portuguesa.

                  *

Chegamos ao periodo áureo da criação
da escola de Sagres e da epopeia marítima.
O patrono dessa escola náutica é o Infante
de Sagres que lhe dedica a sua actividade.
mas o técnico contratado, o professor de


 
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