4 HA-LAPID ======================================= GRANDEZAS E MISÉRIAS DE ISRAEL por HANID ESTELA Agora que se tem falado tanto de Gaza, do golfo de Akaba e do pequeno Estado democrático que, no fervilhante e atrasado Médio Oriente, pretende pro- gredir, sobreviver e ser livre, como qual- quer outra nação civilizada, ainda que para isso tenha que pegar novamente em armas e lutar até à morte do seu último soldado, achamos oportuno lem- brar o que tem sido o drama desse povo invencível, que tem sofrido todas as provas, desde a calúnia à fogueira, desde o insulto ao forno crematório, nos mais sangrentos e variados pogromos, na maior tragédia humana de que reza a História. "Se no sofrimento há fileiras. Israel tem a precedência sobre as nações. Se a duração dos sofrimentos e a paciência com que são suportados enobrecem, os Judeus podem desafiar a aristocracia de todos os países". Estas palavras, de Leopold Zunz, que se referiam ao mar- tírio dos judeus da Dispersão, após a queda de Jerusalém, no ano 70 da era cristã, continuam a poder aplicar-se ao heróico punhado de homens, sobrevi- ventes da hecatornbe nazi, que procuram denodadamente triunfar e vencer a injus- tiça e a hostilidade dos povos que os cercam e que não querem ainda reco- nhecer-lhes o sagrado direito de exis- tencia. A formação do Estado de Israel, cuja independência foi proclamada em 15 de Maio de 1948, é um acontecimento assom- broso, o facto mais admirável da nossa época. Como se explica que um povo dis- perso por todo o mundo, sem um palmo de terra seu, errando de pais para país, perseguido, incompreendido e, muitas vezes, bàrbaramente torturado, conse- guisse manter tão grande união, tão sublime sentido de nacionalidade? Como é que uma nação destruída há dois mil anos, volta a ressurgir com todo o vigor, na mais perfeita coesão, apesar dos seus filhos terem regressado dos quatro cantos da Terra, trazendo consigo as mais dife- rentes civilizações, os elementos mais diversos ? Todavia, é possível compreender como o povo hebreu manteve durante tantos séculos tão profundo amor à Pátria, se pegarmos na Bíblia e a lermos com aten- ção. Abrindo-a, ao acaso, encontramos estas palavras no cap. 30-3 do Deutero- nómío: "O Senhor teu Deus te fará voltar do teu cativeiro e se compadecerá de ti e te reunirá de novo, tirando te do meio de todos os povos para onde antes te havia espalhado. Ainda que tenhas sido lançado para os polos do céu, daí te tirará o Senhor teu Deus e te trará à terra que teus pais possuiram e a pos- suirás e abençoando-te te multiplicará mais do que a teus pais". Foi esta esperança no regresso à Terra Prometida por Deus a Abraão, a Isaac, a Jacob e a todos os seus descendentes, que fez com que o povo de Israel se con- servasse unido, século após século, espe- rando pacientemente e lendo e relendo a sua Bíblia que, pelos factos históricos que narra e pelas constantes evocações das paisagens da Palestina, dos seus lugares sagrados, dos seus Patriarcas, dos seus Reis e dos seus Profetas, passou a ser, para os Judeus, a própria Pátria perdida. E tão viva era a imagem dessa Pátria, tão grande a saudade que a sua lem- brança provocava, em cada página bí- blica, que por mais terríveis que fossem os sofrimentos e as perseguições, por mais infeliz que se sentisse, esse povo errante e mártir jamais aceitaria outra terra, que não fosse a Terra Prometida. Por esse motivo recusou a oferta do território de Uganda, feita pela Grã-Bre- tanha em 1903, e preferiu continuar sem pátria, até que lhe fosse permitido re- cuperar a Palestina. Muita gente pensou que essa recusa fora um erro. Para um povo torturado
N.º 155, Tishri 5718 (Set 1957)
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