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N.º 146, Shevat-Nissan 5710 (Jan-Mar 1950)







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 UMA GRANDE DAMA JUDIA DA RENASCENÇA

     GRACIA MENDESIA-NASSI

    POR ALICE FERNAND-ALPHEN

O Gabinete das Medalhas da Biblioteca
Nacional (de Paris) possui um belo meda-
lhão em bronze da Renascença italiana
representando o retrato duma grande dama
da época e trazendo na cercadura, gravado
em caracteres hebraicos, um nome: Gra-
cia Nassi.

O retrato duma grande dama da Re-
nascença italiana, enquadrado de caracte-
res hebraicos, há ali com que aguçar a
curiosidade dos investigadores! Uma con-
troversia se levantou entre sábios a fim de
saber se este medalhão era obra do grava-
dor Pastorino, de Siena, ou de Giovani-
Paolo Poggini, de Ferrara.

Em 1858, Adriano de Longperier, con-
servador dos Antigos do Louvre, num ar-
tigo da "Revista Numismática" atribui-o
a Poggini comparando-o com outras obras
deste artista: "É a custo, diz ele, se se
pode distinguir a efígie de Isabel d'Este da
de Gracia Nassi ou de Lucrécia de Médi-
cis: os mesmos ornamentos do penteado,
o mesmo vestido, as mesmas característi-
cas: tudo concorre a produzir uma seme-
lhança impressionante".

Uma trintena d'anos mais tarde, M.
Alfred Armand, na sua bela obra intitu-
lada: Os Medalhões italianos dos sé-
culos XV e XVI, atribui-o a Pastorino e
descreve-o como segue: "Busto à esquerda;
sobre a cabeça véu ornado de perolas e
caindo sobre os ombros. Corsage cortado
em quadrado sobre camiseta saliente".

                 *

Buscas nos impressos e documentos
(d'arquivos permitiram restituir, pelo menos
nas suas grandes linhas, a vida verdadeira-
mente extraordinária de Dona Gracia, mãe
de Reyna Nassi. Duquesa de Naxos. Para
seguir esta carreira, ao mesmo tempo
nobre e aventurosa, é preciso viajar em
seu seguimento, através uma grande parte
da Europa, ligar e religar conhecimento



com os judeus de Espanha e os Maranos
portugueses; estudar o estado de espírito
que reinava no século XVI em Anvers, em
Veneza, em Ferrara, em Ancona, para aca-
bar em fim na corte do sultão Soliman o
Magnífico: Constantínopla.

                  *

Dona Gracia Mendesia, descente da fa-
milia dos Benveniste, nasceu em Lisboa
em 1510; seu nome cristão era Beatriz da
Luna: em 1528, ela desposou um correli-
gionário que pertencia à célebre família
dos Nassi d'Espanha e cujo nome de
baptismo era Francisco Mendes.

Na data em que estamos, trata-se, bem
entendido, de Maranos; isto é de Crístãos
Novos"; designavam-se assim, em Espanha
e Portugal, os judeus que, para escapar às
medidas de expulsão, recebiam o baptismo
e praticavam ostensívamente o catolicismo.
ficando contudo secretamente ligados à fé
de seus pais, Graças à sua inteligência, à
sua actividade em todos os dominios, sem
omitir o do pensamento, eles chegavam às
situações mais elevadas do Estado, às mais
altas dignidades na Igreia, e eles alia-
vam-se às primeiras familias do Reino;
mas o povo os suspeitava, não sem razão,
de ser, no fundo do coração, neótítos
pouco convencidos. A Igreja, e sobretudo
a Inquisição, inquietas para manter a
pureza e a integridade do catolicismo, vi-
giavam estreitamente os Maranos; então
que os infiéis escapavam á sua jurisdição,
enquanto que eles não podiam ser acusa-
dos de actos ímpios, elas tinham todo o
poder sobre estas ovelhas, entradas de
bom grado ou de força no rebanho de
que eles tinham a guarda.

                             Continua.

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Visado pela Comissão de Censura


 
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