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N.º 155, Tishri 5718 (Set 1957)







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 4           HA-LAPID
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GRANDEZAS E MISÉRIAS DE ISRAEL

        por HANID ESTELA

Agora que se tem falado tanto de
Gaza, do golfo de Akaba e do pequeno
Estado democrático que, no fervilhante
e atrasado Médio Oriente, pretende pro-
gredir, sobreviver e ser livre, como qual-
quer outra nação civilizada, ainda que
para isso tenha que pegar novamente
em armas e lutar até à morte do seu
último soldado, achamos oportuno lem-
brar o que tem sido o drama desse povo
invencível, que tem sofrido todas as
provas, desde a calúnia à fogueira, desde
o insulto ao forno crematório, nos mais
sangrentos e variados pogromos, na
maior tragédia humana de que reza a
História.

"Se no sofrimento há fileiras. Israel
tem a precedência sobre as nações. Se
a duração dos sofrimentos e a paciência
com que são suportados enobrecem, os
Judeus podem desafiar a aristocracia de
todos os países". Estas palavras, de
Leopold Zunz, que se referiam ao mar-
tírio dos judeus da Dispersão, após a
queda de Jerusalém, no ano 70 da era
cristã, continuam a poder aplicar-se ao
heróico punhado de homens, sobrevi-
ventes da hecatornbe nazi, que procuram
denodadamente triunfar e vencer a injus-
tiça e a hostilidade dos povos que os
cercam e que não querem ainda reco-
nhecer-lhes o sagrado direito de exis-
tencia.

A formação do Estado de Israel, cuja
independência foi proclamada em 15 de
Maio de 1948, é um acontecimento assom-
broso, o facto mais admirável da nossa
época.

Como se explica que um povo dis-
perso por todo o mundo, sem um palmo
de terra seu, errando de pais para país,
perseguido, incompreendido e, muitas
vezes, bàrbaramente torturado, conse-
guisse manter tão grande união, tão
sublime sentido de nacionalidade? Como
é que uma nação destruída há dois mil
anos, volta a ressurgir com todo o vigor,
na mais perfeita coesão, apesar dos seus



filhos terem regressado dos quatro cantos
da Terra, trazendo consigo as mais dife-
rentes civilizações, os elementos mais
diversos ?

Todavia, é possível compreender como
o povo hebreu manteve durante tantos
séculos tão profundo amor à Pátria, se
pegarmos na Bíblia e a lermos com aten-
ção. Abrindo-a, ao acaso, encontramos
estas palavras no cap. 30-3 do Deutero-
nómío: "O Senhor teu Deus te fará
voltar do teu cativeiro e se compadecerá
de ti e te reunirá de novo, tirando te do
meio de todos os povos para onde antes
te havia espalhado. Ainda que tenhas
sido lançado para os polos do céu, daí
te tirará o Senhor teu Deus e te trará à
terra que teus pais possuiram e a pos-
suirás e abençoando-te te multiplicará
mais do que a teus pais".

Foi esta esperança no regresso à Terra
Prometida por Deus a Abraão, a Isaac,
a Jacob e a todos os seus descendentes,
que fez com que o povo de Israel se con-
servasse unido, século após século, espe-
rando pacientemente e lendo e relendo
a sua Bíblia que, pelos factos históricos
que narra e pelas constantes evocações
das paisagens da Palestina, dos seus
lugares sagrados, dos seus Patriarcas,
dos seus Reis e dos seus Profetas, passou
a ser, para os Judeus, a própria Pátria
perdida.

E tão viva era a imagem dessa Pátria,
tão grande a saudade que a sua lem-
brança provocava, em cada página bí-
blica, que por mais terríveis que fossem
os sofrimentos e as perseguições, por
mais infeliz que se sentisse, esse povo
errante e mártir jamais aceitaria outra
terra, que não fosse a Terra Prometida.

Por esse motivo recusou a oferta do
território de Uganda, feita pela Grã-Bre-
tanha em 1903, e preferiu continuar sem
pátria, até que lhe fosse permitido re-
cuperar a Palestina.

Muita gente pensou que essa recusa
fora um erro. Para um povo torturado


 
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