6 HA-LAPID ======================================= mesmo povo lusitano tão cioso na con- servação e alindamento das suas igrejas, se haja regozijado com a profanação e destruição das sinagogas o que tanto divertiu os mesmos nazistas... Há ati- tudes que se não compreendem e eu confesso que esta é para mim uma das mais inexplicáveis! S. Santidade apie- dou-se daqueles desgraçados, oferecen- do-lhes auxilio e protecção: por sua vez, os comunistas, atrás da cortina de ferro, estão agora a procurar extermi- ná-los por todos os meios!... Querer- -se-á entretanto, fazer renascer em Por- tugal a ancestral inveja pelos notáveis talentos e riqueza dos judeus? não sei: não compreendo nada! No último Verão, quando na rua, cavaqueava num grupo de amigos. fomos abordados por uma religiosa, tipo de senhora distinta e inteligente, que nos pediu esmola para qualquer obra de beneficéncia. Dei-lhe o meu óbolo, e, depois, por gracejo, apontando para um dos circuustantes, disse-lhe: "Aquele não peça porque é judeu..." Ah ! sim ! - respondeu prontamente a religiosa-pois deve dar o dobro dos senhores, visto ele ser da raça de Nosso Senhor Jesus Cristo e dos Santos Após- tolos !..." Em conclusão: não atinjo as razões, nem a finalidade de tal campanha! Poderá Voce elucidar-me ?" Como estou na cama com uma ca- mada de ictericia que chega para uma casa de família, podemos conversar pacatamente, visto o meu médico me recomendar o máximo repouso... * * * Também eu, meu caríssimo Crispi- niano, nunca percebi a razão normal desta perseguição. Como V. sabe, hebreus, israelitas, judeus, é tudo uma e a mesma coisa. Mas veja e repare: ao principio, eles eram apenas uma "gente de além do rio", mas logo se salientaram acima de todos os outros povos pela grandeza dos seus Patriarcas. Depois do dilúvio, surge Abraão, e eles orgu- lham-se de ser os "Bné-Israel" os filhos de Israel. Para firmarem melhor a sua hegemonia sobre os povos, criam uma aliança de Deus com Abraão, e logo um neto deste, Jacob, dá a esta raça privi- legiada doze filhos que chefiam mais tarde as 12 tribus de Israel. Veja o sim- bolismo dos números: mais tarde ainda, 12 haviam de ser também os Apóstolos de Jesus. No exílio nasce para o povo de Israel essa figura altíssima de Moisés, o grande condutor do povo Eleito; e aos 40 anos do deserto sináico até à visão a dois passos da Terra Prometida. Em tudo na vida há sempre um Josué que triunfa à sombra do trabalho alheio. Este Josué conquista-a vencendo os amorreus e os cananeus. Erguia-se o reino de Israel com as duas figuras curiosas e interessantes de Saúl e David. Como corucheu do poeta salmista deu- -nos a raça esse maravilhoso Salomão, espécie de D. João V correcto e aumen- tado. Depois, o declínio até ao longo cativeiro e à destruição de Jerusalém. * * * A seguir à tragédia do Calvário, os judeus dispersaram-se pelo mundo, cons- tituiram-se errantes e vagabundos, mas só no século IV- a partir de Constantino, se fizeram contra eles leis de excepção. Depois, vieram os ghettos, as judiarias, as matanças, o ódio. Isto tem necessa- riamente duas explicaçoes: a primeira, quanto a mim, a maldição de milhares de consciências contra o povo deicida. Porque não sei se V. sabe, meu caro Crispiniano, que Cristo não era ràcica- mente o que se podia chamar um judeu integral, pois descendia das primitivas tribus arianas que povoaram a zona marítima da Palestina. Foi esta a razão que levou Pôncio Pilatos ao dístico sangrento mandado afixar na cruz do suplicio de Jesus Nazareno (e não de Nazaré, que nesse tempo não existia) Rei dos judeus. A segunda, a inveja de todo o mundo à privilegiada inteligência dos judeus, à sua união, à sua defesa rácica e à sua fortuna. Esta também se explica: a Igreja proibia a usura. Os judeus tinham sobre eles inúmeras res- trições, menos essa. Porque eram inte-
N.º 153, Shevat-Elul 5715 (Jan-Ago 1955)
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