HA-LAPID 7 ====================================== Como viviam os judeus em Portugal AS ORIGENS POR AMILCAR PAULO (LEVI BEM-BAR) Acerca da origem dos judeus na Penin- sula Ibérica, pouco ou nada poderemos asseverar. Entretanto, na opinião de al- guns historiadores de reconhecida autori- dade, teriam vindo já no Século XIII antes da era vulgar, referindo-se a própria Bíblia a viagens de judeus das tribos de Dan e Asher, às quais pertenciam a maioria dos marinheiros do tempo. Estas duas tribos eram vizinhas dos fenicios, que foram exi- mios na arte de navegar, senhores dos mares e costas do Mediterrâneo. O Livro I dos Reis, Capitulo X relata-nos uma expe- dição de judeus a Tarsis que alguns histo- riadores, assim como Schulten e outros, provam ser na Peninsula. Nada mais natural, que de tempos anti- gos, os judeus atraídos pela amenidade do clima e fama das suas riquezas naturais, seguissem os passos dos fenicios, vindo-se fixar na Peninsula. Quando da divisão do Povo de Israel em dois reinos, novamente, judeus fugidos às violências de Reboão, homem de génio perdulário, foram trazidos pelas correntes incertas do mar até à Peninsula. Poucos anos depois, Nabucodonosar, rei da Babilônia, destruia Jerusalém e o Templo, levando cativos os habitantes. Alguns deles, segundo opinião de alguns historiadores, foram comprados por His- pane rei de Espanha. Assim voltaram judeus às terras do último ocidente, enxu- gando lágrimas, simulando esquecimento dos restos da opulenta cidade, outrora alvejada de frondosos pomares, que eram como o seu estrado de princesa. Quando da revolta de Jerusalém. Tito filho de Vespesiano, imperador de Roma, à força de rigorosos combates, toma Jeru- além destruindo-a. Os judeus que não pereceram na luta, foram constrangidos a aportar à Peninsula como escravos. Nos Principios do Século II da era vulgar, a ela voltaram, vendidos pelo Imperador Àdriano. Ao fundar-se a Nacionalidade Portu- guesa, encontravam-se já muitos daqueles judeus espalhados pela Peninsula Iberica e portanto pelos lugares que formavam o novo "Reino". Mas a grande vinda deste povo para as terras de Portugal, deu-se principalmente no ano de 1492, quando os reis católicos de Espanha o expulsaram, sendo acolhidos no nosso país por D. João II. "Foram bem recebidos por El-Rei- escreve o rabi Imanuel Aboab-e acorda- ram, que pudessem entrar no reino, seis- centas casas de judeus, com pagar-lhe oito escudos de ouro cada um e que ao cabo de seis anos, lhe mandariam dar navios acomodados. e por moderados preços, para poderem sair de seus reinos para as partes de Africa ou Levante, como mais qui- sessem." Os Judeus em Portugal antes da sua expulsão ou conversão Manuel Pinheiro Chagas, na sua Histó- ria de Portugal, livro III, capitulo XLIX. páginas 364, diz: "Desde o tempo dos godos que a raça judaica vivia e prospe- rava em Espanha no meio de transes con- tinuados, condenados e muitas vezes expul- sos pelos reis, e pelos concílios, sujeita a mil vexames, esmagada com impostos e vitima frequentemente das convulsões popu- lares. Mas os seus conhecimentos e os seus recursos financeiros tornavam-na sem- pre necessária, de forma que lá vinham ao mesmo tempo leis protectoras compensar o efeito das leis de perseguição e de into- lerância". Nesta mesma corrente de ideias claras das suas qualidades, o ilustre historiador Henrique Schaefer, diz: "As suas quali- dades, as suas capacidades universalmente reconhecidas cedo os dotaram neste país, como em Espanha, duma certa influencia". Daí os soberanos os escolherem para ministros de finanças e senhores absolutos
N.º 139, Tishri-Kislev 5708 (Set-Nov 1947)
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