HA-LAPID 7 ====================================== JUDEUS E CRISTÂOS NOVOS DE ROCHA MARTINS Perguntam-me se prefiro os judeus aos cristãos novos e porquê? Naturalmente, tem-se notado, nos meus artigos, al- guma coisa que revela o meu sentimento ao louvar na raça precita, os seus sen- timentos de perseverança, isto é: os dos que ficam fiéis à sua fé, condenando os outros. Os judeus que não trocam a sua reli- gião pela dos católicos podem ter os defeitos que se atribuem à sua raça, mas os cristãos novos não os perdem só por- que se baptizam. O sangue fala mais alto do que a voz do sacerdote que os tornou católicos. A adesão, a aquiescnência, a submissão a doutrinas antagónicas às das suas tradi- ções, é, acaso, elixir ou panaceia para modificar temperamentos?! Não é Por consequência, em vez de se encontrar um judeu puro, depara-se-nos um judeu falso, com o acréscimo da sua falta de sinceridade ao ensaiar as rezas novas para o seu espirito, O cristão novo inicial é o judeu que teve medo da Inquisição ou modificou a fé por qualquer interesse. O judeu puro é heróico em determina- dos momentos da História; o cristão novo é cobarde, porque se coloca ao lado do vencedor. Aos primeiros, põe-se-lhe o problema: Renega e escapas? Ao segundo aceita-se a abdicação, mas intimamente despreza-se. Há expresssões nos rostos dos cristãos novos que não esperam pelas suas palavras para definirem a sua ancestralidade. Bapti- zaram-nos: puseram-lhe nomes católicos. ensinaram-nos a rezar e então, esses cate- cúmenos são, aparência, pelo menos, mais fervorosos nos seus deveres religiosos do que os cristãos velhos. Estes não carecem mostrar que cumprem; aqueles precisam dar nas vistas. Têm dentro de si alguma coisa que os acusa. Dir-se-ia que receiam sempre o inquisidor. O judeu que conserva as suas crenças, está constantemente na barricada naquelas horas de perseguição e de ataque, da infâ- mia da força. Perece a combater ou a rezar; não renega o seu Deus nem a Fé de seus pais; não troca por uma suposta tranquilidade-não a terá intimamente- -o que representa a sua própria essência. Um é o soldado que sente ser melhor morrer no combate do que acabar cativo. O outroré desertor, o que aclama hoje o que ontem detestava, só porque tem medo ou o interesse o leva a repudiar a sua religião. Porque assim é, podemos considerar o que persiste até à morte honrado e sério, para o efeito da crença e misero de ânimo o que renuncia. Durante as perseguições de que os ju- deus tém sido alvo, através dos tempos são mais numerosos os sacrifícios do que as abdicações; os heroísmos do que as transigéncias; a compreensão da sua lei do que o repúdio do que lhe ensinaram os pais. Para se ter conservado uma religião através dos séculos, sendo perseguida, por vezes, até ao martírio, até ao horror, é necessário que ela seja muito forte e do- minadora. As massas israelitas mantiveram-se mesmo quando se votou o seu extermínio. Elementos de coesão, de força, aceitando o infortúnio, mas não se ajoelhando pe- rante os carrascos, souberam encher de valor e de dignidade as páginas da Histó- ria de Israel. Aos cristãos novos vejo-os de outra maneira inteiramente diferente. Como não se apaga, nem mesmo ao cabo de algumas gerações, a origem dos seres, os renegados que aparecem, às vezes em situações pre- dominantes, traiem, aos que servem, as suas qualidades rácicas com a apostila da hipocrisia. O seu ardor no culto da fé nova a que se jungiram, num dia de medo, os seus progenitores, é um estigma. Acusa a co-
N.º 150, Shevat-Tamuz 5712 (Jan-Jun 1952)
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