HA-LAPID 3 ========================================= nossas hipóteses, e que ele nos eleva ape- sar de tudo e à nossa razão para um fim superior a nós próprios. O que é que con- duz o desenvolvimento da semente para a planta? Do embrião para o animal? Que e que impele o homem a elevar-se acima da animalídade, e a restringir a sua vida física em proveito da sua razão e da sua consciência? O filósofo pode tentar obter algumas razões pela análise: a razão pro- funda nos escapa. Mas, há em nós senti- dos que não nos enganam: como o amor maternal, como o gosto do corcel para a onda pura, como a atracção da criança de mama para o seio, o sentido da santidade nos impede para um fim certo; como a célula humana se deve desenvolver no sen- tido da formação do homem, assim este se deve desenvolver no sentido do espirito divino. "O valor da vida,-diz W. James (a Vontade de Crer)-reside na persuasão que a ordem natural, longe de ser defini- tiva, não é senão um sinal, uma imagem, um aspecto dum universo mais complexo, onde as forças espirituais e eternas têm a última palavra". CAPÍTULO IV Como a ideia de santidade penetra a vida judaica O sentimento de santidade é desper- tado e cultivado nos corações judeus por um conjunto de actos que constituem as práticas da vida judaica. Graças a uma vasta rede de ritos simbólicos a santidade cerca o fiel durante toda a sua existência, de manhã à noite, dum fim da semana ao outro, do começo ao fim do ano nasci- mento à morte. É ai o papel da oração diária, das leis alimentares, das três festas e das diferentes cerimónias que cercam a nossa existência, como a circuncisão, a promoção à digni- dade de Bar Miçvah (pessoa responsável), o casamento, sem disto excluir a morte. De tempos a outros, a reserva de san- tidade é renovada pela colaboração de dias especialmente destinados a este efeito: o Shabath, no período semanal; os Dez dias de Exame de Consciência, cujo ponto culminante é o Jejum de Kipur, no ciclo do ano. Santidade em exercicio, santidade gera- dora, é nestas duas categorias que se en- contram repartidas as práticas da vida ju- daica. Nós as reencontramos repartidas formando um todo homogêneo, nos ciclos semanal e anual; quanto ao ciclo da vida, que podia ser regulado, o momento de regenerar a santidade é deixado à facul- dade dos fiéis, que podem escolher o mo- mento de o fazer: "Teshuvah" (o exame de consciência). Nós consagramos a segunda parte deste esboço a examinar o exercício da santidade em cada um destes três ciclos da vida humana. (Continua). --------------------------------------- SALMO CXXXVII Chegados a um rio, em Babilônia, Descansamos ali naquelas margens A chorar sobre Sião com saudades! Penduramos as harpas nos salgueíros. Embora os que nos tinham feito escravos Desejassem ouvir os nossos cantos. Haveis de nos cantar, diziam eles. Que nos tinham trazido viva força, Canticos de Sião, cantai-nos hinos. Mas, debalde pediam: que em verdade Havíamos de nós cantar, chorando. Cânticos do Senhor em terra estranha! Tu não nos passas nunca, da memória Santa Jerusalém! Se te esquecermos. Deus permita que os braços se nos tolham. Que a língua se nos prenda de maneira A nunca mais articular palavra! Se um dia te riscarmos da lembrança. Tu és o nosso único desejo! Sempre, Jerusalém, em todo o tempo Serás a nossa única alegria. Senhor lembrai-vos dos que já passaram Aí em Jerusalém dilosos dias... São os filhos de Edom que te suplicam. Gritem debalde os nossos inimigos. Seja arrazada pelos alicerces E não lhe fique pedra sobre pedra. Abençoado aquele que te pague, Perversa Babilônia, na moeda Em que pagaste ao povo israelita. Abençoado aquele que algemados Te arranque do regaço os tenros filhos E em cima de uma pedra os esmigalhe. Tradução livre, em verao pelo poeta João de Deus, no seu livro "Campo de Flores".
N.º 148, Tishri-Tevet 5711 (Set-Dez 1950)
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