8 HA-LAPID ====================================== MEMÓRIAS da Literatura Sagrada dos judeus portugueses desde os primeiros tempos da Monarquia até fins do Século XV MEMÓRIA I POR ANTONIO RIBEIRO DOS SANTOS (CONTINUAÇÃO DO N.° 147) (Os Códigos Alemães tinham caracte- res, que imitavam os Góticos, e eram tortuosos, e grosseiros como se vê nas primeiras edições alemães de Livros He- braicos, e nas Biblas Hebraicas de Munster. Já notou estas coisas Ricardo Simão na sua indagação crítica, p. 10). As letras iniciais eram iguais às outras maiores não ajuntavam o Targum ao Texto. nem a cada verso, mas o punham ao lado, e em caracteres menores. Daqui vinha a muita elegância e polimento, de que eram gabados os Ms. Biblicos de Espanha e Por- tugal sobre todos os italianos, alemães e levantinos. (Este é o juizo, que deles faz o Abade Banier na Prefacção à obra da História geral das cerimónias de todos os povos, p. 46, e com ele conforma o de muitos outros cristãos, e também judeus mui versados nestes estudos). E pelo que toca a Portugal é certo, que muito nisto se esmeravam os Judeus Portugueses. Dos Ms. que ainda hoje res- tam, se pode coligir, quanto era a perfei- ção de seus códigos. Primorosos são por sua grande elegância, e polimento, segundo atesta João Bernardo de Rossi, os dois có- digos Ms. Lisbonenses do Pentateuco de 1473, e de 1480; o Eborense do mesmo Pentateuco de 1495; e o outro Lisbonense dos Profetas menores de 1470 (Ao pri- meiro chama Rossi Elegantissimus Codex, ao segundo e terceiro Nitissimus Codex ao quarto Pulcherrimus Codex, tom. 1 das várias lições do testamento velho nos Códigos Ms. da Colação de Kennicott, p. LXXXIX n. 520, p. LXXXVIII n. 548. p. LXXXIX. e nos Códigos Ms. que se devem acrescentar à Bíblia do Autor, p. CIX n. 411). A Bíblia que possuía D. José Abarbanel em Veneza no século XV escrita em Lisboa de que já falamos era de uma estremada perfeição, que maravi- lhava a todos. (Manuel Aboab a viu, e dela fala com muito pasmo na parte se- gunda da sua Nomologia c. XIX. p. 218, e seg. Ali mesmo atesta haver em nossa Espanha muitos Ms. Biblicos de rarissima perfeição, e que subia a tanto a estimação que se fazia deles, que por uma Biblia correcta, e de boa letra se; davam cem escudos de ouro, e às vezes mais). (Continua). ------------------------------------------ de meia dúzia de desvairados que lá longe, na Palestina, mataram dois sargentos bri- tânicos, como represália pelo enforcamento de três judeus. Doloroso espectáculo a que o Mundo assiste. Quando a guerra acabou todos nós suposemos que a famosa Carta do Atlântico reforçada em S. Francisco pelo voto de vinte e uma nações, diria aos povos o direito de escolherem livremente os go- vernos e os regimes que mais lhes con- viessem e que garantia o estabelecimento de pátrias livres, verificamos que os mes- quinhos interesses ainda dominam o Mundo. Mas como os Judeus da Palestina que desbravam a terra e conquistam o deserto, todos nós devemos lutar para que a Huma- nidade seja mais alguma coisa do que uma sociedade comercial que só pensa no lucro dos seus negócios. Da Flor do Tâmega Amarante, 10-8-1947
N.º 148, Tishri-Tevet 5711 (Set-Dez 1950)
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