4 HA-LAPID ======================================== muito do Bop e vou já buscá-lo, avózi- nho! Entretanto, a Lia apareceu, já pronta para sair. Trazia os olhos vermelhos e inchados de chorar: - Avó! Peça à mãezinha que me deixe levar, ao menos, as minhas bonecas... -Ó filha, tu não vês que nós não podemos levar tanta coisa? Não vês que a mãe, coitadinha, também deixa aqui tudo quanto tem, a sua casa e todos os objectos que lhe pertencem e que tanto estima? Apenas leva as coisas absolutamente indispensáveis, como roupas e pouco mais! Não vês que o pai também deixa tudo o que era seu e que tanto amava? Até os seus li- vros!... Que desgosto não terá ele de os não poder levar?! Tudo aqui fica, Lia! Tudo! "Ainda bem que a avó já não é viva... Está a dormir o seu sono eterno... É fe- liz... se lá não forem perturba-la... Já és crescidinha, minha filha, tens que com- preender a situação¡ Não apoquentes, mais ainda a tua mãe com essas coisas... A menina calou-se e ficou, de olhos no chão, envergonhada da sua própria fraqueza, mas as lágrimas continuavam a correr, devagarinho... A mãe veio. já-de casaco vestido, e começou a fechar as malas. David voltou, lá de dentro, ajoujado com um enorme cavalo de pasta e uma grande bola de borracha. Pós tudo no chão e foi, a correr buscar o resto das suas coisas. E trouxe três caixas de brinquedos e um monte de livros. Tor- nou a sair e tornou a voltar, agora com o Bop pela coleira. A mãe acabara de fechar as malas e, quando se ergueu, olhou para ele e para os seus brinquedos. O seu rosto estava mortificado: -Santo Deus! Quando é que se aca- bará tudo isto, quando? Para que foste buscar todas essas coisas, David? Vai arrumar tudo outra vez! Depois, a mãe compra-te outros brinquedos iguais... -Prometes, mãezinha? Então, eu só levo o Bop! - Ó filho, mas também não podemos levar o Bop! Ele é muito grande e já não cabe no carro! Não podemos leva-lo... O menino abraçou-se ao pescoço do cao : -Mas eu não quero deixar o Bop! Bop, querido Bop! O dono leva-te, sim, leva›tel O avô aproximou-se docemente e separou os dois amigos. David não protestou, mas começou a soluçar quando viu que ele levava o cão para o jardim. Gritou mais alto: - Bop, Bop !... Avô, Avôzinhol... Os homens maus vão matar o Bop! Não o deixes cá ficar ! - e chorava desesperadamente, com a cabeça escondida no regaço da mãe. O pai entrou para levar as malas. Ia e vinha, silencioso e apressado. Por fim disse: -Vamos! já está tudo arrumado! O avô pegou nos dois embrulhos maiores, a mãe deu os outros mais pe- quenos à Lia e agarrou numa mala e noutros volumes miúdos. Olhou longa- mente para todas as coisas da casa em que sempre tinha vivido e que estava cheio de recordações. Sentiu que o seu coração ali ficava para sempre e as lá- grimas tornaram a correr silenciosas. mudas como a sua própria dor... Depois perguntou, quase tão naturalmente como sempre que saia: -As portas e as janelas estão bem fechadas? -Estão. sim, mãezinha... - respon- deu a menina. -Para qué? - disse o avô -Já não voltamos mais... Ficaram todos um momento, no meio da casa, presos na mesma angústia, esmagados pela mesma tragédia. Foi o avó quem quebrou o silêncio. A sua voz era incerta e a pequena barba branca tremia ligeiramentu-Temos que nos ir embora... Dá cá a mão David, e não chores que ninguém fará mal ao Bop... Foram todos para o automóvel, que os esperava à porta do jardim. O paijá lá estava e já tinha posto o motor a trabalhar. O avô sentou-se no banco de trás e Lia a seu lado. A mãe foi-lhes dando todos os embrulhos que estavam ainda cá fora, no chão. O resto do banco ficou cheio e o avó pegou nos maiores embrulhos e pó-los sobre os joelhos e sentaram David ao colo de
N.º 153, Shevat-Elul 5715 (Jan-Ago 1955)
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