HA-LAPID 3 ========================================== como ele darsou, ou fez sermão nos seus funerais." Deste relato de Imanuel Aboab vemos que as trinta familias de judeus castelhanos, que vieram refugiar-se no Porto, se insta- laram na rua de S. Miguel, na parte hoje chamada de S. Bento da Vitória, em casas que em grande parte foram demolidas para a construção do convento de S. Bento e da Cadeia da Relação; e em meio de todas elas estava a Sinagoga, diz Aboab, e eu informo o leitor que a Sinagoga, ou Esnoga, como diz o povo, era no local da actual Igreja de S. Bento da Vitória. A Sinagoga da Judaría de Olival tinha o mesmo comprimento que a Igreja de S. Bento da Vitória, não incluindo a ca- pela-mor. Ainda existe a cornija da antiga Esnoga, a qual se pode ver, entre o teto e o telhado da ala norte do convento bene- ditino; começando ela junto à fachada oriental da igreja, percorre toda a fachada lateral sul e dobrando em ângulo recto segue a fachada ocidental até ao edifício da capela-mor, onde é interrompida. Por isso se verifica que a Sinagoga tinha o mesmo cumprimento que a igreja e é de presumir que a largura, atendendo-se às proporções estéticas, fosse sensivelmente a mesma. Comemorando a transformação da Esnoga em edifício cristão, ainda hoje existe gravada na padieira da porta lateral do átrio, na parede mestra, ao lado es- querdo de quem entra na igreja de S. Bento, a seguinte legenda: Quae Fuerat Sedes Tenebrarum Est Regia Solis Expulsis Tenebris Sol Benedictus Ovat cuja tradução, seja isto dito para o leitor desconhecedor da lingua latina é: Aqui, que foi a sede das trevas, é sede real do Sol; expulsas as trevas o sol beneditino está triunfante. Imanuel Aboab, que nos informa ter o último Rabi-mor de Castela findado os seus dias na cidade do Porto e ter sido sepultado no cemitério israelita desta ci- dade, ter vindo dirigir o funeral e ter dis- cursado nele o célebre astrônomo Rabi Abraham Zacuto, nasceu nesta cidade nor- tenha, não se sabendo quando saiu de cá. Sabemos que ele residiu muitos anos em Veneza, onde morreu em 1628. Após a sua morte, os seus parentes e herdeiros fizeram imprimir em 1629 a sua obra, já terminada em 1625. Esta obra, chamada Nomologia, é uma história e apo- logia da tradição judaica, contendo também várias noticias sobre a história dos judeus em geral e sobretudo dos judeus espanhóis e portugueses. Temos falado. em cemitério judaico no Porto e ainda não dissemos onde estava situado e por isso agora o vamos fazer. O cemitério israelita do Porto era na encosta do Monte das Virtudes, no terreno que ficava limitado pelas muralhas da cidade, Calçada das Virtudes para Mira- gaia. Rio Frio, actual capela do Espirito Santo e Pedra Escorregadia. Esta pedra ou rocha ficava próximo do postígo das Virtudes e duma parte da actual rua da Cordoaria Velha, voltada para S. Pedro de Miragaia. No Arquivo Municipal do Porto vários documentos existem referindo-se ao cemi- tério judaico desta cidade. Transcrevo dois destes documentos, onde se indica clara- mente onde estava situado esse campo de repouso dos mortos israelitas: "Em nome de Deus, amém. Saibam quantos este estormento de aforamento para sempre virem que no ano do nascimento de nosso senhor Jesus Cristo de mil qua- trocentos e cinquenta e dois anos, aos vinte e dois dias do mês de Abril, na cidade do Porto, na Camara da Rollaçon dessa mesma cidade, sendo af presentes os honrados Fernan Vieira, Afonso Anes Aranha, verea- dores e Eitor Moreira, procurador, e outros homens bons da dita cidade aforavam e por aforamento para sempre davam a Go- mes Pirez, sobrinho de Vicente Cerveira, que presente estava e a Leonor Eanes sua mulher, não presente, moradores em Mira- gaia, arrabalde da dita cidade, para eles e para todos os seus herdeiros e sucessores, que depois ele vierem, e para quem a eles prouver, umas barreiras. que estão junto com o rio de San Pedro de Miragaia, que partem dum cabo com lugar de Fernan Vieira e Luiz Eanes seu irmão, e por cima contra o Monte, parte com o jazigo dos judeus, e da outra parte com a estrada, que vai para Miragaia, as quais barreiras lhes aforavam com todas suas entradas, saidas novas e antigas, como pertence á dita
N.º 135, Tishri-Kislev 5707 (Set-Nov 1946)
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