4 HA-LAPID ========================================== terras e até a própria vida, a prestar culto a idolos, ainda que estes fossem os do próprio imperador da poderosa Roma. Para os funcionários romanos, esse povo tinha o aspecto de uma gente obstinada, quase demente, a quem era preciso dominar, pela palavra ou pela espada, e empregaram esta última. Durante anos de terror, matou-se desa- piedadamente. Aos rebanhos, os judeus foram queima- dos e crucificados. Num só dia Tito mandou crucificar 500 prisioneiros e, para espalhar o terror, reen- viou outros para a cidade de Jerusalém com as mãos decepadas. Durante quatro anos terríveis, o pequeno povo judeu, num canto obscuro do império romano, resistia ao poder das mais famosas legiões romanas e à habilidade dos con- quistadores do mundo. No ano de 66 a inquietação tinha che- gado ao auge. Mas a grande insurreição. que havia de arrastar consigo a destruição completa do estado judaico, não era fo- mentada, apenas, pelos judeus da Judeia; na fomentação da revolta, tem lugar pre- dominante a Galileia, onde ainda escoavam as vozes dos antigos profetas, e cuja popu- lação mantinha um patriotismo ardente que se opunha, com firmeza, contra as infiltra- ções do exterior. Da Galileia partiu, pois, o grito de alarme, que foi atear o incêndio em todas as colónias dos judeus, estabelecidas fora da Palestina. Os países longinquos, de um judaismo primitivo, ofereceram-se para combater e do milhão e cem mil judeus, que cairam mortos, na defesa de Jerusalém, a maior parte não era nativa da judeia, mas tinha vindo ali para celebrar a pascoa de Pessah. Da Síria tinham descido as legiões ro- manas, para sufocar os rebeldes, mas, estes batiam-se como leões ferozes, indomáveis. Batíam-se com desespero e heroísmo, na defesa da pátria e da religião, contra o ti- rano estrangeiro e insolente. De ambos os lados a guerra era impla- cável. O imperador Nero compreendeu a extensão da revolta, e que domina-la não seria fácil; enviou, pois, para o teatro da guerra, dois dos seus mais hábeis generais; Vespasiano e Tito, filho deste. Mas pouco depois Vespasiano era cha- mado a Roma, para ser coroado imperador e Tito reuniu o seu poderoso exército e acampou no Monte Scopus, a norte da ci- dade, onde, como uma promessa acaricia- dora de tempos mais felizes, se levanta hoje a Universidade Hebraica, e intimou imediatamente os habitantes a que se ren- dessem. Apenas exigia submissão, respeito pelas leis romanas e pagamento dos im- postos. Ancioso por regressar a Roma, onde o esperavam agora todos os prazeres e delí- cias a que a sua alta situação de filho de imperador lhe dava direito, estava disposto a usar de clemencia para com os judeus; estes, porém, furtavam-se obstinamente a quaisquer negociações; tinham jurado de- fender a cidade santa, com a própria vida, e não queriam a rendição. O cerco começou e logo todos os jar- dins deleitosos e bosques espessos, por onde se espalhavam as sombras tranquilas, de que nos fala a Biblia, foram destruídos sem piedade, ao norte e a poente da ci- dade. Quem podesse segurar nas mãos uma arma correu a entregar-se imediatamente para a defesa; o heroísmo das mulheres, que atiravam contra os sitiantes montões de pedregulhos e azeite a ferver e que cou- vertiam os projécteis, arremessados pelos romanos, em instrumentos de morte, con- tra estes próprios, porque de novo lhos arremessavam, era um exemplo estimulante, que levava os homens a praticarem actos de uma tal temeridade, que dir-se-ia que atingiam a loucura. Perto da muralha norte, tinham-se le- vantado montes de terra, sobre os quais assentavam os arietes. A uma distância de dez quilómetros, em redor da cidade haviam-se cortado todos os troncos de ár- vores, para a construção dos arietes. Dia e noite, incessantemente, ouvia-se o estrondo daqueles instrumentos de guerra batendo contra as muralhas. Os judeus furavam minas: minavam debaixo dos montes de terra e os arietes iam-se abaixo. Quinze dias, durou o trabalho dos arie- tes, que os romanos levantavam de novo e, por fim, abriu-se a primeira brecha, na muralha exterior: 17 de Tamuz. Nove dias mais, e cala a segunda mu- ralha e, finalmente, os romanos apodera-
N.º 147, Sivan-Elul 5710 (Mai-Ago 1950)
> P04