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N.º 135, Tishri-Kislev 5707 (Set-Nov 1946)







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como ele darsou, ou fez sermão nos seus
funerais."

Deste relato de Imanuel Aboab vemos
que as trinta familias de judeus castelhanos,
que vieram refugiar-se no Porto, se insta-
laram na rua de S. Miguel, na parte hoje
chamada de S. Bento da Vitória, em casas
que em grande parte foram demolidas para
a construção do convento de S. Bento e da
Cadeia da Relação; e em meio de todas elas
estava a Sinagoga, diz Aboab, e eu informo
o leitor que a Sinagoga, ou Esnoga, como
diz o povo, era no local da actual Igreja
de S. Bento da Vitória.

A Sinagoga da Judaría de Olival tinha
o mesmo comprimento que a Igreja de
S. Bento da Vitória, não incluindo a ca-
pela-mor. Ainda existe a cornija da antiga
Esnoga, a qual se pode ver, entre o teto e
o telhado da ala norte do convento bene-
ditino; começando ela junto à fachada
oriental da igreja, percorre toda a fachada
lateral sul e dobrando em ângulo recto
segue a fachada ocidental até ao edifício
da capela-mor, onde é interrompida. Por
isso se verifica que a Sinagoga tinha o
mesmo cumprimento que a igreja e é de
presumir que a largura, atendendo-se às
proporções estéticas, fosse sensivelmente a
mesma. Comemorando a transformação
da Esnoga em edifício cristão, ainda hoje
existe gravada na padieira da porta lateral
do átrio, na parede mestra, ao lado es-
querdo de quem entra na igreja de S. Bento,
a seguinte legenda:

Quae Fuerat Sedes Tenebrarum
Est Regia Solis
Expulsis Tenebris Sol Benedictus Ovat

cuja tradução, seja isto dito para o leitor
desconhecedor da lingua latina é: Aqui,
que foi a sede das trevas, é sede real do
Sol; expulsas as trevas o sol beneditino
está triunfante.

Imanuel Aboab, que nos informa ter o
último Rabi-mor de Castela findado os
seus dias na cidade do Porto e ter sido
sepultado no cemitério israelita desta ci-
dade, ter vindo dirigir o funeral e ter dis-
cursado nele o célebre astrônomo Rabi
Abraham Zacuto, nasceu nesta cidade nor-
tenha, não se sabendo quando saiu de cá.
Sabemos que ele residiu muitos anos em
Veneza, onde morreu em 1628.



Após a sua morte, os seus parentes e
herdeiros fizeram imprimir em 1629 a sua
obra, já terminada em 1625. Esta obra,
chamada Nomologia, é uma história e apo-
logia da tradição judaica, contendo também
várias noticias sobre a história dos judeus
em geral e sobretudo dos judeus espanhóis
e portugueses.

Temos falado. em cemitério judaico no
Porto e ainda não dissemos onde estava
situado e por isso agora o vamos fazer.

O cemitério israelita do Porto era na
encosta do Monte das Virtudes, no terreno
que ficava limitado pelas muralhas da
cidade, Calçada das Virtudes para Mira-
gaia. Rio Frio, actual capela do Espirito
Santo e Pedra Escorregadia. Esta pedra
ou rocha ficava próximo do postígo das
Virtudes e duma parte da actual rua da
Cordoaria Velha, voltada para S. Pedro de
Miragaia.

No Arquivo Municipal do Porto vários
documentos existem referindo-se ao cemi-
tério judaico desta cidade. Transcrevo dois
destes documentos, onde se indica clara-
mente onde estava situado esse campo de
repouso dos mortos israelitas:

"Em nome de Deus, amém. Saibam
quantos este estormento de aforamento para
sempre virem que no ano do nascimento
de nosso senhor Jesus Cristo de mil qua-
trocentos e cinquenta e dois anos, aos vinte
e dois dias do mês de Abril, na cidade do
Porto, na Camara da Rollaçon dessa mesma
cidade, sendo af presentes os honrados
Fernan Vieira, Afonso Anes Aranha, verea-
dores e Eitor Moreira, procurador, e outros
homens bons da dita cidade aforavam e
por aforamento para sempre davam a Go-
mes Pirez, sobrinho de Vicente Cerveira,
que presente estava e a Leonor Eanes sua
mulher, não presente, moradores em Mira-
gaia, arrabalde da dita cidade, para eles e
para todos os seus herdeiros e sucessores,
que depois ele vierem, e para quem a eles
prouver, umas barreiras. que estão junto
com o rio de San Pedro de Miragaia, que
partem dum cabo com lugar de Fernan
Vieira e Luiz Eanes seu irmão, e por cima
contra o Monte, parte com o jazigo dos
judeus, e da outra parte com a estrada, que
vai para Miragaia, as quais barreiras lhes
aforavam com todas suas entradas, saidas
novas e antigas, como pertence á dita


 
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