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N.º 135, Tishri-Kislev 5707 (Set-Nov 1946)







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 4               HA-LAPID
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         O DIA DO GRANDE PERDÃO

             POR LUIZ GOLDING

Era o dia dos dias, o dia do Grande
Perdão. Neste dia, o Deus de Israel pro-
meteu perdoar a seus filhos. de os lavar
para que eles sejam puros de todo o pecado
perante o Senhor. Mas para isto, quanta
contrição, quantas lágrimas, quantos peitos
batidos! Quantos silêncios súbitos, into-
leráveis, imprevistos, caldos sobre todos
estes homens e sobre todas estas mulheres,
e sobre todas estas crianças, como se cada
um, durante este longo momento estivesse
cheio da presença imediata de Deus! De-
pois, o furacão das lamentações, como uma
torrente barrada que, forçando os obstá-
culos, é mais tumultuosa ainda.

O serviço da manhã começava na pe-
quena sinagoga de Begley Hill. Desde a
véspera, à noite, nenhuma água tinha desal-
terado estas bocas secas ou refrescado estas
frontes febris; e assim seria até ao fim
deste longo dia, até ao momento em que
soasse a buzina de chifre de carneiro. Era
a hora em que a fome e a sede se faziam
sentir mais vivamente, se nos abandonar-
mos a pensar nisso. Porque, à medida
que o dia progredia, os corpos tornavam-se
pesados por uma atmosfera abafada, e as



almas deixavam afrouxar a expansão dos
seus arrebatamentos. E à tarde, à excep-
ção dos mais piedosos, todos se agrupa-
vam próximo da porta da sinagoga, ou
passeavam ao acaso. durante alguns minu-
tos, com a cabeça cheia destas lamentações.
Depois regressavam, tornavam a subir a
pequena escada sombria, com o olhar des-
vairado, e iam assentar-se perto da Arca,
ou debaixo da Tribuna. ou ao lado da
porta, conforme a sua categoria. E a ora-
ção do dia não se interrompia nem um
instante, e as lágrimas continuavam a cor-
rer, e durante todo o dia, batiam com as
mãos no peito. Mas os mais austeros den-
tre eles não mexiam. Eles ficavam de pé
todo o dia de dor da mesma forma, esta
mulherzinha de olhos castanhos, que man-
tém afastada das outras encostada contra a
grade que separa a parte das mulheres da
verdadeira sinagoga. Esta mulher é Lea
(é digna de lástima, e que por ela se der-
rame uma lágrima) a mulher do que se
não pode nomear, do abominável. Ela tem
um filho, Ruben. Ele está lá, na sinagoga,
escondido atrás da tribuna, no banco dos
pobres, e o seu lugar quase nada lhe cus-



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cidade, e que ele Gomes Pirez e e sua
mulher e herdeiros e sucessores façam em
eles..."

O outro documento diz:

- "... Um cerrado tapado de parede,
com suas arvores de fruta e laranjeiras, o
qual está acima do dito arrabalde de Mira-
gaia, onde chamam a pedra escorregadia,
que parte de uma parte com enxido e cer-
rado de Afonso Pires, cordeiro, e da outra
com o chão desta pedra, que se chama e foi
jazigo dos judeus e por fraga e caminho
que desce da Porta do Olival para Miragaia
com as mais confrontações que de direito
partir deve..."

Como este documento é datado de 19
de Agosto de 1536. e nele se afirma que o



terreno junto à Pedra Escorregadia se
chama e foi jazigo dos judeus é porque
nessa data ali não existia tal cemitério, não
tendo eu conseguido saber para onde foram
removidos os cadáveres ali existentes, nem
qual o destino das lápides sepulcrais, cujas
inscrições podiam fazer muita luz sobre a
vida judaica portuense.

                 NOTAS

GAON-Palavra hebraica que significa
- majestade, sublimidade.

DARSOU -Palavra aportuguesada do
hebraico Darash-discursar.

DARUSH - Significa - discurso, sermão.

RAB-Mestre em teologia, equivalente
a doutor em teologia hebraica.

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Visado pela Comissão de Censura


 
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