HA-LAPID 8 ===================================== UMA GRANDE DAMA JUDIA DA RENASCENÇA GRACIA MENDESIA-NASSI POR ALICE FERNAND-ALPHEN O Gabinete das Medalhas da Biblioteca Nacional (de Paris) possui um belo meda- lhão em bronze da Renascença italiana representando o retrato duma grande dama da época e trazendo na cercadura, gravado em caracteres hebraicos, um nome: Gra- cia Nassi. O retrato duma grande dama da Re- nascença italiana, enquadrado de caracte- res hebraicos, há ali com que aguçar a curiosidade dos investigadores! Uma con- troversia se levantou entre sábios a fim de saber se este medalhão era obra do grava- dor Pastorino, de Siena, ou de Giovani- Paolo Poggini, de Ferrara. Em 1858, Adriano de Longperier, con- servador dos Antigos do Louvre, num ar- tigo da "Revista Numismática" atribui-o a Poggini comparando-o com outras obras deste artista: "É a custo, diz ele, se se pode distinguir a efígie de Isabel d'Este da de Gracia Nassi ou de Lucrécia de Médi- cis: os mesmos ornamentos do penteado, o mesmo vestido, as mesmas característi- cas: tudo concorre a produzir uma seme- lhança impressionante". Uma trintena d'anos mais tarde, M. Alfred Armand, na sua bela obra intitu- lada: Os Medalhões italianos dos sé- culos XV e XVI, atribui-o a Pastorino e descreve-o como segue: "Busto à esquerda; sobre a cabeça véu ornado de perolas e caindo sobre os ombros. Corsage cortado em quadrado sobre camiseta saliente". * Buscas nos impressos e documentos (d'arquivos permitiram restituir, pelo menos nas suas grandes linhas, a vida verdadeira- mente extraordinária de Dona Gracia, mãe de Reyna Nassi. Duquesa de Naxos. Para seguir esta carreira, ao mesmo tempo nobre e aventurosa, é preciso viajar em seu seguimento, através uma grande parte da Europa, ligar e religar conhecimento com os judeus de Espanha e os Maranos portugueses; estudar o estado de espírito que reinava no século XVI em Anvers, em Veneza, em Ferrara, em Ancona, para aca- bar em fim na corte do sultão Soliman o Magnífico: Constantínopla. * Dona Gracia Mendesia, descente da fa- milia dos Benveniste, nasceu em Lisboa em 1510; seu nome cristão era Beatriz da Luna: em 1528, ela desposou um correli- gionário que pertencia à célebre família dos Nassi d'Espanha e cujo nome de baptismo era Francisco Mendes. Na data em que estamos, trata-se, bem entendido, de Maranos; isto é de Crístãos Novos"; designavam-se assim, em Espanha e Portugal, os judeus que, para escapar às medidas de expulsão, recebiam o baptismo e praticavam ostensívamente o catolicismo. ficando contudo secretamente ligados à fé de seus pais, Graças à sua inteligência, à sua actividade em todos os dominios, sem omitir o do pensamento, eles chegavam às situações mais elevadas do Estado, às mais altas dignidades na Igreia, e eles alia- vam-se às primeiras familias do Reino; mas o povo os suspeitava, não sem razão, de ser, no fundo do coração, neótítos pouco convencidos. A Igreja, e sobretudo a Inquisição, inquietas para manter a pureza e a integridade do catolicismo, vi- giavam estreitamente os Maranos; então que os infiéis escapavam á sua jurisdição, enquanto que eles não podiam ser acusa- dos de actos ímpios, elas tinham todo o poder sobre estas ovelhas, entradas de bom grado ou de força no rebanho de que eles tinham a guarda. Continua. ------------------------------------------ Visado pela Comissão de Censura
N.º 146, Shevat-Nissan 5710 (Jan-Mar 1950)
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