2 HA-LAPID ======================================= O Deus do Pentateuco é o Deus universal Pelo Comandante A. LIPMAN Para o demonstrar, vamos examinar sucessivamente a conceição do Deus cria- dor, a dos patriarcas e a do Deus de Moisés. 1.° O Deus criador-Não creio que ninguém conteste a antiguidade da narração da Criação, pela qual começa o livro do Gênesis. Se se está bem apoiado sobre os ingénuos antropomorfismos que ele apre- senta! Ora, que nos mostra esta narração? Mostra-nos um Deus que, pela sua vontade omnipotente, sem matéria prima, sem o socorro de ninguém, criou o universo. É impossivel conceber um Deus mais uni- versal. O dilúvio em seguida destrói toda a humanidade, salvo Noé e a sua família. Depois do falhanço da Torre de Babel, a descendência de Noé povoa a terra e as setenta nações, enumeradas como saidas desta descendência, são consideradas pela narração mosaica como constituindo a nova humanidade toda inteira (Gênesis, cap. X e XI; XI, 9). 2.° O Deus dos patriarcas-A narra- ção bíblica continua pela história dos pa- triarcas. Deus revela-se a Abraham; mas o pacto que Ele conclui com ele não inte- ressará a ele só e ao povo hebreu: "Eu próprio trato contigo; tu serás o pai duma multidão de nações. Teu nome não se pronunciará mais Abram: teu nome será Abraham, porque eu te faço pai duma multidão de noções" (Gênesis, XVI, 4-5). Depois da terrivel prova de Abraham, esta promessa é repetida mais claramente ainda: "E todas as nações da terra serão felizes pela tua prosperidade, em recom- pensa de tu teres obedecido à minha voz- (XXII, 18). De facto, Cristãos e Muçulmanos, toda a humanidade civilizada, reclamam Abra- ham, e não sómente os israelitas. Esta promessa de ordem universalista é em seguida renovada a Isaac, depois a Jacob (Gênesis. XXVI, 4; XXVIII, 14). Além disto, viu-se, desde o capítulo XIV, 18-23, Melchisedek, depois Abraham, prestar juramento "diante do Eterno, Deus supremo, autor do céu e da terra". 3.° O Deus de Moisés-Deus revela-se a Moisés no monte Horeb, como o Ser por excelência: Eu existo porque eu existo". Moisés disse a Deus: Eis que eu vou encontrar os filhos de Israel e dizer-lhes: -O Deus de vossos país me enviou para vós: se eles me dizem: Qual é o seu nome? Que lhes direi? Deus respondeu a Moisés: "Eu existo porque existo". E acrescentou: Assim falarás aos filhos de Israel: O Eterno. Deus de vossos país, Deus de Abraham. Deus de Isaac e Deus de Jacob me enviou para vós. Tal é o meu nome para sempre, tal é o meu atributo de geração em geração (Exodo, III, 13-15). Identidade completa, vê-se, entre o Ser por excelência e o nome quadrilátero, que nós exprimimos por este motivo por o Eterno". A universalidade do Deus de Abraham. implicitamente afirmada nas narrações do Gênesis, é pois explicitamente proclamada pelo Exodo. Nada de mais universal que o Ser por excelência, "Aquele pelo qual nós vivemos" segundo a curiosa expressão de Aristóteles. Aqui se impõe uma nota de ordem geral, que esclarecerã com uma viva luz a questão, tão sabiamente obscurecida, do "deus nacional de Israel". É certo que na Torah, Israel mantém o lugar preponderante. O Genesis é pleno da história dos patriarcas, que é a história das origens de Israel. O Exodo é princi- palmente a narração da libertação de Israel. da sua organização religiosa. O Levítico é em grande parte consagrado às prescri- ções do culto público de Israel, os Números às provas de Israel no deserto. O Deute- ronómio só é uma lembrança dos princi- pais ocontecimentos vividos por Israel, das leis que Israel recebeu e uma apurada exortação de ter de seguir estas leis. Assim um leitor superficial poderia, à primeira vista, acreditar que o Pentateuco só se ocupa dum pequeno povo e do deus deste pequeno povo. Mas se se lê atentamente, que se vê? Vê-se que este pequeno povo é o povo
N.º 150, Shevat-Tamuz 5712 (Jan-Jun 1952)
> P02