4 HA-LAPID ======================================== Do Porto foi também o Dr. Samuel da Silva, que em Hamburgo, no ano de 1623 publicou um Tratado da Imortalidade da Alma em que procurou impugnar as ideias de Uriel da Costa. E por último recordemos o celebre Uriel da Costa, portuense dos mais doutos do século XVII, espirito inquieto e atormen- ado. Formado em Cânones pela Universi- dade de Coimbra, emigra para a Holanda, receando a Inquisição e mais tarde para Hamburgo. Nesta última cidade publica Uriel da Costa as suas Teses contra a Tra- dição. Os rabinos, postos ao facto das suas tendências, mandavam-no comparecer diante deles, fazendo-lhe ver que o acusavam de desprezar a Lei; mas Uriel mantém as suas concepções. Excomungado pelos rabinos, regressa a Amesterdão cuja comunidade o expulsa do seu seio. Então o ilustre portuense escreve um novo tratado, onde nega a imortalidade e "tenta descobrir a vaidade-escreveu Ri- beiro dos Santos-das tradições e obser- vâncias dos Fariseus, e de mostrar quanto eram contrárias directamente à lei de Moisés". Intitulava-se este Exame das Tradi- çoes Farisaicas conferidas com a Ley escrita. Escreveu Uriel ainda um outro tratado que deixou manuscrito, intitulado-Exem- plar Humanae Vitae, no qual descreve a tragédia da sua consciência. Sobre esta carta patética, impressionante escreve o erudito Ribeiro dos Santos: "Fi- lippe Limborch achou este manuscrito entre os papéis de Simão Episcópio. Nestre livro contava ele os vários passos da sua vida, e descrevía com grande energia, e calor os muitos males e desventuras por- que passara... passou a atacar em muitos lugares desta obra a religião, que era fun- dada na revelação divina, como uma pura ficção, que nascera da fraude, e artifício dos homens, e lhe opôs a religião Natural, que ele muito louvara e exaltava, como a só religião verdadeira, e consequentemente a única que se devia seguir. Limborch refutou as objecções deste deista contra a religião revelada no seu tratado, que intitulou: Brevis refutatio argumentarum". Em Abril de 1640, Uriel da Costa põe termo à vida. * * * Mais do que os episódios da sua vida, interessa à ciência o seu pensamento. Ele não fundou nenhuma escola, nem deixou muitos discípulos; porém Espinosa e Outros gigantes intelectuais, foram, em mais de um passo, inspirados por ele. O judaismo portuense deve orgulhar-se de ter produzido um pensador complexo, pela grandeza da sua doutrina e elevação do seu carácter. Segundo Duff--"viveu profundamente e com uma grande paixão as duas maneiras por que a humanidade tem interpelado o seu destino". * * * E assim aqui fica delineado a ténues traços, algumas cintilações que iluminaram. com novas claridades a cultura judaica portuense. Se no campo artistico, não teve a judia- ria grandes cultores, poderemos entretanto citar de entre outros o nome do ourives Mossem Baru, artlfíce bem conhecido no Porto de à séculos. 1947. AMÍLCAR PAULO. ----------------------------------------- Vida Comunal Na Sinagoga Kadoorie Mekor Haim (Fonte Vital), Catedral israelita do Norte de Portugal, sita à Rua Guerra Junqueiro n.° 340, da cidade do Porto, se celebraram as seguintes festividades: Passah' (Páscoa) - Comemoração da saida do povo hebreu da escravidão egípcia para a liberdade sob a direcção de Moisés, nosso Mestre. A matsah (pão azimo) con- sumida foi de fabricação norte-americana. Shebuoth (Pentecostes) - Festa comemo- rativa da outorga dos Dez Mandamentos da lei de Deus ao povo israelita no Monte Sinai.
N.º 137, Nissan-Sivan 5707 (Mar-Mai 1947)
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