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N.º 131, Shevat-Adar 5706 (Jan-Fev 1946)







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dra que ia buscar principalmente açúcar
e outros produtos ao Brasil, que nos por-
tos do norte da Europa eram trocados por
pólvora, chumbo, couraças e mais artigos
indispensáveis aos serviços de guerra.

Manuel Fernandes Vila Real, judeu de
Lisboa, Consul de Portugal em Paris pres-
tou relevantes serviços a todos os nossos
embaixadores, nas espinhosas missões de
que estavam incumbidos.

Duarte da Silva, em Lisboa, é outro
judeu que entusiàsticamente serve a res-
tauração.

Patriotismo espinhoso e ingrato porque
morrem ambos, mais tarde, supliciados
pela inquisição.

Razão tinha António Vieira quando es-
crevia ao Marquês de Nisa (Cartas, pág. 85)
referindo-se a portugueses: "a gente da-
quele pais poucas vezes julga das causas
com os olhos livres de paixão".

Paixão essa que originou um dos maio-
res e mais injustos gravames feitos aos ju-
deus de Portugal, paixão essa que pagando
a dedicação com a espoliação, o cárcere, a
morte horrível pelo fogo, afastou do pais
aqueles que o padre António Vieira, mis-
sionário e embaixador de Portugal quis
proteger e recompensar. Lembremos, por
atestar a atitude digna dos judeus por-
tugueses, o seguinte passo de uma carta
daquele missionário e embaixador a Pedro
Vieira da Silva (pág. 105) datada de
25 X 647: "Os proveitos que da execução
deste negócio se esperam são infalíveis, e
assim o prometem todos os "portugueses
destas partes" que falam com menos re-
ceio nas acções do que os que lá vivem" e
a carta que o mesmo padre dirigiu aos
judeus de Ruão em 20 de Abril de 1646

(pág. 93):

"S. M. saberá muito cedo por cartas
quão leais vassalos tem em Ruão e quão
merecedores de estar perto de si... até
agora o persuadia com argumentos de dis-
cursos e daqui em diante o poderei fazer
com experiência de vista".

                         (Continua).
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INSTITUTO TEOLÓGICO ISRAELITA

Em breve será publicado em opúscuio
o trabalho sobre D. Abraham Zacuto

 

       Documentário Marano
      Denúncia à Inquisição

Aos quatorze dias do mês de Novembro
de mil seiscentos e trinta e nove anos em
Lisboa nos Estaos e casa do despacho da
Santa Inquisição estando aí em audiência
da manhã o senhor Inquisidor Diogo de
Sousa mandou vir perante si a Duarte Gu-
terres Estoque natural e morador nesta
cidade por pedir mesa da sala desta Inqui-
siçãou... e disse ser solteiro e filho de
Guterres Romão Estoque e de Maria Fran-
cisca, moradores nesta cidade e que será
da idade de trinta e quatro anos.
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
Disse mais que haverá oito ou nove
anos, pouco mais ou menos, na dita ci-
dade de Amsterdam, na sinagoga dos ju-
deus viu ele denunciante a um cristão
novo, o qual estava na dita sinagoga com
uma toalha branca, sinal com que costu-
mam estar os judeus na dita sinagoga, e
falando com o dito judeu português lhe
disse que se chamava Manuel Dias Soeiro
e que era natural da ilha da Madeira e
depois soubera de outras pessoas que o
dito cristão novo se chamava do dito
nome e que era natural da dita ilha, o
qual em hebraico se chamava na dita ci-
dade Manassé Ben Israel e que era público
Rabino e professor da lei de Moisés, o
qual disse a ele declarante que tinha man-
dado dois caixões de livros que tinha com-
posto a Espanha um caixão e ao Brasil
outro e que o livro se entitula Reconcilia-
çones de la sagrada escritura, e que ele
denunciante tem um dos ditos livros em
seu poder que está ainda na alfandega e o 
trará a esta mesa.
(Caderno 19 da Inquisição de Lisbon, fl. 21).

        Denúncia à Inquisição

Aos desasseis dias do mês de Junho de
mil e seiscentos e quarenta anos em Lisboa
nos Estaos... o senhor deputado D. Leão
de Noronha... mandou vir perante si a
Roque Ferreira, mercador... disse que
conhecera... a Manuel Dias Soeiro que
tinha ofício de corrector em Holanda, o
qual residiu muitos anos na ilha da Ma- 
deira, mas não sabe donde seja natural.
(Caderno 19 da Inquisição de Lisboa, fl. 484).


 
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