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Ha-Lapid הלפיד


N.º 153, Shevat-Elul 5715 (Jan-Ago 1955)







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 2           HA-LAPID
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            FUGITIVOS

O pequeno David estava sentado a
um cantinho e olhava, admirado, para
tudo que acontecia naquela noite mis-
teriosa. Lia, a irmã mais velha, tinha
ido acorda-lo e ajudara-o a arranjar-se
rapidamente e obrigara o a vestir roupa
sobre roupa. Ele perguntara para que
era, mas Lia respondera, baixinho, que
se calasse, que não fizesse perguntas,
que fosse obediente, ao menos só na-
quela noite. Porquê?

-Porque é preciso. Vamos todos
sair, vamos para longe... Está muito
frio e a mãe disse que te vestísse toda
a roupa que pudesse...

-Para qué. Lia? Assim, mal posso
mexer-me... E para onde vamos nós,
a esta hora? Eu estava a sonhar que o
pai me tinha dado outro cavalo, aquele
que vimos ontem na montra... Tenho
sono... Para que vieste acordar-me?-
e começou a rabujar e a esfregar os
olhos com as mãozitas fechadas. A irmã
aborreceu-se:

- Cala-te, David! Põe-te direito!
Veste o casaco, vamos! Segura bem as
mangas da camisola, assim, para não
fugirem. Tenho tanta pressa! Meu Deus!
Por que não compreendes tu a nossa
pressa? Anda, vá! Que mau que tu és!
Assim tenho que chamar a mãezinha...
Deixa-me acabar de te vestir... Dou-te
um chocolate amanhã, se estiveres agora
com muito juízo...

Lia estava quase a chorar e as suas
pequenas mãos procuravam, atrapalha-
damente, abotoar todos os botões do
fato do irmão. Depois, vestiu-lhe o
sobretudo, mas já não pôde abotoá-lo
por cima de toda aquela roupa. Deixou o
assim mesmo e disseelhe que atasse os
sapatos e pusesse o boné na cabeça e
desapareceu, a correr.

O pequenito sentou-se a fazer o que
ela lhe dissera, mas dificilmente conse-
guia chegar aos sapatos, porque o sobre-
tudo o apertava imenso.

Como já estava bem desperto, come-
çou a olhar para tudo.



No pequeno vestibulo estavam duas
malas de viagem, ainda abertas mas
completamente cheias, e mais três malas
de mão, também já prontas. .e alguns
embrulhos grandes e outras pequenas
coisas espalhadas pelo chão. Havia uma
enorme desordem por toda a casa. A mãe
andava apressadamente dum lado para
o outro: abria armários, revolvia gave-
tas, desarrumava coisas. Fazia tudo em
silêncio e só, de vez em quando, dava
uma ordem rápida à Lia, que corria a
obedecer-lhe.

Estranhou que a irmã estivesse assim.
tão obediente. A mãe costumava ralhar-
-lhe, também, por ela ser teimosa. Mas
agora, não. Corria daqui para ali, sem
ruído e parecia, até, querer adivinhar as
ordens da mãe e a sua carinha estava
afogueada e os cabelos já lhe caíam para
os olhos

O pai também andava atarefado, no
escritório. Trazia cartas e papéis e quei-
mava-os no fogão. Depois voltava para
o escritório... O menino foi atrás dele
e ficou encostado à porta, a olhar. Re-
parou que o pai, que era sempre tão
alegre, estava muito pálido e com uma
expressão de sofrimento que David nunca
lhe vira. Que teria acontecido? Teve
vontade de ir beijá-lo e perguntar-lhe.
mas ficou onde estava e o pai, quando
passou, à pressa, ia tropeçando nele e
mandou-o ir-se embora e sentar-se sos-
segadinho ao pé das malas:

-Vai, anda, e se estiveres lá quieto.
dou-te amanhã um chocolate. Mas agora
deixa o pai acabar este trabalho, porque
não há tempo a perder!

A sua voz era meiga, mas grave
e o menino sabia que lhe devia obe-
decer.

Estava muito admirado e começou a
sentir medo. Estranhou, até, que todos
lhe prometessem chocolates só para que
ele se conservasse quieto e calado e
aquela agitação, em que os mais velhos
andavam, e aquele silêncio que envolvia
a casa, maior susto lhe causavam. Aquela


 
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