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N.º 135, Tishri-Kislev 5707 (Set-Nov 1946)







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 2             HA-LAPID
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            DON ISAC ABOAB

    (ÚLTIMO RABI-MOR DE CASTELA)
VEM REFUGIAR-SE E FINDAR OS SEUS DIAS NO PORTO

                 POR

       A. C. DE BARROS BASTO
              (Ben-Rosh)

Don Isac Aboab nasceu em Toledo
em 1433. Foi discípulo do Rabi D. Isac
Campaton, Rabi-mor de Castela, e suces-
sor do seu mestre no alto cargo de chefe
supremo dos judeus castelhanos. D. Isac
Aboab foi um comentador bíblico espanhol
muito notável, tendo deixado várias obras
suas, escritas em hebreu, cujo assunto
consta de sermões e comentários teoló-
gicos. Foi cognominado, por vários escri-
tores israelitas, "o último gaon de Castela".

Depois que os reis católicos Fernando
e Isabel decretaram a expulsão dos judeus,
em 1492, ele, com trinta outros dos mais
respeitáveis judeus da sua terra, chegou a
Lisboa com ordens de negociar com o rei
D. João II de Portugal para a recepção dos
seus correligionários banidos.

Ele e os seus companheiros foram habi-
tar em condições favoráveis no Porto.

Morreu, poucos meses depois da expul-
são, em Janeiro de 1493. O seu discípulo,
o cronista e matemático Rabi Abraham
Zacuto, dirigiu o seu funeral.

Muitos dos discípulos de Aboab atingi-
ram grandes distinções. Seu filho, Jacob
Ben-Isac Aboab, editou em 1538, em Cons-
tantinopla, a sua obra Nahar Pishon (Rio
Caudaloso) que é uma colecção de sermões.

Um seu parente, Imanuel Aboab, nascido
no Porto, no seu livro Nomologia, narra
estes acontecimentos da forma seguinte:

-"E deve saber o curioso leitor, que
em Castela foi mui estimado este senhor
dos Reis Fernando e Isabel; e logo que em
Março, do ano mil quatrocentos e noventa
e dois, fizeram em Granada a pragmática
dita contra os judeus, se foi o venerável
sábio, com outras trinta casas de nobres
Israelitas, a Portugal, a concertar com
El-Rei. que era então João, segundo daquele
nome, a quem sucedeu Emanuel. Foram
bem recebidos de El-Rei, e acordaram, que



pudessem entrar no Reino, seiscentas casas
de Judeus, com pagar-lhe oito escudos de
ouro cada um (como escreve Osório, apesar
que o Usque diz somente dois escudos) e
ao cabo de seis anos, lhes mandaria dar
navios acomodados, e por moderados pre-
ços, para poderem, sair de seus reinos, para
partes de África, ou Levante, como mais
quisessem. A estas trinta famílias mandou
El-Rei acomodar na cidade do Porto; e fez
que a cidade desse a cada uma delas uma
casa; como deram mui cómodas, na rua
que chamam de S. Miguel, e em meio de
todas elas estava a Sinagoga, que eu me
recordo haver visto ainda na minha meni-
nez sem estar derrocada.

"Tinham as ditas trinta casas um P.
por armas, que mostrava o nome da cidade.

Pagavam de pensão, cinquenta reis, ou
maravedis cada uma à cidade, e ela lhes
fazia empedrar a rua; uma destas trinta
casas era a de meu avô o senhor Abraham
Aboab, a quem o Senhor perdoe. Sucedeu
então aquela crueldade enormíssima, de
mandar El-Rei dom João levar muitos me-
ninos dos Hebreus às Ilhas que chamam
dos Lagartos; por causa de haverem pas-
sado a Portugal mais número de gente, que
as seiscentas casas capituladas. A todos
os que foram de mais, condenou El-Rei, e
tomou por seus escravos, e aos filhos ino-
centes mandou levar às ditas ilhas dos
Lagartos.

"Antes de ver este lastimoso espectá-
culo, e os outros que lhe sucederam nos
anos seguintes passou a gozar a vida eterna
o bendito Rab; e entendo que está sepul-
tado na cidade do Porto. De todos os seus
discípulos, que foram muitos, e mui exce-
lentes, não acho que haja passado algum a
Portugal, além do Rabi Abraham Zacuto.
Astrónomo de El-Rei dom Manuel: o qual
conta a morte do seu honrado mestre, e


 
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