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N.º 150, Shevat-Tamuz 5712 (Jan-Jun 1952)







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               HA-LAPID               5
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      ESBOÇO DUMA DOUTRINA JUDAICA

por DAVID BERMAN, RABI DA COMUNIDADE DE BRUXELAS

     (Continuação da número 149)

             CAPÍTULO VII

I - Santiflcação da refeição

Se o dia é cercado de santidade pela
oração, cada acto importante o é também;
o acto mais marcante do dia, depois do
levantar, sendo a refeição, esta é cercada
de abluções e de orações. Esta concepção
tem por fim altear a alimentação afastando
o pensamento do homem do prazer exclu-
sivo dos sentidos e dirigindo-o para a
necessidade de trabalhar para o adquirir e
de o assegurar àqueles que não puderam
prover-se do necessário apeser dos seus
esforços.

II - Leis alimentares

Querendo-nos ensinar a dominar os
nossos apetites, a religião judia não se
contenta em santiiicar as refeições, mas
ela exige certas abstenções. Como o ape-
tite do estômago é dos mais imperiosos, o
modo como nós o dominamos prova o
poder que nós possuimos-sobre os outros
apetites. Também ele habituou os seus
adeptos a não consumir tudo o que os
tenta, mas a distinguir entre o que pode
comer e o que não pode. "Vós observareis
a distinção entre os animais puros e os
animais impuros, a fim de não tornar as
vossas pessoas abomináveis quer pelos ani-
mais, quer pelas aves, quer pelos réptis
que eu vos ensinei a distinguir como im-
puros: vós sereis santos para mim. por
que eu sou santo, eu o Eterno..." (Lev. XX,
25, 26).

Da mesma maneira que a Lei de Moisés
ensina a restringir a sua escolha nos ani-
mais destinados a serem comidos, ela proibe
a consumação dos animais mortos ou reta-



lhados (Lev. XVII, 15; XXII, 8). "Vós
sereis para mim homens santos: vós não
comereis animal despedaçado nos campos.
vós o deixareis aos cães (Ex. XXII, 31)".

Em suma, se nós substituimos o termo
santo pelo de conveniente, nós reencontra-
mos regras sensivelmente análogas na nossa
sociedade moderna. Sem procurar ser um
santo, no sentido místico deste termo, o
homem bem educado de nossos dias não
se alimenta nem das mesmas coisas nem
da mesma maneira que o rústico e, sem
que nenhum código o prescreva, ninguém
comeria, hoje, da carne dum animal morto
naturalmente ou despedaçado por um outro.
Mas, para se chegar a isto, foi preciso
séculos de educação, e o mérito das leis
alimentares judias é de ter inculcado, há
cerca de três mil anos, sentimentos de lim-
peza e dignidade que, infelizmente, não
são ainda suficientemente generalizadas
hoje. Encontra-se ainda bastante comum,
no povo, gentes que se não repugnam de
comer gato, e até ratos. Estes gostos são
de resto diversamente apreciados de um
povo para outro. Para um inglés, é uma
monstruosidade alimentar-se de crustáceos
e ele troça do francês dando-lhe a alcunha
de ncomedor de rãs" (M. Froggy). Há atrac-
tivos e horrores que variam com as varie-
dades de indivíduos e que correspondem
a um certo requinte de personalidade. E se
não está sempre estabelecido que as leis
alimentares da religião judia correspondem
a uma estricta higiene, elas provam que os
judeus eram já requintados numa época
em que o mundo greco-latino era ainda
bárbaro sobre esta relação: todo o mundo
sabe de que modo libidinoso as refeições
se terminavam nuns, e de que modo gros-
seiro noutros. Os judeus foram pré-muni-
dos contra estas corrupções de costumes
graças ao modo como a alimentação é
santificada no judaismo.


 
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