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N.º 153, Shevat-Elul 5715 (Jan-Ago 1955)







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 6          HA-LAPID
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mesmo povo lusitano tão cioso na con-
servação e alindamento das suas igrejas,
se haja regozijado com a profanação e
destruição das sinagogas o que tanto
divertiu os mesmos nazistas... Há ati-
tudes que se não compreendem e eu
confesso que esta é para mim uma das
mais inexplicáveis! S. Santidade apie-
dou-se daqueles desgraçados, oferecen-
do-lhes auxilio e protecção: por sua
vez, os comunistas, atrás da cortina de
ferro, estão agora a procurar extermi-
ná-los por todos os meios!... Querer-
-se-á entretanto, fazer renascer em Por-
tugal a ancestral inveja pelos notáveis
talentos e riqueza dos judeus? não sei:
não compreendo nada!

No último Verão, quando na rua,
cavaqueava num grupo de amigos. fomos
abordados por uma religiosa, tipo de
senhora distinta e inteligente, que nos
pediu esmola para qualquer obra de
beneficéncia. Dei-lhe o meu óbolo, e,
depois, por gracejo, apontando para um
dos circuustantes, disse-lhe: "Aquele
não peça porque é judeu..."

Ah ! sim ! - respondeu prontamente
a religiosa-pois deve dar o dobro dos
senhores, visto ele ser da raça de Nosso
Senhor Jesus Cristo e dos Santos Após-
tolos !..."

Em conclusão: não atinjo as razões, 
nem a finalidade de tal campanha!  
Poderá Voce elucidar-me ?"

Como estou na cama com uma ca-
mada de ictericia que chega para uma
casa de família, podemos conversar
pacatamente, visto o meu médico me
recomendar o máximo repouso...

              *
            *   *

Também eu, meu caríssimo Crispi-
niano, nunca percebi a razão normal
desta perseguição. Como V. sabe,
hebreus, israelitas, judeus, é tudo uma
e a mesma coisa. Mas veja e repare: ao 
principio, eles eram apenas uma "gente 
de além do rio", mas logo se salientaram
acima de todos os outros povos pela
grandeza dos seus Patriarcas. Depois
do dilúvio, surge Abraão, e eles orgu-
lham-se de ser os "Bné-Israel" os filhos



de Israel. Para firmarem melhor a sua
hegemonia sobre os povos, criam uma
aliança de Deus com Abraão, e logo um
neto deste, Jacob, dá a esta raça privi-
legiada doze filhos que chefiam mais
tarde as 12 tribus de Israel. Veja o sim-
bolismo dos números: mais tarde ainda,
12 haviam de ser também os Apóstolos
de Jesus. No exílio nasce para o povo
de Israel essa figura altíssima de Moisés,
o grande condutor do povo Eleito; e aos
40 anos do deserto sináico até à visão
a dois passos da Terra Prometida. Em
tudo na vida há sempre um Josué que
triunfa à sombra do trabalho alheio.
Este Josué conquista-a vencendo os
amorreus e os cananeus. Erguia-se o
reino de Israel com as duas figuras
curiosas e interessantes de Saúl e David.
Como corucheu do poeta salmista deu-
-nos a raça esse maravilhoso Salomão,
espécie de D. João V correcto e aumen-
tado. Depois, o declínio até ao longo
cativeiro e à destruição de Jerusalém.

              *
            *   *

A seguir à tragédia do Calvário, os
judeus dispersaram-se pelo mundo, cons-
tituiram-se errantes e vagabundos, mas
só no século IV- a partir de Constantino,
se fizeram contra eles leis de excepção.
Depois, vieram os ghettos, as judiarias,
as matanças, o ódio. Isto tem necessa-
riamente duas explicaçoes: a primeira,
quanto a mim, a maldição de milhares
de consciências contra o povo deicida.
Porque não sei se V. sabe, meu caro
Crispiniano, que Cristo não era ràcica-
mente o que se podia chamar um judeu
integral, pois descendia das primitivas
tribus arianas que povoaram a zona
marítima da Palestina. Foi esta a razão
que levou Pôncio Pilatos ao dístico
sangrento mandado afixar na cruz do
suplicio de Jesus Nazareno (e não de
Nazaré, que nesse tempo não existia)
Rei dos judeus. A segunda, a inveja de
todo o mundo à privilegiada inteligência
dos judeus, à sua união, à sua defesa
rácica e à sua fortuna. Esta também se
explica: a Igreja proibia a usura. Os
judeus tinham sobre eles inúmeras res-
trições, menos essa. Porque eram inte-


 
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