2 HA-LAPID ======================================== FASTOS DOUTROS TEMPOS por ROCHA MARTINS Os judeus Vila Real e Disraeli André Maurois, biógrafo de Benja- mim Disraeli, que foi o grande ministro da rainha Vitória, filia a familia judaica do politico notabilíssimo nos Vila Real. Em Inglaterra, a Reforma, pela lei- tura da Biblia, fazia nascer uma curio- sidade quase simpática. Os puritanos tomavam nomes hebraícos e buscavam as tribos perdidas. Em 164, uma petição para o regresso do povo de Israel foi apresentada por "lord" Farfaix. Crom- vell mostrou-se favorável; Carlos II con- firmou a decisão. Assim se reconstituía. em Londres, no fim do século XVII, uma comunidade, pouco numerosa, de judeus portugueses e espanhóis. Muitas das suas familias, os Vila Real, os Medina, os Lara, foram enobrecidos no tempo dos reis sarracenos e despreza- vam os judeus polacos e lituanos, que o levantamento dos cossacos faria ainda afluir para o Oeste, e recusavam admitir nas suas sinagogas tão grosseiros per- sonagens. Em 1748, esta sociedade judaica de Londres viu chegar um jovem italiano, Benjamim Israel, ou de Israeli, que -sendo natural do centro de Ferrara, tinha ido, primeiro, procurar fortuna a Veneza mas julgara poder alcança-la, melhor num país mais novo e próspero. Foram dificeis os seus principios. Espe- culou, perdeu; pareceu arruinado, mas tinha esposado em segundas núpcias, uma mulher que lhe traria o sangue dos Vila Real e um dote conveniente. Entrou no "Stock Exchange" e fez uma bela fortuna. Quem eram esses Vila Real, que tanta importância tinham na comunidade israelita de Inglaterra, como os Medina e os Lara? Em 1608, nasceu, em Lisboa, Manuel Fernandes Vila Real, antepas- sado daquela familia que se ligaria ao italiano Disraeli, um século depois. Era filho de Francisco Fernandes Vila Real e de sua mulher Violante Dias, ambos de Vila Real de Trás-os-Montes, onde também tinham nascido seus avós pater- nos, Manuel Fernandes e Grácia Garcia Fanqueiros, na chamada Fancaria de Cima, levantaram cabeça naquele comércio até que tomaram os Terços do piorado do Crato. Manuel Fernandes Vila Real esteve em Tânger, com o governador D. Jorge de Mascarenhas, depois de se ter dedicado ao comércio que não deixou de fazer com a mou- rama; voltou às Terças do Crato; pas- sou a Corrector dos reais de Lisboa; meteu se em negócios de trigo de que carregou navios e, sempre ousado e de bons lances, andou a negociar em Sevilha, Madrid e Malaga, até 1638, em que se mudou para a França. Chegou a Ruão em 1638 e adquiriu um barco que teve de ser arranjado no que levou até ao ano seguinte. Entraram como sócios na empresa os Morais, do Porto: João Rodrigues e Manuel Fernandes. Durante o período que esteve no Havre a tratar do navio, Vila Real ligou-se muito com o governador Forr tecuyer, que o recomendou a Richelieu. O grande ministro recebeu-o, várias vezes; conversou com ele acerca das causas de Portugal e em muita consi- deração o devia ter para lhe dar aquela importância. A politica do cardeal era contrária à Espanha dos Austrias, con- siderados, por ele, maus vizinhos da França, e entrou em combinações com o judeu acerca de um possivel levanta- mento como o da Catalunha. A notícia da revolução do 1.° de Dezembro de 1640 produziu o seu enorme efeito no ânimo do estadista, dispondo-se a receber os embaixadores
N.º 155, Tishri 5718 (Set 1957)
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