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N.º 131, Shevat-Adar 5706 (Jan-Fev 1946)







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arte de navegar que criou a escola dos
marinheiros e tornou possivel as desco-
bertas é o judeu Jacome de Maiorca.

João de Barros o grande historiador
português do século XVI, nas suas célebres
Décadas da Ásia (Dec. 1.°. Liv. 1, c-16)
afirma que "foi Jacome de Maiorca que
ensinou aos oficiais portugueses a arte de
navegar, a cartografia e a fabricação de
instrumentos náuticos".

Fontoura da Costa (Marinharia dos Des-
cobrimentos, pág. 4) chama a Jacome de
Maiorca o "homem sábio na arte de nave-
gação, fazendo cartas e instrumentos para
ensinar a sua ciência aos pilotos portugue-
ses" e afirma que "Jacome deve ter sido o
principal colaborador do infante".

Foi com os discípulos de Jacome de
Maiorca que Bartolomeu Dias, Pero de
Alenquer, Fernão de Magalhães, João de
Lisboa, Francisco Faleiro aprenderam a
nevegar, a desenhar cartas ou fabricar ins-
trumentos náuticos e a servir-se deles.

São judeus grande parte dos professo-
res, astrólogos, pilotos e cartógrafos. Cite-
mos entre os mais conhecidos Jehuda ibn
Verga, Zacuto, David-ben-llia. Jehuda Ben
Jahia Negro, Guedelha, José Vizinho, mes-
tre Moisés, João de Lisboa, mestre Rodrigo
e tantos outros sem esquecer a origem e
educação judaica de Pedro Nunes.

É a esta escola que Gago Coutinho se
refere, certamente, quando nega com fir-
meza que os descobrimentos portugueses
e designadamente a descoberta do Brasil
seja obra do acaso.

João de Barros-(Décadas da Ásia, 1.°.
Liv. 4, c-2) afirma que D. João II tinha
encarregado mestre Rodrigo, o Judeu, mes-
tre José Vizinho (judeu também) e Behaim
de estudar a aplicação da astronomia à
navegação, preparando assim as viagens
de Vasco da Gama, Pedro Alvares Cabral
e Afonso de Albuquerque.

José Vizinho, judeu de Viseu, foi à
Guiné para ali medir latitude pela altura
do sol e foi o autor de variadíssimos
estudos, entre eles a tábua solar que ser-
viu na sua viagem de 1485, e em todas as
que se lhe seguiram, incluindo as grandes
expedições marítimas de Diogo Cão e Bar-
tolomeu Dias.

Foi mestre João, fisico e cirurgião do
rei, que pela primeira vez regista o Cru-
zeiro do Sul, a constelação sem a qual os



navegadores não se poderiam orientar no
hemisférico austral logo que, chegados ao
equador, deixassem de ver a estrela polar

Fontoura da Costa citando José Vizinho,
mestre Rodrigo e o bispo de Ortiz, como
os três técnicos de D. João II, afirma que
era o primeiro que devia possuir mais só-
lida instrução astronómica (Marinharia dos
Descobrimentos, pág. 87).

Foi Zacuto que expôs ao rei a teoria
dos temporais, apresenta as tábuas de de-
clinação que ele próprio organizara e in-
dica a época mais favorável para a viagem
de Vasco da Gama. Foi Zacuto o respon-
sável pela viagem de Vasco da Gama, pois
o rei chamara-o a Beja (conta Gaspar Cor-
reia a fim de saber se era coisa possivel
-porque nada havia de fazer sem o seu
conselho".

Na armada de Pedro Alvares Cabral
seguiu como elemento importante o judeu
Gaspar da Gama, vulgarmente conhecido
por Gaspar das Indias, que em 1502 acom-
panhou também Vasco da Gama na sua se-
gunda viagem e, em 1505, segue para a
India com o primeiro vice-rei D. Francisco
de Almeida.

Pedro Nunes não esquecera a sua as-
cendência judaica, a contribuição valiosís-
sima dos estudiosos judeus, a colaboração
leal e intima de todos os portugueses,
quando escreve no seu tratado:

"Não há dúvida que as navegações
deste reino de cem anos a esta parte são
as maiores, mais maravilhosas, de mais
altas e discretas conjecturas que as de
nenhuma outra gente do mundo. Os
portugueses ousaram cometer o grande
mar oceano. Entraram por ele sem re-
ceio. Descobriram novas ilhas, novas
terras, novos mares, novos povos e o
que é mais: novo céu e novas estrelas."

Sim, direi eu, novo céu e novas estre-
las, aliando o braço ao pensamento, o en-
genho à bravura, a prudência à ousadia.
criando a paz nas almas e permitindo a
mais gloriosa colaboração entre todos os
portugueses.

                 *

Não permitiu o destino que essa glo-
riosa colaboração perdurasse. Não termi-


 
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