HA-LAPID 5 ======================================== ESBOÇO DUMA DOUTRINA JUDAICA por DAVID BERMAN, RABI DA COMUNIDADE DE BRUXELAS (Continuação da número 149) CAPÍTULO VII I - Santiflcação da refeição Se o dia é cercado de santidade pela oração, cada acto importante o é também; o acto mais marcante do dia, depois do levantar, sendo a refeição, esta é cercada de abluções e de orações. Esta concepção tem por fim altear a alimentação afastando o pensamento do homem do prazer exclu- sivo dos sentidos e dirigindo-o para a necessidade de trabalhar para o adquirir e de o assegurar àqueles que não puderam prover-se do necessário apeser dos seus esforços. II - Leis alimentares Querendo-nos ensinar a dominar os nossos apetites, a religião judia não se contenta em santiiicar as refeições, mas ela exige certas abstenções. Como o ape- tite do estômago é dos mais imperiosos, o modo como nós o dominamos prova o poder que nós possuimos-sobre os outros apetites. Também ele habituou os seus adeptos a não consumir tudo o que os tenta, mas a distinguir entre o que pode comer e o que não pode. "Vós observareis a distinção entre os animais puros e os animais impuros, a fim de não tornar as vossas pessoas abomináveis quer pelos ani- mais, quer pelas aves, quer pelos réptis que eu vos ensinei a distinguir como im- puros: vós sereis santos para mim. por que eu sou santo, eu o Eterno..." (Lev. XX, 25, 26). Da mesma maneira que a Lei de Moisés ensina a restringir a sua escolha nos ani- mais destinados a serem comidos, ela proibe a consumação dos animais mortos ou reta- lhados (Lev. XVII, 15; XXII, 8). "Vós sereis para mim homens santos: vós não comereis animal despedaçado nos campos. vós o deixareis aos cães (Ex. XXII, 31)". Em suma, se nós substituimos o termo santo pelo de conveniente, nós reencontra- mos regras sensivelmente análogas na nossa sociedade moderna. Sem procurar ser um santo, no sentido místico deste termo, o homem bem educado de nossos dias não se alimenta nem das mesmas coisas nem da mesma maneira que o rústico e, sem que nenhum código o prescreva, ninguém comeria, hoje, da carne dum animal morto naturalmente ou despedaçado por um outro. Mas, para se chegar a isto, foi preciso séculos de educação, e o mérito das leis alimentares judias é de ter inculcado, há cerca de três mil anos, sentimentos de lim- peza e dignidade que, infelizmente, não são ainda suficientemente generalizadas hoje. Encontra-se ainda bastante comum, no povo, gentes que se não repugnam de comer gato, e até ratos. Estes gostos são de resto diversamente apreciados de um povo para outro. Para um inglés, é uma monstruosidade alimentar-se de crustáceos e ele troça do francês dando-lhe a alcunha de ncomedor de rãs" (M. Froggy). Há atrac- tivos e horrores que variam com as varie- dades de indivíduos e que correspondem a um certo requinte de personalidade. E se não está sempre estabelecido que as leis alimentares da religião judia correspondem a uma estricta higiene, elas provam que os judeus eram já requintados numa época em que o mundo greco-latino era ainda bárbaro sobre esta relação: todo o mundo sabe de que modo libidinoso as refeições se terminavam nuns, e de que modo gros- seiro noutros. Os judeus foram pré-muni- dos contra estas corrupções de costumes graças ao modo como a alimentação é santificada no judaismo.
N.º 150, Shevat-Tamuz 5712 (Jan-Jun 1952)
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