HA-LAPID 7 ======================================= duais. em lugar de ser uma Junção numa fé comum. De todos os cultos da antiguidade. dois somente subsistiram. Marduk não tem já altar em Babilônia; Rá, a divindade solar dos egípcios, não conduz mais as almas da obscuridade para a luz; o grande Osiris não tem já fiéis e as divindades de Roma e de Atenas não existem mais para nenhuma consciência religiosa. Mas o par- sismo e o judaismo, estas duas velhas reli- giões que outrora tiveram entre si estreitas relações, continuam a viver. Os nomes divinos, pelos quais se traduzem as suas crenças respectivas. têm ainda um sentido nas preces dos seus adoradores. Ahura- -Mazda, o Senhor da luz é venerado nas comunidades dos parses, pouco numerosos, mas notáveis pela pureza dos seus costu- mes, e o Nome sagrado, incomunicável, o Tetragrama. que prostrava Israel num santo tremor quando. um só dia no ano, ele era pronunciado pelo grande sacer- dote no Templo de Jerusalém, une ainda nos nossos dias os judeus do mundo inteiro. Estas duas religiões conservaram sem- pre o simbolo da luz. Os padres parses mantêm nos seus templos o fogo sagrado cobrindo os seus rostos com um véu, com medo de o manchar com o seu hálito e, depois da destruição do santuário de Jerusalém, onde as lâmpadas do candeeiro de sete ramos ardiam constantemente diante do Santo dos santos, Israel manteve nas suas sinagogas a ner tamid (lâmpada pe- rene) da Sinagoga, acesa diante da Thorah que representa toda a sua herança sagrada. Mas a lámpada perpétua simboliza em Israel a continuidade da sua fé e das suas esperanças, a comparticipação para todo o povo judeu do tesouro de crenças legado pelos pais. É um simbolo colectivo que vale por si próprio; ele exprime bem melhor a grandeza do passado e a riqueza das suas recordações que a vida religiosa da época presente, em que a tibieza e a ignorancia o arrebatam sobre a sabedoria e a piedade. Não houvesse mais judeu crente e prati- cante numa comunidade, a ner tamid da Sinagoga abandonada guardaria ainda todo o seu valor de emblema. Não é o mesmo para o candeeiro de Hanukah. As suas luzes não são somente destinadas a iluminar a sinagoga, elas de- vem brilhar em todas as moradas judaicas. O seu número vai aumentando cada dia uma unidade durante toda a oitava da festa. E' uma luz viva e progressiva. Ela indica que a religião de lsrael exige de cada um dos seus verdadeiros fiéis um esforço cons- tante e pessoal para manter e enriquecer o seu património sagrado, para preservar e desenvolver este legado precioso, para orga- nizar e propagar a sua acção beneficente. E' preciso cada dia uma mão piedosa para acender a menorah (candeeiro). E' preciso cada dia um acto de vontade, de fé, e cora- gem, talvez um sacrifício para ser um judeu consciente, capaz de transmitir fielmente às gerações futuras. acrescido e não diminuído, o depósito recebido dos antepassados. E' de bom augúrio constatar que no judaismo moderno. onde a vida religiosa é tão anémica e cujas instituições tradicionais sofrem dum desequilíbrio que ferem todas as atenções, a festa de Hanukah tem um reganho de popularidade. O movimento empreendida em favor do renascimento ju- daico sobre a terra blblica não é estranho a isso. A ideia que novas páginas iam jun- tar-se à história de Israel na pátria dos pro- fetas valorizou as recordações do passado. O espirito dos Macabeus revelou-se nos pioneiros da restauração palestínense; como os filhos de Matatias, eles declararam-se prontos a consagrar a sua vida pela causa que queriam servir e muitos túmulos de jovens e raparigas povoam já os cemitérios da Judeia. Mas nós sabemos que nada de grande se faz cá na terra sem o sacrifício e não nos espantemos, que, triunfando das diliculdades e dos perigos da empresa pela fé do ideal reencontrado. os filhos tenham feito de novo brilhar as luzes de Hanukah que os pais, indiferentes. tinham já há muito tempo deixado apagadas. A Escritura aplica o simbolo da luz ao próprio Deus: "O Senhor é a minha luz e a minha salvação"- exclama o Salmista (S. 29. 1); na revelação que ele faz à alma humana: "E' pela tua luz que nós vemos a luz (S. 36, 16)"; à lei divina: "A tua palavra é uma lâmpada que ilumina os meus passos, uma luz sobre o meu cami- nho (S. 119, 105); à consciência que o mal oblitera e abafa: "A luz do malvado ex- tinguir-se-á e a chama que lhe fora dada cessará de brilhar" (Job 18, 5). Haveria um longo e interessante estudo a fazer sobre os numerosos textos blblicos nos
N.º 135, Tishri-Kislev 5707 (Set-Nov 1946)
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