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N.º 131, Shevat-Adar 5706 (Jan-Fev 1946)







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nara ainda a epopeia maravilhosa dos des-
cobrimentos, quando uma politica de medo
falso e cobarde, sem largueza de vistas,
impõe uma cizão entre os portugueses.

É decretada a conversão geral, o con-
fisco dos bens, a expulsão: é ordenado
pelo Governo o rapto dos filhos dos ju-
deus e finalmente introduzida em Portugal
a inquisição.

Não devo deixar de mencionar a opo-
sição de vários Papas a essas medidas, o
acolhimento feito nos estados papais a ju-
deus emigrados e a gratidão que nós judeus
devemos a muitos cristãos dessa época en-
tre os quais quero salientar frei Diogo da
Silva, confessor de D. Manuel.

Quando as cartas pontificias de 17 de
Dezembro de 1531 autorizaram finalmente
a introdução da inquisição no país insti-
tuiram frei Diogo da Silva no posto de
inquisidor-mor, tendo só ele a faculdade
de delegar os seus poderes. Não exerceu
o logar nem delegou os seus poderes, pelo
que ficou sem execução essa bula ponti-
ficia.

Outra figura tantas vezes difamada ou
esquecida, deve ser lembrada: a do cris-
tão-novo Duarte da Paz. que no tempo de
D. João III, defende em Roma os interes-
ses dos judeus portugueses, opondo-se às
pretensões bárbaras e doentias do rei de
Portugal. Duarte da Paz, é esse portu-
guês desassombrado e brioso, mutilado
das guerras de Africa onde serviu o pais
e fora condecorado com a Cruz de Cristo,
que D. joão III manda apunhalar. O re-
presentante do rei junto do Papa descre-
vera-o nestes termos: "é audaz e solto;
sabe bem dizer sua razão; pede justiça;
parece que a tem ".

Soa a breve trecho o ano de 1580. Fi-
lipe II de Espanha é coroado em Lisboa e
para festejar a data realiza-se na Ribeira,
um auto de fé. Os novos súbditos do so-
berano espanhol escolhem para a ocasião
cinco condenados, dos quais quatro são
mulheres.

Portugal morre. queimando judeus.

                 *

Portugal morre, mas ressurge a breve
trecho. Soa a hora da restauração. Ces-
sam os poderes do Governo estrangeiro,
mas a esquadra portuguesa está desbara-



tada, o exército sem armamento e temos
de conquistar as colónias e enfrentar uma
guerra que durou 28 anos.

Aos judeus põe-se o dilema: fidelidade
à pátria que os maltratara e os expulsara
ou fidelidade aos países que os acolheram.
Dilema mais fácil de resolver pelos judeus
emigrados em França do que os judeus
acolhidos na Holanda ou mortificados no
Brasil.

Postos perante este dilema a atitude
dos judeus não é uniforme, julgo que
nenhum de nós pode vaiar nem os que
acorreram a auxiliar a restauração nem os
que, amarfanhados deixaram correr os
acontecimentos, nem os que ficaram fieis
à Holanda que os acolhera. O Governo
português da restauração não teve um
gesto de desassombro que os atraisse.

D. João 1V logo que assumiu o governo
da nação tem de pedir para ser conhecido
pelos paises da Europa, pedir-lhes mais: o
fornecimento de armamento. O arma-
mento tem de ser pago com açúcar e es-
peciarias e é necessário arranjar naus que
defendam as colónias e tragam essas espe-
ciarias.

O padre António Vieira, D. Luiz da
Cunha, frei Diniz de Lencastre, o conde
de Vidigueira, o Marquês de Nisa. Fran-
cisco de Sousa Coutinho. e alguns outros
reconhecem o auxilio que os judeus por-
tugueses lhes podem prestar.

O padre António Vieira, tentou ser o
grande defensor dos perseguidos pela in-
quisição.

Chegado do Brasil em 1641, propõe a
D. João IV, em 1643, o perdão geral e a
igualdade de direitos para a gente da
nação, a fim de os hebreus com os seus
cabedais enriquecerem o país.

Como embaixador de Portugal pro-
mete aos judeus de que poderiam regres-
sar à pátria isentos do procedimento do
santo oficio.

Os portugueses da Holanda oferecem
um socorro de 500 cavalos sustentados à
sua custa para a guerra contra Castela.
É com capitais judaicos que são formadas:
uma companhia para os negócios do Bra-
sil outra para as Indias. É essa Cia. Geral
do Brasil que salva a nossa maior colónia.
mantem o comércio com ela, conservando
no mar uma esquadra de 36 naus de
guerra de 20 a 30 peças cada uma. esqua-


 
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