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N.º 153, Shevat-Elul 5715 (Jan-Ago 1955)







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               HA-LAPID              5
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            VÁRIAS NOTAS

O meu velho e querido amigo
dr. Crispiniano da Fonseca, antigo Juiz
de Investigação Criminal, ilustre parla-
mentar em várias legislaturas e actual-
mente um advogado muito distinto em
Marco de Canavezes, escreve-me:

"Nem os anos, nem as duras prova-
çoes da vida lograram ainda embotar
em mim o ingénito espírito de revolta
contra tudo o que representa uma fla-
grante injustiça ou manifesto contra-
senso! Um grupo de portugueses, im-
portante, não pelo número, mas pela
elevada posição de alguns dos seus com-
ponentes, calcando aos pés a tradicional
bondade e tolerância do nosso povo,
julgando-se possivelmente em plena idade
das trevas, alimenta desde há muito ine-
xorável campanha contra os indivíduos
da raça judaica, em geral, qualificando-os
de raça maldita e insultando os com o
epíteto de comunistas e com outros de
igual jaês! Por certo, ainda ninguém
chamou a sua atenção para o caso, senão
Você, dessa prestigiosa e popularíssima
tribuna que é hoje a secção das "Várias
Notas", té-lo-ia já focado. Nenhum inte-
resse moral ou material me liga aos
israelitas, sendo certo que nenhum
conheço pessoalmente; reprovo, porém,
inteiramente aquela atitude, porque, além
de injusta e descabida, a reputo incon-
veniente para as relações de boa paz e
amizade que hoje, neste ponto crucial



da história da Humanidade, mais devem
unir-nos. Ignoram os autores daquela
campanha que muitas das mais gradas
famílias do distrito de Bragança e da
província da Beira Baixa, conhecidas
pelas suas ideias conservadoras, se or-
gulham de ser muito próximos descen-
dentes de judeus?! Ignoram os mesmos
senhores que se ufanam de tradiciona-
listas que o glorioso Príncipe de Boa
Memória, com um enxerto em castiça
cepa judaica, criou uma das mais nobres
famílias portuguesas?!

"Não são esses os visados"-dir-
-se-ão os teimosos e imprudentes detrac-
tores da raça semita! Mas então quais
são? Certamente, não se pretende atin-
gir com tais injúrias meia dúzia de dis-
tintas famílias hebraicas residentes em
Lisboa e Porto, aliás bem conhecidas
também pelas suas excelsas virtudes e
sentimentos conservadores. A campanha
será então contra os chamados judeus
internacionais ? Mas vejámos: é psssivel
coerentemente, por hipótese alcunhar
com intuitos manifestamente pejorati-
vos, de mulato o mestiço residente em
África, sem ferir igualmente o que reside
na Metrópole ? !...

Seria também uma afronta feita aos
sentimentos cristãos do povo portugués
dá-lo como solidário com as selváticas
crueldades praticadas em milhoes de
judeus pelos nacionais-socialistas.
Ninguém também acreditará que este

 

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Lia. Mas ele começou a chorar mais
alto:-Não quero ir ao teu colo! Não
quero! Quero ir com o avózinho!-e
estendia os braços para ele. Deram os
volumes à menina e o avó pegou, ter-
namente, no pequeno David.

A mãe, sempre agarrada à sua mala,
sentou-se no banco da frente, ao lado
do pai e fechou a porta com força. Cho-
rava agora como uma criança...

O carro pôs-se em movimento e o
menino espreitou pela janela:



-Bop ! Bop ! Adeus ! - um latido res-
pondeu-lhe do jardim. Depois do latido
tornou-se num uivo doloroso, como um
grito.

David disse adeus, com a mãozinha
fora da janela, olhando sempre para a
casa que se afastava. Quando deixou de
a ver, encostou a cabeça ao peito do avó
e continuou a chorar baixinho, enquanto
rodavam rapidamente pelas ruas silen-
ciosas e tristes...

                      HANID STELA


 
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