4 HA-LAPID ========================================= NOITES DE SÉDER Numa cidade inglesa, numa modesta casa, em que antes da guerra, tudo era felicidade e alegria, vivia uma familia com- posta por pai, mãe, dois filhos e uma pe- quenita que era o enlevo dos 4. A vida daqueles 5 entes tão amigos e tão unidos foi de-repente transformada com o terrível flagelo da guerra. O pai e o irmão mais velho foram cha- mados para cumprir os seus deveres de- fendendo a sua pátria e a sua religião. Naquela casa em que outrora tudo era alegria e satisfação, transformou-se numa outra casa em que a alegria e a satisfação eram substituidos pela tristeza e ansiedade. Os anos de guerra foram~se arrastando e o pai e o John que de longe vinham bei- jar os seus queridos continuavam lá longe. O Philip fez o ano passado a sua bar- -mitsváh e não foi tão alegre como a do john porque a essa pequena festa familiar só duas pessoas assistiram: a mãe e eu. Mas, como sabíamos os outros bem essa tristeza foi um pouco atenuada. Este ano as festas da Páscoa foram mais tristes do que no ano passado, porque no ano passado ainda o pai e o John as passa- ram em casa aproveitando as suas licenças, mas este ano como foi diferente, quando nos sentamos à mesa e ouvimos o Philip ler as orações desta noite a mãe com os olhos embaciados pelas lágrimas e eu que sentia um mal-estar, um não sei quê que se me atravessava na garganta, ouvíamos aquela voz que de quando em quando mu- dava de tom e que um tanto modificada pela comoção continuava sempre a ler. O Jantar, que era um pouco melhor do que os outros dias foi mais triste e, termi- nado este, quando o Philip continuou a ler a mãe que já não se podia conter começou a soluçar e quase em seguida na nossa casa não se ouvia mais nada senão o solu- çar de 3 pessoas que com tanta saudade recordavam o passado. Mal terminaram as orações fomos para a cama. E em cada quarto cada um de nós fazia os possíveis por abafar os so- luços. Na manhã seguinte fomos à sinagoga e numa altura em que todos estavam de pé e rezavam baixinho, a mãe disse-me que se eu quisesse pedir a Deus qualquer coisa o fizesse nessa ocasião e então eu pedi: -Meu Deus que estás no céu, ouve bem o que te peço e vê se me podes aju- dar neste momento de aflição. Faz com que a guerra acabe e que o pai e John voltem para casa para voltarmos a ser feli- zes como dantes. Faz com que logo quando fizermos o Séder, que a mãe não chore, porque, quando a vejo chorar a vontade de a imitar e tanta que acabo tam- bém por deixar cair as minhas lágrimas. Meu Deus! Eu sei que és bom e desde que o pai está para a guerra tenho-me esforçado por ser boa menina, portanto concede-me o que te peço, faz com que o pai e o John voltem depressa. A' noite quando principiávamos a sen- tarmo-nos à mesa bateram à porta e, qual não foi a nossa alegria ao vermos o pai e John entrarem. Nessa segunda noite de Páscoa as lágrimas da primeira, foram substituídas pela animação e alegria. Nessa mesma noite quem fez as orações já foi o pai e quase nós chegamos a esquecer de que havia guerra. Estávamos os 5 como dantes tão contentes que quase me cheguei a esquecer da triste noite anterior. Antes de me deitar agradeci a Deus o milagre que havia feito e pedi novamente que a alegria daquela noite se repetisse para sempre e que em todos os lares onde, como no nosso havia tristeza fosse substi- tuída pela alegria. alegria essa que seria pouco duradoira porque o pai e o John teriam novamente de partir. Pedi também a Deus que fizesse terminar a guerra, essa maldita que tanto nos tem feito sofrer. NUNO DE BARROS BASTO. ---------------------------------------- tação e em sinal de reconhecimento, o 14 deste mês, como festa, chamada Purim (por causa da sorte ou por que Aman tinha consultado). Os judeus aceitaram, por eles e para os seus descendentes, comemorar anualmente esta data; assim a recordação de Purim não se apagará nunca do meio dos judeus. Quanto a Mardoqueu, ele foi muito considerado na sua alta dignidade; cami- nhava, em segundo lugar, após o rei; ele era também muito amado por todos os judeus, seus irmãos, a quem ele sincera- mente desejava felicidade. ----------------------------------------
N.º 146, Shevat-Nissan 5710 (Jan-Mar 1950)
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