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Ha-Lapid הלפיד


N.º 146, Shevat-Nissan 5710 (Jan-Mar 1950)







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              HA-LAPID                 5
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              PÁSCOA

Simbolo de Liberdade

A festa de Páscoa é a maior festa na-
cional judaica. Se Pentecostes (Shabuoth)
evoca um facto altamente espiritual e civi-
lizador-a proclamação do Decálogo,-se
sucoth recorda o milagre das cabanas no
deserto e se Rosh Hashanah e Kipur são
dias dedicados à meditação e ao exame de
consciência, a Páscoa comemora a liberta-
ção d'Israel no sentido mais lato da palavra.

O termo libertação não é mesmo
adequado. É mais do que isso. Os hebreus
constituíam-se pela primeira vez em nação.
O livramento do jugo egípcio acompa-
nhava-se duma proclamação de soberani-
dade que dava a este livramento todo o
seu sentido, todo o seu valor.

Livramento e soberanidade eram os
dois componentes dum mesmo problema.

Os hebreus do Egipto eram perse-
guidos como minoria. Ora, para fazer
cessar esta perseguição, para atenua-la pelo
menos, eles tinham um caminho mais
lácil que o êxodo e a marcha no deserto.
Era o de se integrar na nação egípcia, de
se declararem os subditos leais do rei e
limitar a sua luta à conquista das suas
liberdades civis e religiosas no limite em
que estas liberdades existiam na época.

E' possivel e mesmo provável que um
esforço deste género tenha sido tentado,
pois que certas passagens da Escritura tes-
temunham da ligação dos hebreus, se não
intelectual pelo menos material, à terra do
Egipto. Mas a élite recusou no seu espí-
rito toda a ideia de emancipação e de carta
dos direitos da homem e do cidadão.

As primeiras palavras de Moisés ao
apresentar diante de Faraó são para lhe
pedir não a abolição das leis tirânicas que
faziam de seus irmãos cidadãos de segunda
zona, e para dizer tudo escravos, mas a
sua saida do pais.

Moisés não era homem de meias medi-
das. Ele estava convencido que uma mi-
noria é sob todos os climas e sempre uma
minoria, isto é uma presa fácil. A atitude
da humanidade em face das minorias não 
é uma atitude de heroísmo, mas de co-
bardia.



Uma minoria sem defesa, é o que há
de mais cómodo para a sacrificar em holo-
causto aos deuses temiveis do ódio e da
bestialidade. Os homens e os povos são
constantemente trabalhados pelo instinto
de vingança, mas como o inimigo é muitas
vezes mais forte-doutro modo não seria
um inimigo-eles lhe procuram um subs-
tituto, um fraco. E' ele o culpado.

Uma minoria é o exutório de todas as
cóleras. A sua existência não se jus-
tifica senão para que ela sirva para expiar
os pecados dos outros-como o bode ino-
cente e protestário que se sacrificava ou-
trora a Azazel.

Moisés não tinha esquecido a lição
duma história recente. José, como tantos
grandes judeus na Alemanha, tinha pres-
tado assinalados serviços ao Egipto. Pela
sua inteligência, sua previdência, sem dom
de organização, ele tinha salvo o pais da
fome. Mas morto José, estes serviços são
depressa esquecidos.

"E se levantou, diz a Escritura, um
novo rei em Mitsraim que não conheceu
José". E o exegeta talmúdico corrige:
"que fingia não conhecer José".

Este comentário é válido para todos os
tempos.

Israel dará por sequência mais dum
José a outros Faraós. Dará ao mundo o
Livro dos Livros, dará aos povos o sentido
da justiça, lhes ensinará o universalismo,
lhes oferecerá este Decálogo de que Renan
dizia "que ele é para todas as nações e será
durante todos os séculos os Dez Manda-
mentos de Deus". Ele lhes trará, durante
dois mil anos de dispersão uma larga con-
tribuição no esforço intelectual e cientifico
das suas élites, mas estes povos-mais
exactamente os seus faraós -farão de conta
de não conhecer José.

Moisés tinha previsto tudo isto. Ele
tinha um dom de advinhação agudo.
O Homem de Deus, o Pai dos Profetas via
o futuro não através dum espelho opaco,
através dum véu, uma visão, como era a
sorte dos outros profetas, mas nitidamente.
directamente. Quando a Escritura nos diz
que Moisés conversava com Deus face a
face, isto quer dizer que as trevas que en-


 
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