HA-LAPID 5 ======================================== nara ainda a epopeia maravilhosa dos des- cobrimentos, quando uma politica de medo falso e cobarde, sem largueza de vistas, impõe uma cizão entre os portugueses. É decretada a conversão geral, o con- fisco dos bens, a expulsão: é ordenado pelo Governo o rapto dos filhos dos ju- deus e finalmente introduzida em Portugal a inquisição. Não devo deixar de mencionar a opo- sição de vários Papas a essas medidas, o acolhimento feito nos estados papais a ju- deus emigrados e a gratidão que nós judeus devemos a muitos cristãos dessa época en- tre os quais quero salientar frei Diogo da Silva, confessor de D. Manuel. Quando as cartas pontificias de 17 de Dezembro de 1531 autorizaram finalmente a introdução da inquisição no país insti- tuiram frei Diogo da Silva no posto de inquisidor-mor, tendo só ele a faculdade de delegar os seus poderes. Não exerceu o logar nem delegou os seus poderes, pelo que ficou sem execução essa bula ponti- ficia. Outra figura tantas vezes difamada ou esquecida, deve ser lembrada: a do cris- tão-novo Duarte da Paz. que no tempo de D. João III, defende em Roma os interes- ses dos judeus portugueses, opondo-se às pretensões bárbaras e doentias do rei de Portugal. Duarte da Paz, é esse portu- guês desassombrado e brioso, mutilado das guerras de Africa onde serviu o pais e fora condecorado com a Cruz de Cristo, que D. joão III manda apunhalar. O re- presentante do rei junto do Papa descre- vera-o nestes termos: "é audaz e solto; sabe bem dizer sua razão; pede justiça; parece que a tem ". Soa a breve trecho o ano de 1580. Fi- lipe II de Espanha é coroado em Lisboa e para festejar a data realiza-se na Ribeira, um auto de fé. Os novos súbditos do so- berano espanhol escolhem para a ocasião cinco condenados, dos quais quatro são mulheres. Portugal morre. queimando judeus. * Portugal morre, mas ressurge a breve trecho. Soa a hora da restauração. Ces- sam os poderes do Governo estrangeiro, mas a esquadra portuguesa está desbara- tada, o exército sem armamento e temos de conquistar as colónias e enfrentar uma guerra que durou 28 anos. Aos judeus põe-se o dilema: fidelidade à pátria que os maltratara e os expulsara ou fidelidade aos países que os acolheram. Dilema mais fácil de resolver pelos judeus emigrados em França do que os judeus acolhidos na Holanda ou mortificados no Brasil. Postos perante este dilema a atitude dos judeus não é uniforme, julgo que nenhum de nós pode vaiar nem os que acorreram a auxiliar a restauração nem os que, amarfanhados deixaram correr os acontecimentos, nem os que ficaram fieis à Holanda que os acolhera. O Governo português da restauração não teve um gesto de desassombro que os atraisse. D. João 1V logo que assumiu o governo da nação tem de pedir para ser conhecido pelos paises da Europa, pedir-lhes mais: o fornecimento de armamento. O arma- mento tem de ser pago com açúcar e es- peciarias e é necessário arranjar naus que defendam as colónias e tragam essas espe- ciarias. O padre António Vieira, D. Luiz da Cunha, frei Diniz de Lencastre, o conde de Vidigueira, o Marquês de Nisa. Fran- cisco de Sousa Coutinho. e alguns outros reconhecem o auxilio que os judeus por- tugueses lhes podem prestar. O padre António Vieira, tentou ser o grande defensor dos perseguidos pela in- quisição. Chegado do Brasil em 1641, propõe a D. João IV, em 1643, o perdão geral e a igualdade de direitos para a gente da nação, a fim de os hebreus com os seus cabedais enriquecerem o país. Como embaixador de Portugal pro- mete aos judeus de que poderiam regres- sar à pátria isentos do procedimento do santo oficio. Os portugueses da Holanda oferecem um socorro de 500 cavalos sustentados à sua custa para a guerra contra Castela. É com capitais judaicos que são formadas: uma companhia para os negócios do Bra- sil outra para as Indias. É essa Cia. Geral do Brasil que salva a nossa maior colónia. mantem o comércio com ela, conservando no mar uma esquadra de 36 naus de guerra de 20 a 30 peças cada uma. esqua-
N.º 131, Shevat-Adar 5706 (Jan-Fev 1946)
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