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N.º 155, Tishri 5718 (Set 1957)







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 6            HA-LAPID
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        BENJAMIM, O MARANO

...Benjamim dava-lhe conselhos,
mas não insistia muito. Tinha pena dele
e, no fundo, quase lamentava nunca ter
podido ser assim, nunca ter possuído
aquela alegria vibrante, aquele desejo
doido de viver o momento presente,
sem pensar no futuro, nem no passado
e sem se atormentar com coisa alguma.

Mesmo em casa do pai, nunca tinha
sido assim, tão despreocupadamente
feliz. Era vivo, era alegre, mas bem cedo
começara também a conhecer a tristeza
e a amargura. A educação fora bem a
dor alheia...

Desde menino que ouvira a história
triste do seu povo e que lhe povoavam
os sonhos infantis os fantasmas horri-
veis dos "ghetos" das perseguições
injustas, de toda a tragédia do Israel
sem pátria, errando pelo mundo sempre
com os olhos fitos na Terra Prometida. na
"terra de Leite e Mel", caída sob o jugo
estrangeiro, atrasada, destruída e pilhada.

Apesar de português ferrenho, de
açoreano dedicado e sincero, eterna-
mente saudoso da sua ilha e da sua
casa, havia no coração de Benjamim
um outro amor ainda, um outro sonho,
uma outra saudade lendária, envolta 
numa bruma de tradição e mistério: a
Palestina.



Esse amor em nada prejudicava o
amor pátrio. Era totalmente diferente.

Benjamim amava os Açores, porque
via a sua terra. Ali tinha nascido, ali
tinha vivido, ali estava o seu lar, a sua
família. Portugal era a sua pátria ado-
rada e querida e a sua ilha um torrãosi-
nho dessa Pátria.

Quando pensava na Palestina não
sentia o mesmo que quando pensava
nos Açores. Não, seria tão difícil expli-
car o que sentia, se tivesse que explicar!

Esse pais perdido e distante, era um
sonho. Era a Terra Sagrada onde Deus
dera a Lei a Moisés, onde se erguera o
Templo, onde tinham vivido os seus
antepassados. A Palestina era a própria
Biblia, a Terra de Israel, a Terra Pro-
metida.

Se lhe perguntassem: - Queres ir
viver para lá?

Ele diria: -Não! Eu não deixaria a
minha terra pela Palestina!

Todavia, se lhe dissessem: -Tu serias
capaz de dar a tua vida para que a
Palestina fosse libertada e novamente
entregue a Israel?

Benjamim não hesitaria e responde-
ria imediatamente que sim.

Não desejava a antiga pátria perdida
para si, porque era portugués e tinha



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dos "pogromos", os traços da fome e
da desventura, tatuagens que jamais
desaparecem".

Apesar de nascido e criado em Por-
tugal, sua Pátria adorada e querida, o
coração sensível e generoso do Dr. Au-
gusto d'Esaguy não podia ficar indi-
ferente perante o sofrimento do seu
povo.

Voluntàriamente o ilustre escritor
conheceu e conviveu de perto com cen-
tenas de refugiados polacos, romenos,
húngaros, com toda "essa massa hetero-
génea" que, fugindo ao terror nazi, aqui
passou por Lisboa "a caminho de outras
terras, possuindo como único bem, o
bilhete de passagem cedido por uma
Associação de caridade". Sentiu-lhes o




drama, ouviu-lhes as queixas e enxugou-
-lhes as lágrimas, ajudando-os, incansa-
velmente, em tudo quanto pode.

Talvez por isso, nestas páginas vi-
brantes, nós encontramos a cada passo
a mágoa, a dor e a revolta por todas as
injustiças cometidas.

Em "Europa 39" e "Inglaterra 40" o
Dr. Augusto d'Esaguy continua a fazer
passar diante dos nossos olhos, com um
realismo admirável, a trágica odisseia
dos judeus que, nos paises invadidos
pela Alemanha, foram sendo sistemati-
camente massacrados, espoliados, fuzila-
dos sem julgamento ou condenados aos
maiores horrores nos campos de con-
centração nazis.

                         (Continua).


 
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