4 HA-LAPID =========================================== O DIA DO GRANDE PERDÃO POR LUIZ GOLDING Era o dia dos dias, o dia do Grande Perdão. Neste dia, o Deus de Israel pro- meteu perdoar a seus filhos. de os lavar para que eles sejam puros de todo o pecado perante o Senhor. Mas para isto, quanta contrição, quantas lágrimas, quantos peitos batidos! Quantos silêncios súbitos, into- leráveis, imprevistos, caldos sobre todos estes homens e sobre todas estas mulheres, e sobre todas estas crianças, como se cada um, durante este longo momento estivesse cheio da presença imediata de Deus! De- pois, o furacão das lamentações, como uma torrente barrada que, forçando os obstá- culos, é mais tumultuosa ainda. O serviço da manhã começava na pe- quena sinagoga de Begley Hill. Desde a véspera, à noite, nenhuma água tinha desal- terado estas bocas secas ou refrescado estas frontes febris; e assim seria até ao fim deste longo dia, até ao momento em que soasse a buzina de chifre de carneiro. Era a hora em que a fome e a sede se faziam sentir mais vivamente, se nos abandonar- mos a pensar nisso. Porque, à medida que o dia progredia, os corpos tornavam-se pesados por uma atmosfera abafada, e as almas deixavam afrouxar a expansão dos seus arrebatamentos. E à tarde, à excep- ção dos mais piedosos, todos se agrupa- vam próximo da porta da sinagoga, ou passeavam ao acaso. durante alguns minu- tos, com a cabeça cheia destas lamentações. Depois regressavam, tornavam a subir a pequena escada sombria, com o olhar des- vairado, e iam assentar-se perto da Arca, ou debaixo da Tribuna. ou ao lado da porta, conforme a sua categoria. E a ora- ção do dia não se interrompia nem um instante, e as lágrimas continuavam a cor- rer, e durante todo o dia, batiam com as mãos no peito. Mas os mais austeros den- tre eles não mexiam. Eles ficavam de pé todo o dia de dor da mesma forma, esta mulherzinha de olhos castanhos, que man- tém afastada das outras encostada contra a grade que separa a parte das mulheres da verdadeira sinagoga. Esta mulher é Lea (é digna de lástima, e que por ela se der- rame uma lágrima) a mulher do que se não pode nomear, do abominável. Ela tem um filho, Ruben. Ele está lá, na sinagoga, escondido atrás da tribuna, no banco dos pobres, e o seu lugar quase nada lhe cus- ------------------------------------------ cidade, e que ele Gomes Pirez e e sua mulher e herdeiros e sucessores façam em eles..." O outro documento diz: - "... Um cerrado tapado de parede, com suas arvores de fruta e laranjeiras, o qual está acima do dito arrabalde de Mira- gaia, onde chamam a pedra escorregadia, que parte de uma parte com enxido e cer- rado de Afonso Pires, cordeiro, e da outra com o chão desta pedra, que se chama e foi jazigo dos judeus e por fraga e caminho que desce da Porta do Olival para Miragaia com as mais confrontações que de direito partir deve..." Como este documento é datado de 19 de Agosto de 1536. e nele se afirma que o terreno junto à Pedra Escorregadia se chama e foi jazigo dos judeus é porque nessa data ali não existia tal cemitério, não tendo eu conseguido saber para onde foram removidos os cadáveres ali existentes, nem qual o destino das lápides sepulcrais, cujas inscrições podiam fazer muita luz sobre a vida judaica portuense. NOTAS GAON-Palavra hebraica que significa - majestade, sublimidade. DARSOU -Palavra aportuguesada do hebraico Darash-discursar. DARUSH - Significa - discurso, sermão. RAB-Mestre em teologia, equivalente a doutor em teologia hebraica. ----------------------------------- Visado pela Comissão de Censura
N.º 135, Tishri-Kislev 5707 (Set-Nov 1946)
> P04