6 HA-LAPID ======================================== dra que ia buscar principalmente açúcar e outros produtos ao Brasil, que nos por- tos do norte da Europa eram trocados por pólvora, chumbo, couraças e mais artigos indispensáveis aos serviços de guerra. Manuel Fernandes Vila Real, judeu de Lisboa, Consul de Portugal em Paris pres- tou relevantes serviços a todos os nossos embaixadores, nas espinhosas missões de que estavam incumbidos. Duarte da Silva, em Lisboa, é outro judeu que entusiàsticamente serve a res- tauração. Patriotismo espinhoso e ingrato porque morrem ambos, mais tarde, supliciados pela inquisição. Razão tinha António Vieira quando es- crevia ao Marquês de Nisa (Cartas, pág. 85) referindo-se a portugueses: "a gente da- quele pais poucas vezes julga das causas com os olhos livres de paixão". Paixão essa que originou um dos maio- res e mais injustos gravames feitos aos ju- deus de Portugal, paixão essa que pagando a dedicação com a espoliação, o cárcere, a morte horrível pelo fogo, afastou do pais aqueles que o padre António Vieira, mis- sionário e embaixador de Portugal quis proteger e recompensar. Lembremos, por atestar a atitude digna dos judeus por- tugueses, o seguinte passo de uma carta daquele missionário e embaixador a Pedro Vieira da Silva (pág. 105) datada de 25 X 647: "Os proveitos que da execução deste negócio se esperam são infalíveis, e assim o prometem todos os "portugueses destas partes" que falam com menos re- ceio nas acções do que os que lá vivem" e a carta que o mesmo padre dirigiu aos judeus de Ruão em 20 de Abril de 1646 (pág. 93): "S. M. saberá muito cedo por cartas quão leais vassalos tem em Ruão e quão merecedores de estar perto de si... até agora o persuadia com argumentos de dis- cursos e daqui em diante o poderei fazer com experiência de vista". (Continua). ------------------------------------------ INSTITUTO TEOLÓGICO ISRAELITA Em breve será publicado em opúscuio o trabalho sobre D. Abraham Zacuto Documentário Marano Denúncia à Inquisição Aos quatorze dias do mês de Novembro de mil seiscentos e trinta e nove anos em Lisboa nos Estaos e casa do despacho da Santa Inquisição estando aí em audiência da manhã o senhor Inquisidor Diogo de Sousa mandou vir perante si a Duarte Gu- terres Estoque natural e morador nesta cidade por pedir mesa da sala desta Inqui- siçãou... e disse ser solteiro e filho de Guterres Romão Estoque e de Maria Fran- cisca, moradores nesta cidade e que será da idade de trinta e quatro anos. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Disse mais que haverá oito ou nove anos, pouco mais ou menos, na dita ci- dade de Amsterdam, na sinagoga dos ju- deus viu ele denunciante a um cristão novo, o qual estava na dita sinagoga com uma toalha branca, sinal com que costu- mam estar os judeus na dita sinagoga, e falando com o dito judeu português lhe disse que se chamava Manuel Dias Soeiro e que era natural da ilha da Madeira e depois soubera de outras pessoas que o dito cristão novo se chamava do dito nome e que era natural da dita ilha, o qual em hebraico se chamava na dita ci- dade Manassé Ben Israel e que era público Rabino e professor da lei de Moisés, o qual disse a ele declarante que tinha man- dado dois caixões de livros que tinha com- posto a Espanha um caixão e ao Brasil outro e que o livro se entitula Reconcilia- çones de la sagrada escritura, e que ele denunciante tem um dos ditos livros em seu poder que está ainda na alfandega e o trará a esta mesa. (Caderno 19 da Inquisição de Lisbon, fl. 21). Denúncia à Inquisição Aos desasseis dias do mês de Junho de mil e seiscentos e quarenta anos em Lisboa nos Estaos... o senhor deputado D. Leão de Noronha... mandou vir perante si a Roque Ferreira, mercador... disse que conhecera... a Manuel Dias Soeiro que tinha ofício de corrector em Holanda, o qual residiu muitos anos na ilha da Ma- deira, mas não sabe donde seja natural. (Caderno 19 da Inquisição de Lisboa, fl. 484).
N.º 131, Shevat-Adar 5706 (Jan-Fev 1946)
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