8 HA-LAPID ======================================== MEMÓRIAS da Literatura Sagrada dos judeus portugueses desde os primeiros tempos da Monarquia até fins do Século XV MEMÓRIA I POR ANTONIO RIBEIRO DOS SANTOS (CONTINUAÇÃO DO N.° 146) Existia esta Bíblia em Espanha no Reino de Leão e não em Leão de França, como escreveu Wontio na Tradução Latina da Chronolagia de Ganz. Deste Ms. fala Wal- ton nos Proleg. 4. 8. Capellano no More Rab infid. pág. 263. 108. Morino de Text. pág. 466. Kennicott na Dissert. Geral 56 pág. 108 e c. Leufden Pref. ad Bib. Heb. e Basnage na História das judeus Liv. IX e XII. Sobre o Autor e antiguidade deste Có- digo variam os Críticos; LeiKarde quer que fosse Hillel Rabbino, florecera no tempo, em que os Judeus voltaram do cativeiro de Babilônia; Cuneo de Repub. Hebr. Lib. 1 c. XVIII pág. 116 o atribue a outro Hillel, que de Babilónia havia vindo à Síria 60 anos antes de Cristo; Morino assentou que aquela Bíblia só tinha quinhentos anos de antiguidade. Abraão Zacuto Rabbi da Sinagoga de Lisboa, e escritor do Século XV no Livro Jucharim, ou das Linhagens, obra clássica entre Judeus, deu a esta Bíblia em seu tempo 900 anos de antiguidade, e R. Ma- nuel Aboab na sua Nemologia Part. II c. XIX pág. 2118 e seg. escrevendo em 1625 diz que pela conta de Zacuto havia mais de mil anos, que fora escrita aquela Bíblia. O que é sem dúvida, é que em 1200 já Rambon fez menção deste Código Helliano ; e Morino descreve um Ms. Hebraico de 1208 onde já vinha citado em nota margi- nal o dito Código. Pelo que pelo menos sobe acima do Século XIII. Esta Biblia já não existe em Espanha, porque havendo em 1496 uma grande per- seguição contra os Judeus de Leão, muitos deles se refugiaram em Toledo, como di- zem Zacuto no Livro Juchasim, Kennicott e Manuel Aboab na sua Nomologia; da qual contudo se não sabe, onde existe hoje; outros se passaram à África e levaram con- sigo os demais Livros, como refere o mesmo Zacuto: Manuel Aboab atesta, que vira em África parte deste Código, que se havia vendido. Deste Código pois se haviam tirado infinitas cópias, como diz Ganz, que se espalharam por toda a Espa- nha e serviram de regra aos muitos exem- plares, que se escreveram nos últimos tempos. 2.°-de seguirem pelo comum constantemente as Leis da Masora, cuja fonte principal fora o mesmo Código Hel- liano; no que por certo eram eminentes os nossos Judens Portugueses e Espanhóis, regulando tanto pelas Leis da Masora o texto de seus Códigos, que poucas vezes discrepavam dela. Assim que por serem pelo comum Masorethicos os tem os Ju- deus em grande conta, como os mais exactos e excelentes de quantos há, prefe- rindo-os aos Códigos Itálicos e aos Ger- mânicos (Rossi ao Vol. I Var. lect, Vit. Test. p. XIX n. XX p. XXXVII). Grande beleza e elegância destes Có- digos.-A esta grande correcção se ajun- tava uma extremada perfeição e beleza. (Assim o dizem constantemente os Escrito- res Rabbínicos); os Códigos dos Judeus Portugueses, como os dos Espanhóis, eram escritos pelo comum com caracteres não rudes, tortuosos, inflexos e agudos, como eram os Alemães; mas sim quadrados simples e elegantes na sua forma, semelhan- tes aos que se vêm hoje nas Bíblias Régias publicadas em Antuérpia por Platino e Ro- berto Estevão, cujos caracteres foram sem dúvida tirados dos Códigos de Espanha. (Continua).
N.º 147, Sivan-Elul 5710 (Mai-Ago 1950)
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