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N.º 155, Tishri 5718 (Set 1957)







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FASTOS DOUTROS TEMPOS

                 por ROCHA MARTINS

   Os judeus Vila Real e Disraeli

André Maurois, biógrafo de Benja-
mim Disraeli, que foi o grande ministro
da rainha Vitória, filia a familia judaica
do politico notabilíssimo nos Vila Real.

Em Inglaterra, a Reforma, pela lei-
tura da Biblia, fazia nascer uma curio-
sidade quase simpática. Os puritanos
tomavam nomes hebraícos e buscavam
as tribos perdidas. Em 164, uma petição
para o regresso do povo de Israel foi
apresentada por "lord" Farfaix. Crom-
vell mostrou-se favorável; Carlos II con-
firmou a decisão. Assim se reconstituía.
em Londres, no fim do século XVII,
uma comunidade, pouco numerosa, de
judeus portugueses e espanhóis. Muitas
das suas familias, os Vila Real, os
Medina, os Lara, foram enobrecidos no
tempo dos reis sarracenos e despreza-
vam os judeus polacos e lituanos, que
o levantamento dos cossacos faria ainda
afluir para o Oeste, e recusavam admitir
nas suas sinagogas tão grosseiros per-
sonagens.

Em 1748, esta sociedade judaica de
Londres viu chegar um jovem italiano,
Benjamim Israel, ou de Israeli, que 
-sendo natural do centro de Ferrara, 
tinha ido, primeiro, procurar fortuna
a Veneza mas julgara poder alcança-la,
melhor num país mais novo e próspero.
Foram dificeis os seus principios. Espe-
culou, perdeu; pareceu arruinado, mas
tinha esposado em segundas núpcias,
uma mulher que lhe traria o sangue dos
Vila Real e um dote conveniente. Entrou
no "Stock Exchange" e fez uma bela
fortuna.

Quem eram esses Vila Real, que tanta
importância tinham na comunidade
israelita de Inglaterra, como os Medina
e os Lara? Em 1608, nasceu, em Lisboa,
Manuel Fernandes Vila Real, antepas-
sado daquela familia que se ligaria ao



italiano Disraeli, um século depois. Era
filho de Francisco Fernandes Vila Real
e de sua mulher Violante Dias, ambos
de Vila Real de Trás-os-Montes, onde
também tinham nascido seus avós pater-
nos, Manuel Fernandes e Grácia Garcia
Fanqueiros, na chamada Fancaria de
Cima, levantaram cabeça naquele
comércio até que tomaram os Terços
do piorado do Crato. Manuel Fernandes
Vila Real esteve em Tânger, com o
governador D. Jorge de Mascarenhas,
depois de se ter dedicado ao comércio
que não deixou de fazer com a mou-
rama; voltou às Terças do Crato; pas-
sou a Corrector dos reais de Lisboa;
meteu se em negócios de trigo de que
carregou navios e, sempre ousado e
de bons lances, andou a negociar em
Sevilha, Madrid e Malaga, até 1638, em
que se mudou para a França. Chegou a
Ruão em 1638 e adquiriu um barco que
teve de ser arranjado no que levou até
ao ano seguinte. Entraram como sócios
na empresa os Morais, do Porto: João
Rodrigues e Manuel Fernandes.

Durante o período que esteve no
Havre a tratar do navio, Vila Real
ligou-se muito com o governador Forr
tecuyer, que o recomendou a Richelieu.
O grande ministro recebeu-o, várias
vezes; conversou com ele acerca das
causas de Portugal e em muita consi-
deração o devia ter para lhe dar aquela
importância. A politica do cardeal era
contrária à Espanha dos Austrias, con-
siderados, por ele, maus vizinhos da
França, e entrou em combinações com
o judeu acerca de um possivel levanta-
mento como o da Catalunha.

A notícia da revolução do 1.° de
Dezembro de 1640 produziu o seu
enorme efeito no ânimo do estadista,
dispondo-se a receber os embaixadores


 
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