HA-LAPID 3 ========================================= uma loja de um marinheiro, pela qual na forma do consentimento de El-Rei D. João, filho de El-Reí D. Pedro, o Con- celho emprassa para comuna e povoação dos judeus da cidade e termo o Campo do Olival". No reinado de D. joão I, como não fosse suficiente essa judiaria, para o alo- jamento de todos os judeus, o mesmo monarca, em 1386, ordenou Câmara que assinasse lugar aos ditos judeus no campo do Olival, para aí fazerem moradia, como se vê no mesmo documento acima citado. Era a judiaria limitada, pouco mais ou menos pela área que circuita quem hoje segue, pelas ruas de S. Bento da Vitória, Escadas da Esnoga, Belomonte, continuando esta por toda a rua das Taipas, Subia em seguida toda a Vitória até à Parada (Víela do Ferraz) onde o povo se exercítava a jogar a besta. Nela formaram os judeus uma comuna com rabi e mais vereadores, sendo também residência do ouvidor da Comarca de Entre-Douro e Minho. Pagavam estes à Câmara, pelo foro do terreno, a pensão perpétua de 200 maravedis velhos, com a qual tertilharam em 1396. Esta judiaria encravada na cidade tinha duas portas, uma no Olival, onde actual- -mente se encontra a fonte da cadeia, e a outra que fechava a saida, das Escadas da Esnoga. As portas eram de ferro maciço, lavradas e enriquecidas com alegorias hebraicas. A área que compreendia a judíaria era limitada por casas que não possuíam saída para as ruas cristãs, que com ela vizi- nhavam. A sinagoga estava situada na actual rua de S. Bento da Vitória, no local onde existe hoje a igreja de S. Bento. Ainda à pouco se podia observar uma inscrição, comemo- rando a transformação da Sinagoga em templo cristão, gravada na padieira da Porta lateral do átrio. Ricardo jorge no seu trabalho-Ori- gens e desenvolvimento da cidade do Porto -díz-nos- "...ter-se-ia operado em toda a Peninsula a cretinização absoluta, pela selecção do queimadeiro e pela educação fradesca:" E acrescenta: "Enquanto os ju- deus portugueses davam riqueza à Holanda e Spinosa ao mundo, nós empobreciamos e bestificávamo-nos na mais suez beatitude que dar se pode". * * * Não foi o Porto, certamente, um centro de cultura judaica como Lisboa, que com a sua academia representou o foco mais in- tenso da cultura hebraica portuguesa. Não viveram aqui David Kimchi, nem Moseh ben Chabib, grandes mestres de gramática. No entanto os judeus portuen- ses, não ficaram indiferentes ao movimento cultural português, "Colaboraram valio- samente - escreveu Ricardo Jorge-no fo- mento comercial e na prosperidade do Porto, e contava em seu seio os homens mais ilus- tres e sabedores". Uns foram para a França, outros para a Holanda, e nesses paises se tornaram profes- sores das mais afamadas escolas do tempo. Ainda que não nos seja possivel falar de todos, recordemos alguns dos judeus por- tuenses mais ilustres. Abraham Ferrar, nobiltssimo médico e poeta, sobrinho de Jacob Tirado, o funda- dor da Congregação Portuguesa Beth Yaa- -Kob em Amesterdão. Depois de exercer clinica em Lisboa, emigrou para Amester- dão, onde veio a ser presidente da Comu- nidade Portuguesa. Compôs em lingua portuguesa a Decla- ração das Seiscentas e Treze Encamendanças da Nossa Santa Ley, interpretação poé- tica do Tariag Mizvot. Na qual escreveu Ribeiro dos Santos-adopta a doutrina e método de Maimonides. Daniel Levy Barrios na Relacion de los poetas y escritores Españoles de la Nacion judayca en Amsterdam, refere-se a Ferrar nos seguintes versos: Judio del desterro Lusitano Abraham Ferrar en el linguage Hispano Los preceptos pintô de lá Ley fuerte, Que coge louros y enseñanzas vierte. Evoquemos agora outra figura notável do velho Porto: O grande médico, Manuel Aboab, reputado autor da Nomología, tão citado pelos Judiógrafos. Em Amesterdão- escreveu Ribeiro dos Santos-teve grande nome de jurista entre os seus, sendo muito perito no Talmud e na Guemará.
N.º 137, Nissan-Sivan 5707 (Mar-Mai 1947)
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