HA-LAPID 5 ======================================= ram-se da parte baixa da cidade, mas os judeus não se rendíam. Amontoavam-se na parte alta, esfaima- dos e moribundos. Por um pedaço de carne ou de pão, matavam-se reciprocamente. Os que, de noite, se aventuravam, para fora dos muros eram apanhados, pelos romanos, que os crucificavam, mas quanto mais os judeus sentiam a opressão da guerra, tanto mais endureciam na teimosia da resistência. O cerco de Jerusalém, ficou famoso na História, pela ferocidade desenvolvida no ataque e na defesa. Se os arietes ruíam, caindo estrondosa- mente no chão, logo os sitiados faziam uma sortida e, como loucos temerários, atiravam-se ao inimigo, com loucura feroz. As grandes legiões cançavam-se e hesi- tavam e Tito recuou. Mas, para os sitiados maior foi a tormenta. Tito construiu uma grande muralha de uns oito quilómetros de extensão, em torno da cidade - sentou-se e esperou. O sofrimento dos judeus parecia ter ultrapassado todo o limite; o próprio Tito, afeito às durezas da guerra, se compadecia de gente tão sofredora na dor, e mandou pedir aos zeladores, que constituíam uma seita que considerava toda a obediência às leis romanas perjúrio às leis divinas, por- que só a Deus competia mandar e ser obe- decido, que se rendessem. Isso nunca!... Passou-se mais um mês; mais dois e os romanos voltaram à carga. De novo caíu a muralha primeira, mas os judeus, durante as tréguas, tinham cons- truído uma segunda. Esta também caiu, e os heróis conti- nuavam indomáveis e abrigavam-se, agora na fortaleza interior. As ruas estreitas banhavam-se de sangue; ao sol ardente, decompunham-se os cadáveres insepultos e continuavam as lutas na cidade, por uma migalha de pão, com que matar a fome. Martha, mulher do Sumo Sacerdote Joshua ben Gamalá, para quem se esten- diam outrora, os luxuosos tapetes- no seu caminho de casa ao Templo, para que não se manchasse a pureza das suas sandálias, vagueava, agora, esfomeada, pelas vielas, em busca de uma magra côdea. Não se faziam, já, os sacrifícios, nos altares, por- que as rezes tinham desaparecido. E, no entanto, para iludir o inimigo, e fazê-lo supor que dentro da cidade não se sofria de sede, as mulheres encharcavam as roupas brancas e punham-nas a enxugar, ao sol, sobre os terraços. A rendição continuava impossível, Tito, de novo, quiz propôr as condições dessa rendição, mas os zeladores recusavam-se a parlamentar. Bem sabiam eles que as con- dições consistiam na entrega da cidade e a cidade não era deles - era de Deus-como entrega-la, pois?! Alguns soldados ro- manos, em êxtase por tanta fé religiosa, desertavam das legiões, para se entregarem à sorte dos sitiados. Fez-se a escalada das muralhas e os ze- ladores fugiram, para os pátios do Templo. Ao fim de seis dias de violento traba- lho dos arietes, deu-se o inevitável. Tito deu ordem para que fosse pou- pado o santuário, mas a soldadesca, deses- perada e furiosa, nada respeitou: pela ja- nela de Ouro, foram arremessados fachos ardentes, e, imediatamente, as traves do pavimento e do teto, se incendiaram e pe- los pátios, onde alguns milhares de homens se haviam refugiado, essa mesma solda- desca irrompeu, esfaqueou e matou, na sua sede de ódio e vingança. Houve um momento de suspensão, mas, logo, os zeladores correram, para a cidade alta e, de novo, começou a louca resistên- cia. O terreno era cedido às polegadas e ali, ainda, durante mais um mês, desafia- ram o inimigo, até que definitivamente, sossobraram. Os que tinham escapado à morte, rendiam-se pela fome e pela fadiga. mas os romanos não lhes deram tréguas; invadiram o recinto e de novo assassinaram até que, também, a fadiga os impediu de matar mais. Por toda a parte-corredores, pátios, aposentos-tudo estava repleto de mortos e moribundos e o sangue corria a jorros. Depois, lançou-se fogo, ao que ainda havia de pé-casas, edifícios, muralhas e os conquistadores afastaram-se, para contem- plar as chamas. E assim ruiu a velha Jerusalém. Tinha soado a hora fatal em que havia de cumprir o seu destino... som fúnebre que se repercurtiu por muitos séculos vin- douros e que ainda hoje ecoa por entre os filhos de Israel. Era o dia 9 de Ab do ano 70 da era
N.º 147, Sivan-Elul 5710 (Mai-Ago 1950)
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